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Botulismo de Aves Aquáticas na Moita tem provavelmente causas ambientais

Quercus adverte que a mortandade em massa pode voltar a suceder

 

ave aquatica jbOntem, em comunicado do Município da Moita veiculado pela agência LUSA, lia-se que “O botulismo poderá ser a causa de morte de vários exemplares de aves que ocorreram na confluência do Rio da Moita com a Caldeira da Moita em julho” conforme anunciou a autarquia. “A Câmara Municipal da Moita procurou conhecer as causas deste incidente junto das entidades competentes e a informação técnica do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas indica tratar-se de botulismo, uma doença de natureza tóxica que decorre da ingestão de uma toxina e que é agravada pelas condições meteorológicas, como o calor e seca, que se arrastam há vários meses”, referia ainda a autarquia, liderada pela CDU, em comunicado. A Câmara da Moita acrescentava ainda que a “toxina em causa afeta somente as aves, não constituindo risco para as pessoas”.

 

 

Botulismo em aves aquáticas – causas ambientais 

 

A mortalidade de avifauna selvagem por botulismo é um assunto há muito conhecido. Já nos anos 80 se reportavam grandes mortalidades de aves (mergulhões) e peixes no Lago Michigan, nos EUA (1). Nas zonas húmidas, verificou-se que a bactéria C. botulinum, causadora da doença, pode associar-se com organismos não afetados por toxinas – incluindo algas, plantas e invertebrados – em que parece germinar e permanecer na forma vegetativa por longos períodos de tempo (2). Já foram relatados casos de botulismo de aves associados a zonas aquáticas que recebem efluentes (2) e também está comprovado que a bactéria se pode alojar e crescer em algas, nomeadamente do género Cladophora sp. (conhecida como “Cabelo de Sereia”) (4).

 

Depois da mortalidade de aves ocorrida em julho na caldeira da Moita, cuja causa – pelas análises agora reveladas pelo Município da Moita – aponta para botulismo, outros patos reais selvagens e gaivotas já regressaram à Caldeira da Moita. Porém, nos últimos dias têm-se observado manchas de algas superficiais. O crescimento de algas em águas paradas é típico de condições de eutrofização (excesso de nutrientes normalmente associados a efluentes urbanos e agro-pecuários).  

 

 

Mortandade de aves selvagens pode voltar a acontecer a qualquer momento

 

As algas em si não são perigosas, mas se a bactéria C. botulinum se associar a essas algas, ou mesmo se permanecer no solo ou em plantas das margens, a Moita poderá assistir novamente a um surto de botulismo que atinja mortalmente a fauna selvagem. Um artigo científico recente de investigadores que se têm dedicado bastante a este assunto na região dos Grandes Lagos nos EUA (5) mostra a relação direta entre massas algais e o aparecimento de botulismo em aves selvagens. Inclusive refere que C. botulinum se chega a encontrar em concentrações 100 vezes maiores nas algas Cladophora do que areia ou água.

 

 

Botulismo das aves não é totalmente inofensivo para as pessoas

 

Embora a toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum que ataca as aves (Tipo C e tipo E) não seja do mesmo tipo que a toxina que causa botulismo nas pessoas (A ou B), é necessária precaução. As pessoas não devem tocar nas aves mortas (6).

 

 

O que fazer para prevenir e remediar

 

Em primeiro lugar o Município e as restantes entidades deveriam ser mais proativas a questionar-se sobre possíveis relações causa-efeito, tal como fez a Quercus no presente caso. Na opinião da Quercus os municípios em geral deveriam preocupar-se mais com a ecologia dos seus territórios e manter não só o ambiente urbano, mas também os ambientes naturais sob observação permanente, com apoio de parceiros no terreno, que neste caso poderiam ser as associações de atividades náuticas ou simples cidadãos. Neste caso em particular, e de imediato, a Quercus recomenda a identificação das algas e a averiguação da eventual presença de C. botulinum nas mesmas e caso se comprove, a retirada imediata desse material algal. Sendo um espaço gerido por uma comporta, durante o tempo quente deverá renovar-se o mais possível as suas águas, para as manter com a maior oxigenação possível. A médio prazo, o Município deverá estudar formas de evitar a eutrofização na caldeira e efetuar análises frequentes às águas do rio/vala da Moita; a longo prazo é essencial que exista o devido tratamento de águas residuais de efluentes urbanos e sobretudo agro-pecuários na região.

 

 

Lisboa, 31 de agosto de 2017

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza

 

 

BIBLIOGRAFIA:

(1) An outbreak of type E botulism among common loons (Gavia immer) in Michigan’s upper peninsula (1988)

https://www.researchgate.net/publication/19744038_An_outbreak_of_type_E_botulism_among_common_loons_Gavia_immer_in_Michigan’s_upper_peninsula

 

(2) Botulism outbreaks in natural environments – an update (2014)

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4052663/

 

(3) Eutrophication and bacterial pathogens as risk factors for avian botulism outbreaks in wetlands receiving effluents from urban wastewater treatment plants (2014)

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24795377

 

(4) Association of toxin-producing Clostridium botulinum with the macroalga Cladophora in the Great Lakes (2013)

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23421373

 

(5) Prevalence of toxin-producing Clostridium botulinum associated with the macroalga Cladophora in three Great Lakes: Growth and management (2015)

https://experts.umn.edu/en/publications/prevalence-of-toxin-producing-clostridium-botulinum-associated-wi

 

(6) Botulismo aviário; saúde pública

https://www.nwhc.usgs.gov/disease_information/avian_botulism/index.jsp