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À espera da extinção da rola que já foi comum!

A rola-brava é uma espécie icónica da fauna portuguesa e a informação científica mais recente sobre esta espécie revela um decréscimo populacional em Portugal, desde 1994, na ordem dos 80%. A situação é de tal forma grave, que a Comissão Europeia considera actualmente a caça à rola-brava uma violação da Directiva Aves. É urgente que o Ministério da Agricultura suspenda a caça a esta espécie e implemente medidas adequadas de gestão dos habitats agrícolas dos quais depende.

 

A rola-brava, também conhecida por rola-comum, é uma espécie icónica da fauna portuguesa e do imaginário popular e erudito do país. É uma espécie cinegética, das mais queridas dos caçadores portugueses. É caçada no final do verão, em Agosto e Setembro, na sempre aguardada abertura da época de caça às espécies migradoras.

 

As populações da rola-brava têm diminuído acentuadamente por toda a Europa nas últimas dezenas de anos, devido a dois factores principais. Por um lado, a intensificação agrícola, nomeadamente o corte de sebes, a destruição de mosaicos agrícolas e o uso indiscriminado de fitofármacos, e, por outro lado, a caça excessiva, em países como França, Espanha, Portugal e Itália (1, 2).

 

A situação da rola-brava é de tal maneira grave que a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) classificou-a como espécie Vulnerável à extinção em 2015 (1). A Comissão Europeia (CE) encarregou a BirdLife Internacional e a Federação das Associação de Caçadores Europeias (FACE) da elaboração de um plano de acção para a espécie. Esse plano determina que é urgente restaurar e manter os habitats agrícolas de boa qualidade e implementar a caça dentro de níveis de abate sustentáveis (2). Para determinar o nível de abate, está a ser desenvolvido um modelo de gestão cinegética da rola-brava. Mas enquanto esse modelo não aparece, a CE considera a caça da rola-brava uma violação da Directiva Aves, devido ao estado desfavorável das suas populações.

 

Em Portugal, a situação é idêntica ao resto da Europa. O Censo de Aves Comuns mostra um decréscimo populacional acentuado desde 2004 (3). Mas a informação científica mais recente revela factos mais preocupantes. Uma tese de doutoramento do Instituto Superior de Agronomia revela uma regressão populacional acentuada da rola-brava desde 1994 (4). A diminuição média em Portugal é de 80%. Ou seja, por cada 100 rolas que existiam em Portugal em 1994, actualmente existem apenas 20. O estudo revela ainda que a caça à rola se sobrepõe ao seu período reprodutor em todas as regiões, e incide sobretudo na população nidificante. Tal como documentado nesse estudo, 30% das rolas caçadas em Portugal são abatidas quando ainda se encontram a nidificar. Estes factos vêm corroborar o que a C6 tem vido a defender, a caça que se pratica actualmente à rola-brava em Portugal coloca em risco a sobrevivência da espécie.

 

Perante este cenário, impõe-se a seguinte pergunta: de que é que o Governo Português, o Sr. Ministro da Agricultura, o Sr. Secretário de Estado das Florestas e os caçadores portugueses estão à espera para suspender a caça à espécie? Não podemos deixar que a rola chegue ao risco eminente de extinção, como já chegou noutros países da Europa.

 

A Coligação C6, que integra as maiores Associações de Defesa do Ambiente portuguesas e é constituída pelo GEOTA, FAPAS, LPN, QUERCUS, SPEA e ANP/WWF, defende assim a suspensão imediata da caça à rola-brava em Portugal e em toda a Europa. Esta é também a posição de muitos caçadores portugueses, preocupados com a redução acentuada destas rolas no campo. Esta suspensão deve vigorar até que seja definido o limite sustentável de abate, e que esse limite possa ser correctamente implementado no nosso país.

 

É confrangedora a inércia da tutela da caça perante a situação dramática da rola-brava em Portugal. É urgente que o Ministério da Agricultura tome medidas:

 

Suspenda a caça à rola-brava até existir informação inequívoca sobre o nível sustentável de abate. Portugal deve mostrar que está realmente empenhado na protecção da espécie, deve tomar a iniciativa de suspender a caça, e depois influenciar os vizinhos espanhóis e franceses para fazerem o mesmo.

 

Implementar medidas de gestão do habitat agrícola da rola-brava. O Ministério da Agricultura tem nas suas mãos o instrumento financeiro adequado, que é o Programa de Desenvolvimento Rural. Em vez de canalizar centenas de milhões de euros para os regadios intensivos e para as monoculturas florestais, o Ministro da Agricultura tem a possibilidade de criar medidas agro-ambientais que favoreçam o habitat da rola-brava. Medidas que sirvam os agricultores que querem manter os mosaicos agrícolas tradicionais, as sebes e os bosquetes, fundamentais para a sua nidificação.

 

Divulgar as estatísticas da caça e criar mecanismos efectivos de seguimento do número de exemplares abatidos. A C6 já obteve do Secretário de Estado das Florestas a promessa de que os dados dos abates iriam ser divulgados, mas até agora não se viu nada. Não é possível fazer uma boa gestão da caça, sem se conhecerem os números do abate efectuado em cada época.

 

Consideramos ainda que o Ministério do Ambiente, Ministério que tutela a área da conservação da biodiversidade, se deveria pronunciar com prontidão, deixando clara a sua posição sobre o risco de extinção em Portugal da rola-brava e sobre o que vai fazer para reverter a situação.

 

A C6 apela aos caçadores de Portugal que pressionem a tutela a tomar as medidas adequadas de protecção da rola-brava, especialmente a suspensão da caça e as medidas de gestão do habitat. Só assim será possível proteger agora para continuar a caçar no futuro esta espécie, que é tão querida dos portugueses.

 

 

Notas:

 

The IUCN Red List of Threatened Species, Streptopelia turtur: http://www.iucnredlist.org/details/22690419/0

 

International Single Species Action Plan for the Conservation of the European Turtle-dove Streptopelia turtur(2018 to 2028): http://www.trackingactionplans.org/SAPTT/downloadDocuments/openDocument?idDocument=59

 

Censo de Aves Comuns: http://www.spea.pt/gca/index.php?id=131

 

Dias, S. (2016). Critérios para a gestão sustentável das populações de rola-brava [Streptopelia turtur(L.)] em Portugal. Padrões de abundância, reprodução e pressão cinegética. TESE APRESENTADA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM ENGENHARIA FLORESTAL E DOS RECURSOS NATURAIS. Instituto Superior de Agronomia. Lisboa.

 

 

Lisboa, 13 de Novembro de 2018