A QUERCUS – Associação Nacional de Conservação da Natureza recebeu com surpresa a notícia de que a EGF/ERSUC tinham emitido na passada sexta-feira um comunicado sobre um novo plano de gestão de lixo.
Primeiro, porque a EGF/ERSUC demonstra ter decidido ignorar por completo os estudos independentes entretanto surgidos que mostram que a incineração é muito mais cara que o tratamento mecânico-biológico, particularmente o estudo encomendado pelo anterior Governo à Universidade Nova de Lisboa. Sem mostrar qualquer estudo económico novo, a ERSUC mantem-se autistamente a propor a construção de uma incineradora de dimensão semelhante à que já tinha proposto antes.
Segundo, porque a emissão de um comunicado pela ERSUC sobre este assunto é uma atitude inédita, ainda mais estranha porque se sabe que o Senhor Ministro do Ambiente deverá apresentar a sua decisão sobre o plano da ERSUC dentro de poucos dias. Será que se trata de um derradeira tentativa desesperada da EGF/ERSUC de pressionar o Ministro?
Estamos confiantes que o Ministro Nobre Guedes, face às conclusões do estudo encomendado pelo Ministério à Universidade Nova de Lisboa, não deixará de tomar uma decisão a favor do tratamento mecânico-biológico que, ao contrário deste pseudo-plano da ERSUC, seja racional, económica e ambientalmente fundamentada.
O pseudo-plano da ERSUC (“pseudo” porque não fundamentado)
Há poucas diferenças entre este plano e o anteriormente apresentado pela ERSUC. Assume-se agora explicitamente a entrada de Gaia e Feira, o que eleva a quantidade de resíduos a tratar, e introduz-se algum tratamento mecânico para separação de alguns recicláveis. O lixo restante, que é a maioria, continua a ser destinado à queima.
– Falta o tratamento biológico
A pequena triagem mecânica que agora é introduzida retira do lixo alguns dos recicláveis, basicamente papel, plástico, vidro e metais. Isto é, aumenta no lixo restante a fracção de resíduos orgânicos (das cozinhas e jardins), pelo que a incineradora iria queimar proporcionalmente mais cascas de batata. Todos compreendem que isto não faz sentido, pois as cascas de batata não ardem.
Porque não é também previsto o tratamento biológico do lixo depois de triado ? Porque se o fosse, a incineradora perderia qualquer justificação, pois a maior parte do lixo destinado à queima no plano da ERSUC seria por essa via tratado de forma ambientalmente correcta, e pouco sobraria. As incineradoras só trabalham com grandes quantidades de lixo.
– Alguém há-de pagar
Quanto custa esta opção ? De acordo com o estudo encomendado pela Universidade Nova de Lisboa, a solução com incineração custa cerca de 100 milhões de euros a mais do que uma solução com tratamento mecânico-biológico. A apresentação deste plano sem qualquer referência a este facto é preocupante e indiciadora. Será que o que interessa à administração da ERSUC/EGF é avançar com a incineradora, qualquer que seja o custo, porque alguém há-de pagar, que não os admnistradores? As Câmaras aceitam passivamente reflectir tal custo nos bolsos dos seus munícipes?
– Os aterros estão a encher
Os três aterros da ERSUC estão a encher rapidamente, como a própria ERSUC confirma. Vão estar cheios muito antes dos seis anos que uma incineradora demora a ser construída. Em contrapartida, o sistema mecânico-biológico fica operacional em metade do tempo. Se a incineradora avançasse, que se faria entre o fim dos aterros, e o início de funcionamento da incineradora? A EGF/ERSUC parecem preferir enterrar a cabeça na areia e fingir que o problema não existe.
– Porquê a teimosia da ERSUC?
Depois de todos estes anos, e sabendo-se que todos os estudos – quer os independentes quer o estudo base da própria ERSUC – convergem no facto de a incineração ser mais cara do que o tratamento mecânico e biológico; e para além disso sabendo-se também que a incineração se caracteriza por ser mais demorada de implementar, mais poluente, insustentável e por reduzir drasticamente as possibilidades de reciclagem, fica a questão:
Porque insite a ERSUC/EGF na incineração, e não adopta o tratamento mecânico-biológico?
Urge que a ERSUC, e agora também a EGF, pública e transparentemente e de uma vez por todas respondam sem subterfúgios e meias-verdades.
Coimbra, 13 de Dezembro de 2004
Contactos: João Gabriel Silva 91 730 10 24, Rui Berkemeier 93 425 65 81, Pedro Carteiro 934285343 e Miguel Silva 933564079.
Ver mais informação sobre o assunto em: