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Dia Internacional da Reciclagem – A emergência do Lixo

Sem medidas urgentes, os resíduos globais aumentarão 70% nos níveis atuais até 2050

Consumimos cada vez mais recursos e materiais e produzidos mais lixo. A atual situação pandémica veio a contribuir para um aumento destes números e se continuamos neste ritmo o futuro pode ser dramático – vivemos um momento da “Emergência do Lixo”!

Planeamento é urgente, antecipar cenários e estimular novas estratégias para motivar os portugueses a separar mais e melhor devia ser o mote nesta área.

A política dos 3R’s ainda não é uma realidade e todas as outras políticas que vão aparecendo – 5R’s, 7R’s 9 R’s são puro romantismo. Se continuamos neste ritmo de consumir e deitar fora, onde os principais destinos dos resíduos em Portugal são a deposição ou a incineração, as metas vão continuar a não ser cumpridas, em breve esgotamos os aterros e estaremos cada vez mais preocupados a fazer contas para controlar as emissões de GEE (Gases com Efeitos de Estufa) provenientes da deposição ou queima do lixo.

 

Figura 1 – Caracterização dos Resíduos Urbanos em Portugal

 

Por ano, estima-se ser necessária uma área de aterro equivalente a cerca de 10 campos de futebol para encaminhar todos os resíduos à quantidade que são depositados atualmente. Portugal dispõe atualmente de 33 aterros. Estes têm de momento uma capacidade de 7 anos3.

A meta europeia adotada por Portugal previa uma redução em 10% na produção até 2020 e o que conseguimos foi perto de nada. Talvez o cenário não tenha sido pior porque atravessámos uma crise económica em 2011 que levou à redução da produção do lixo durante os anos que se seguiram.

Para além desta, a metas de reciclagem não foram, na sua generalidade, cumpridas e a acumulação de resíduos urbanos em aterro é muito elevada, representando cerca de 57% do total de lixo produzido. Uma grande parte dos RU são compostos por resíduos orgânicos. O desvio de orgânicos dos aterros para posterior valorização tem sido um investimento através dos sistemas de tratamento mecânico e biológico para onde são atualmente encaminhados cerca de 38% dos resíduos recolhidos. Mas apenas 13% são efetivamente valorizados, sendo o restante encaminhado para aterro.

 

Figura 2 – Destino Final dos Resíduos Urbanos em Portugal

O erro começa logo quando começamos a comparar-nos com outras regiões ou países e realidades completamente diferentes das nossas. No entanto, como podemos abrir caminho sem pormos os dados em cima da mesa?

O Mundo gera anualmente 2,01 mil milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Os resíduos gerados por pessoa têm hoje uma média de 0,74kg em tendência crescente, mas as diferenças entre as regiões do mundo são grandes. Em Portugal gerámos, em 2019, cerca de 1,4kg de resíduos por pessoa por dia1, ligeiramente acima da média europeia. Pior que a Europa neste ranking só a América do Norte com uma produção de mais de 2kg em média por pessoa2.

 

Figura 3 – Produção de Resíduos Urbanos na Europa e no Mundo

Embora a Europa se tenha comprometido com a redução da produção de resíduos, as projeções apontam para uma tendência crescente em todo o Mundo. As metas europeias são cada vez mais exigentes e Portugal já se comprometeu com a implementação de novos sistemas de recolha seletiva para os biorresíduos, têxteis e pequenas quantidades de resíduos perigosos, entre 2024 e 2025.

Com isto, pretende-se desviar grande parte dos orgânicos para valorização e aliviar a carga de resíduos enviados para aterro. Ainda assim é preciso reforçar a reciclagem dos resíduos já existentes, principalmente as embalagens e os resíduos eletrónicos, com taxas atuais de recolha diferenciada a rondar os 48 e 33%, respetivamente.

Em Portugal continental, a reciclagem de resíduos de embalagem é insatisfatória nas redes de tratamento e gestão e mediana nos serviços de recolha3, porque as metas estabelecidas são diferentes para cada região do país, de acordo com o Despacho nº 3350/2015, de 1 de abril de 2015.

Cerca de 9% dos resíduos de embalagens recolhidos para reciclagem não foram reciclados o que sugere que uma parte destes não estão a ser bem separados. Mais importante do que isso é o compromisso dos Portugueses e das Portuguesas em separar o seu lixo.

«Com o passar dos anos as metas de reciclagem aumentam e a realidade portuguesa torna-se cada vez mais dramática, é preciso compromisso, envolvimento e ação de todos e para todos», salienta Carmen Lima, Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos.

Caso disso são os REE (resíduos elétricos e eletrónicos), onde o consumo é crescente, as componentes perigosas não desaparecem, mas as exigências de EU são cada vez mais apertadas – a meta passou de 45% para 65%. Por outro lado, é frequente o desvio destes resíduos para circuitos paralelos, que ainda dificulta mais o alcance das metas – das cerca de 100 mil toneladas de REEE potencialmente gerados em 2019, estima-se que 77% não foram recolhidos e tratados pelo circuito implementado pelas entidades gestoras, que apesar de não ser uma realidade apenas Portuguesa, a sua prevalência aqui, em geral é maior.

 

Figura 4 – Destino Final dos REE em Portugal

Se não reduzirmos, reutilizarmos, recuperarmos e reciclarmos o nosso lixo, olhando para ele como um recurso e não como algo sem valor, vamos ter sérios problemas e arranjar soluções para o eliminar – quer em aterro, quer em incineradoras, mesmo que lhe queiramos chamar “fábricas de produção de energia”. Quem quer uma unidade destas perto de casa?

Estas soluções são responsáveis por emitir GEE e o movimento climático já mostrou que vivemos um período complicado em matéria de alterações climáticas. A aposta deverá continuar a ser o desvio dos biorresíduos do aterro, com a implementação generalizada da recolha diferenciada deste resíduo também poderá resultar em reduções significativas nas emissões decorrentes da deposição em aterro e na capacidade que se prevê tão excessiva se não se derem mudanças significativas nos destinos dos resíduos urbanos.

 

Figura 5 – Emissões de GEE provenientes da gestão dos Resíduos Urbanos em Portugal

 

A União Europeia (UE) frisa a importância da ciência e da formação. É essencial que, nos dias de hoje, o cidadão esteja informado e que desenvolva capacidade crítica para que possa interpretar de forma mais imparcial possível a informação que consome. Nada como fundamentar as nossas causas com os dados que temos ao dispor com espírito crítico.

É um acordar que só pode ser vantajoso para a Sociedade civil e para o Planeta, mas para que isso seja efetivo cada um de nós tem de ser crítico em relação ao que absorve e utiliza, ao que defende e à forma como age – vivemos neste momento uma situação de “Emergência do Lixo”.

 

Lisboa, 17 de maio de 2020

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza

 


1 – Eurostat

2 – Grupo do Banco Mundial, What a Waste 2.0: A global Snapshot of Solid Waste Management to 2050

3 – ERSAR, Relatório anual dos serviços de água e resíduos em Portugal 2020

4 – APA, National Inventory report 2021

5 – APA, Estudo prévio sobre a implementação da recolha seletiva em Portugal, em especial, o fluxo dos biorresíduos, 2019