Ao contrário do que têm vindo a afirmar, a maioria dos fabricantes automóveis vai conseguir atingir as metas de emissão de dióxido de carbono (CO2) em 2021 mas, para evitar a adoção de metas ainda mais exigentes para 2025 e 2030, agora em discussão na União Europeia, a indústria automóvel tem atrasado o lançamento quer de veículos elétricos quer de versões mais eficientes dos carros a combustão, para que possam escoar os seus modelos mais antigos e menos eficientes. É o que demonstra o relatório publicado hoje pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E), da qual a Quercus é membro efetivo, o qual avança com várias conclusões:
σ dos 50 modelos mais vendidos, apenas 6 foram atualizados em 2017; porém, 21 serão relançados como modelos mais económicos e com baixo consumo de combustível, mas só em 2019-2020 (infografia 1);
σ o número de modelos elétricos a bateria deverá quintuplicar para 100 em 2021, aumentando a sua autonomia, a opção de escolha do consumidor e a competição entre marcas (infografia 2); porém, o seu lançamento também tem sido adiado;
σ a maioria dos fabricantes europeus, exceto a Fiat, deverá cumprir os valores-limite de emissão de CO2 definidos pela União Europeia (UE) para 2021 – em parte, vendendo mais veículos plug-in;
σ a diminuição das emissões de CO2, decorrente do declínio nas vendas dos veículos a gasóleo, é contrariada pelo aumento das vendas dos veículos com combustívesis alternativos, mesmo tendo em conta as suas emissões mais reduzidas.
Os automóveis e carrinhas contribuem com 2/3 das emissões de CO2 dos transportes, o setor maiores emissões (27%) na UE e o único cujo impacte climático tem aumentado desde 1990. Além disso, no ano passado o consumo de petróleo na UE – um bom indicador para as emissões de CO2 dos transportes – subiu 2%, o maior crescimento anual desde 2001 [1]. A UE está atualmente a debater uma proposta da Comissão Europeia para novas metas de redução de CO2 nos automóveis de 15% e 30%, em 2025 e 2030, respetivamente. No entanto, estas metas não são insuficientes para permitir aos países da UE atingir os seus objetivos climáticos obrigatórios para 2030. [2]
A Quercus junta-se à T&E na tentativa desmontar, com este relatório, o discurso queixoso dos fabricantes de automóveis, que lamentam não conseguir cumprir as suas metas de CO2, e culpam o declínio nas vendas de automóveis a gasóleo, enquanto “empurram” SUVs obsoletos, muito poluentes e potentes, para maximizar os seus lucros. aumentando as emissões de CO2 e a despesa com combustível dos seus clientes. Mas a realidade é que a maioria os fabricantes de automóveis na Europa atingirão os seus objetivos e evitarão as multas por incumprimento.
Esta tática de continuar a vender modelos antigos pelo máximo de tempo possível deixa claro que os fabricantes estão neste momento a otimizar os lucros e a tentar defraudar os reguladores, fazendo-os crer que estão realmente a desenvolver esforços para atingir as metas de CO2 para 2021, numa altura em que a UE pondera definir novas metas para 2025 [3]. No entanto, quem paga o preço são os consumidores, que ficam privados de modelos mais eficientes que não estão ainda disponíveis no mercado, e o planeta, pois as emissões de CO2 dos automóveis e carrinhas continuam a aumentar.
A Quercus lamenta esta estratégia da indústria automóvel para tentar demover os reguladores de avançar com novas metas mais ambiciosas para 2025 e 2030, enquanto prolongam a venda de automóveis a gasóleo durante o maior tempo possível. Fica o alerta aos decisores políticos para que não se deixem enganar e exige a definição de limites mais restritos de emissão de CO2 já para cumprir em 2025; metas para a venda de veículos elétricos e garantias de que as reduções de emissões acontecem na estrada e não apenas nos laboratórios dos fabricantes.
Lisboa, 09 de abril de 2018
A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
[1] Agência Europeia Internacional, Global Energy & CO2 Status Report, 2017
[2] T&E, Cars and vans: how to stop CO2 emissions growing?, 2017
https://www.transportenvironment.org/publications/cars-and-vans-how-stop-co2-emissions-growing
[3] ‘“The rapid decline of diesel’s share in EU markets…poses serious challenges for meeting CO2 reduction targets – not only those for 2030, but also the targets already set for 2021,” avisou [ACEA chairperson Carlos] Tavares, cujo grupo PSA detém marcas como a Peugeot, Citroën, Opel e Vauxhaul.’