+351 217 788 474

Login

Sign Up

After creating an account, you'll be able to track your payment status, track the confirmation.
Username*
Password*
Confirm Password*
First Name*
Last Name*
Email*
Phone*
Contact Address
Country*
* Creating an account means you're okay with our Terms of Service and Privacy Statement.
Please agree to all the terms and conditions before proceeding to the next step

Already a member?

Login

BALANÇO AMBIENTAL 2020 – Castelo Branco

[-] Violações POASAP, Agricultura superintensiva, Central de Biomassa do Fundão, Construção do IC31, Almaraz e Poluição dos Rios

[+] Espécies em perigo Recuperam,Aumento da Procura de Produtos Locais, Biológicos e no Turismo Rural e de Natureza

O ano de 2020 foi marcado pela crise pandêmica. Apesar do desafio que uma situação deste tipo representa para a sociedade, num contexto da necessária alteração de comportamentos em prol de uma maior sustentabilidade ambiental, infelizmente, essa mensagem não tem passado de forma eficaz para opinião pública e para os decisores em particular.

A crise que atravessamos actualmente, para além de ter como consequência a diminuição do bem-estar da maior parte da população, tem acabado também por desviar a atenção da opinião pública dos graves problemas ambientais que continuamos a viver, tanto a nível local, como global. Seguindo uma lógica centrada no curto prazo, e muitas vezes sob pressão dos organismos internacionais que condicionam as nossas políticas, tem-se vindo a assistir, também no plano ambiental, a várias decisões pautadas por objetivos imediatistas, ao invés de privilegiar ações com implicações positivas a médio e longo prazo.

Como tem acontecido em anos anteriores, a Quercus Castelo Branco faz um balanço ambiental relativo ao ano de 2020, selecionando os melhores e os piores factos a nível regional, e apresentando algumas perspectivas para o ano de 2021.

A pandemia que vivemos é uma antevisão dos desafios que o futuro nos reserva. A crise climática é tão grave e premente quanto a crise sanitária que vivemos atualmente, embora muitos não estejam cientes disso. Para controlar e reverter este cenário são necessárias alterações profundas aos comportamentos e hábitos de todos.

Os piores factos ambientais de 2020

Violações ao POASAP

As violações ao POASAP (Plano de ordenamento da albufeira de Santa Águeda e Pisco) persistiram e intensificaram-se, no terreno um conjunto de obras e atividades continuam a decorrer ilegalmente junto da Albufeira de Santa Águeda na área de proteção, nomeadamente construções ilegais, mobilização de solos, destruição de carvalhais e vegetação natural, visitação desordenada, aplicação de pesticidas, entre outras. A presença regular de peixes mortos e as alterações significativas das características de cor e cheiro da água indiciam contaminação e eutrofização da albufeira. Apesar dos constantes alertas e denuncias da plataforma de defesa da albufeira terreno o crime compensa.

Agricultura superintensiva (amendoais e olivais) destroem habitats

São vários os problemas ambientais que têm vindo a ser relatados devido à instalação destas monoculturas superintensivas principalmente nos concelhos de Idanha-a-Nova e Fundão e que tem a ver com a contaminação do ar, dos solos e da água, diminuição de biodiversidade, nomeadamente com a destruição de montados e habitats naturais, áreas de REN e RAN, com evidente degradação dos solos, entre outros, sobretudo derivados às práticas utilizadas e aos produtos agrotóxicos usados regularmente nos tratamentos.

Central de Biomassa do Fundão

A Quercus tem acompanhado com atenção e elevada preocupação o impacte ambiental que a nova Central de Biomassa do Fundão (CBF) tem provocado na região, principalmente junto das habitações da população residente mais próxima desta unidade industrial.

Os elevados níveis de ruído e a libertação de poeiras provenientes da trituração da madeira continuam no dia a dia, inclusive durante o período nocturno. A Quercus também confirmou no terreno que a CBF está a queimar, na totalidade ou praticamente na totalidade, madeira de qualidade, não utilizando, como seria desejável e está contratualizado, biomassa residual. Apesar de ter sido notificada a central as ilegalidades mantem-se no terreno com claro prejuízo para o ambiente e as populações residentes.

Construção do IC31

A intenção do governo de construir o IC31 em perfil de auto estrada numa região com elevado património natural e cultural (concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova), poe em causa o modelo de desenvolvimento sustentável e terá um impacto ambiental e social negativo muito significativo, nomeadamente ao fragmentar e destruir habitats, provocar mortalidade de fauna, aumentar o ruido e poluição, vai por em causa investimentos no turismo de natureza , degradar a paisagem e a qualidade de vida das populações, entre outros.

