A proposta de prolongamento do uso do glifosato não foi aprovada. Enquanto a Monsanto prepara investimentos noutro herbicida talvez pior, a Quercus e outras organizações demonstram que existem alternativas sustentáveis para os espaços urbanos e para a agricultura
O Comité Permanente de Plantas, Animais, Alimentos e Rações da UE reuniu, na manhã de ontem, para discutir a aprovação do prolongamento da licença para o uso de glifosato. Após terem sido ouvidos os representantes dos 28 Estados-membros da União Europeia, a proposta da Comissão Europeia que previa o prolongamento do uso de glifosato na agricultura por mais cinco anos foi submetida a uma votação, não tendo havido uma maioria qualificada. A proposta será remetida para um comité de recurso, no final do mês, uma vez que a licença expira no dia 15 de dezembro. No entanto, no dia 8, o Comissário Junker disse que, se os Estados Membros não conseguirem uma maioria qualificada para chegar a acordo sobre uma proposta específica, a Comissão terá que adotar a resolução parlamentar para a eliminação progressiva, levando a uma proibição em 2022.
Portugal – o país europeu onde mais se usa glifosato
Segundo um estudo internacional recente, publicado na revista académica “Science of the Total Environment” (1), 45% da parte superior dos solos da Europa contém resíduos de glifosato, demonstrando a excessiva dependência do modelo agrícola da UE sobre este químico herbicida prejudicial. A Dinamarca, o Reino Unido e Portugal são os piores neste espectro, com a maior frequência de detecção, enquanto a Itália e a Grécia parecem ser as que usam menos glifosato nas suas culturas. Todas as culturas testadas apresentaram resíduos de glifosato e AMPA (o metabolito mais tóxico do glifosato). 53% das amostras de solo portuguesas continham este herbicida, colocando o nosso país no topo destacado dos mais contaminados da Europa em glifosato, sendo que a cultura da vinha é a que apresenta piores resultados.
A contaminação por glifosato constitui um grave problema ambiental e de saúde pública, sendo que o glifosato está classificado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como provável causador de cancro nos humanos.
Alternativas ao glifosato: Quercus colabora na produção de um filme a nível europeu
A Quercus e outras ONG europeias colaboraram recentemente na produção de um filme pela Pesticides Action Network-Europe (da qual a Quercus é membro). O filme intitula-se “A herbicide-free future. Considering solutions across Europe” e é protagonizado pelos próprios agricultores, provenientes de explorações de diversas dimensões e culturas agrícolas, os quais explicam o que fazem na prática.
Glifosato e herbicidas químicos na agricultura: existem alternativas amigas do ambiente e da saúde
No passado mês de outubro, a Pesticides Action Network preparou o relatório “Métodos alternativos ao uso de glifosato e outros herbicidas na gestão de ervas infestantes”, que demonstra que é possível o uso de alternativas na agricultura.
No entanto, como a Quercus referiu recentemente à Euronews “uma mudança vai exigir um esforço financeiro, dado que as alternativas exigem investimento, sobretudo em formação.”
De salientar que, no contexto da formação, a Quercus tem feito um grande esforço, à sua escala, quer na organização de seminários e outros encontros, sobre alternativas aos herbicidas em meio urbano, mas também sobre boas práticas na agricultura, nomeadamente pelo projeto Parceria Europeia para a Proteção da Biodiversidade em Viticultura, financiado pelo programa Erasmus+, e que agrega ONG e organizações empresariais. Neste contexto encontra-se a produzir vídeos curtos protagonizados pelos técnicos e agricultores de várias empresas.
Herbicida dicamba – Pior a emenda que o soneto?
No entretanto, a Monsanto já deve ter entendido há bastante tempo que os dias do glifosato estarão prestes a terminar e pelo menos desde 2015 que se prepara com grandes investimentos na produção de outro herbicida, o dicamba. A Revista “Courrier Internacional” de novembro menciona o artigo do Washington Post “Dicamba, ainda pior que o glifosato”, que dá conta dos perigos desse herbicida, enquanto a organização GM Watch refere que ocorreram “problemas sérios de danos causados pelas culturas pelo espalhamento e volatilização de dicamba em 2017 em todo o Sudeste e Centro-Oeste dos EUA, impactando muitos milhões de acres” (1 acre = 0.405 hectare). O dicamba está homologado na UE desde 2009 e com autorização até 2018. Em Portugal há uma série de produtos formulados com essa substância ativa, simples ou mistos.
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(1) Estudo sobre distribuição do glifosato em solos europeus:
Violette Geissen (Wageningen University), Jones A, Fernández-Ugalde O, Mol HGJ, Ritsema CJ. 2017. Distribution of glyphosate and aminomethylphosphonic acid (AMPA) in agricultural topsoils of the European Union. Sci Total Enironm. XXX
Resumo sobre o estudo acima referido (em comunicado de imprensa da PAN-Europe):
http://www.pan-europe.info/press-releases/2017/10/press-release-new-study-glyphosate-persists-and-european-top-soils-are
Relatório Alternative Methods in Weed Management to the Use of Glyphosate and Other Herbicides
https://www.greens-efa.eu/files/doc/docs/ab61fee42c3217963d3a43bd1c4b1e09.pdf
Filme: A herbicide-free future. Considering solutions across Europe
https://www.youtube.com/watch?v=dGIXMMagP3g
Notícia da Reuters “Monsanto to invest more than $1 bln in dicamba herbicide production”
https://finance.yahoo.com/news/monsanto-invest-more-1-bln-203825246.html
Artigo do GM Watch “Dicamba herbicide drift: A disaster in 2017, will be much worse in 2018”
http://www.gmwatch.org/en/news/latest-news/17925-dicamba-herbicide-drift-a-disaster-in-2017-will-be-much-worse-in-2018
Comunicado da Plataforma Transgénicos Fora (antes da votação de 8/11)
https://www.stopogm.net/portugal-vota-esta-semana-destino-do-herbicida-glifosato