Almaraz em funcionamento até 2028

No passado mês de Abril, o Conselho de Segurança Nuclear (CSN) espanhol emitiu um parecer em que autoriza o prolongamento do funcionamento da Central Nuclear de Almaraz, em Espanha, até outubro de 2028. A Central Nuclear de Almaraz fica situada junto ao rio Tejo, na província de Cáceres, em Espanha, a cerca de 100 km da fronteira com Portugal e tem tido incidentes com regularidade, onde se incluem as duas paragens recentes dos reatores devido a avarias detetadas e existindo mesmo situações em que já foram medidos níveis de radioatividade superiores ao permitido. Portugal pode vir a ser afetado, caso ocorra um acidente grave, quer por contaminação das águas, uma vez que a central se situa numa albufeira afluente do rio Tejo, quer por contaminação atmosférica, pela grande proximidade geográfica existente. Para além disto, Portugal não revela estar minimamente preparado para lidar com um cenário deste tipo, pelo que a acontecer um acidente grave, isso traria certamente sérios impactes imediatos para toda a zona fronteiriça, em especial para os distritos de Castelo Branco e Portalegre.

Poluição nos Rios e plantas invasoras

São vários os Rios e cursos de agua da região que continuam com problemas de poluição, por funcionamento deficitário de ETARS, por descargas de efluentes sem tratamento, por poluição difusa da agricultura intensiva. Os Rios Tejo, Ponsul e Aravil, a Ribeira de Alpreade, são apenas alguns exemplos. Em 2020 aumentou a regularidade e a intensidade destes fenómenos, contribuindo ainda mais para a degradação da qualidade de água dos Rios na região. O aumento da concentração de nutrientes provenientes da poluição deve-se em parte aos teores elevados em fósforo, um dos parâmetros que foi responsável pelo estado ecológico inferior a Bom, no troço do rio Ponsul, entre a Senhora da Graça (junto a Idanha-a-Nova) e a albufeira de Cedillo (Espanha) e que tem origem nos setores urbano, agrícola e pecuário. Este tipo de “bloom de algas”, está normalmente associado a um feto aquático a Azola (Azolla filiculoides), uma espécie de planta aquática exótica invasora, que prolifera quando as massas de água se encontram estagnadas e poluídas por fosfatos e nitratos, formando tapetes densos de vegetação à superfície. Estes fenómenos provocam uma diminuição da entrada de luz nas massas de água e fazem baixar o nível de oxigénio dissolvido na água, degradando ainda mais a sua qualidade. Este tipo de fenómenos são indicadores de desequilíbrios nos ecossistemas e são uma consequência da poluição, levando assim à eutrofização dos rios e provocando uma acentuada degradação da qualidade das massas de água

Os melhores factos ambientais de 2020

Espécies em perigo Recuperam

O abutre-preto (Aegypius monachus), classificado como Criticamente em Perigo em Portugal, é uma espécie que tem o seu principal núcleo reprodutor no Parque Natural do Tejo Internacional. é um dos três núcleos reprodutores da maior ave de rapina da Europa em Portugal, juntamente com o Baixo Alentejo e o Douro Internacional, mas durante 40 anos não nasceram crias de abutre-preto no país, desde a década de 70. Criticamente Em Perigo e confinado a três núcleos reprodutores em Portugal, o abutre-preto continua a dar provas do seu regresso. Este ano no Tejo Internacional nasceram, e sobreviveram, 17 crias.

Nesta época reprodutora foram confirmados 24 casais na área do Tejo Internacional, dos quais 23 reprodutores. A Aguia imperial Ibérica (Aquila Adalberti) uma das aves de rapina mais ameaçadas da Europa, aumentou a sua população reprodutora em Portugal para 24 casais, na Beira Baixa e no Alentejo.

Aumento da procura de produtos locais, biológicos e no turismo rural e de Natureza

O pânico gerado pela COVID-19 veio expor as fragilidades do sistema de produção e comercialização de alimentos, baseado nos chamados circuitos longos agroalimentares e, em contrapartida, e conduziu a um aumento dos circuitos curtos agroalimentares, como os mercados locais ou da encomenda de cabazes entregues ao domicílio, que causou alguns constrangimento deste setor para responder a este súbito aumento da procura. Qualquer produção exige planeamento, e mais ainda a produção agrícola pois está condicionada aos ciclos naturais! Uma relação duradoura de aproximação entre produtores e consumidores é necessária para que os produtores locais não fiquem numa situação vulnerável pelo excesso de produção que poderão ter dificuldade em escoar. As restrições às deslocações e a fuga ao turismo massificado levou à descoberta por muitos portugueses das regiões do interior e da oferta de turismo rural e de natureza, sendo este um setor com grandes potencialidades ainda por explorar, e uma resposta social e económica. Contudo, terá de ser incentivada a vertente mais ecológica para salvaguarda dos valores de atração turística.

Perspectivas para 2021

Esperamos que no próximo ano as espécies em perigo mantenham a tendência de recuperação, que a diretiva comunitária da água seja efetivamente aplicada na região para a defesa dos recursos hídricos, que as autoridades façam cumprir o plano de ordenamento da Albufeira de Santa Águeda, que o governo mude a intenção de construir o IC31 e invista na economia real regional, que os portugueses reforcem os hábitos sustentáveis de procura na economia local e circular.

Castelo Branco , 29 de Dezembro de 2020

A Direção Regional de Castelo Branco da Quercus- Associação Nacional de Conservação da Natureza