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ALMARAZ E GESTÃO DE RESÍDUOS RADIOACTIVOS: Uma questão de segurança nacional

A Central de Almaraz já ultrapassou o seu tempo de vida, mas o governo espanhol comunicou ao MIA em Portugal que pretende que continue em funcionamento.

A somar a isto é possível que Almaraz se transforme num local de armazenamento temporário centralizado (ATC) de todos ou de uma parte substancial dos resíduos altamente radioativos de Espanha, tendo em conta que o governo de Espanha não avançou para a construção de um ATC em Cuenca.

Urge que os dois reatores da central nuclear de Almaraz sejam encerrados, por questões de segurança relacionadas com as fragilidades e os riscos crescentes associadas quer ao seu funcionamento quer ao aumento do volume de resíduos altamente radioativos provenientes do combustível usado.

Urge que as centrais nucleares espanholas (e todas as outras) fechem.

Urge que os dois governos ibéricos defendam as suas populações de um leque de riscos que aumenta a cada momento quer em número quer em complexidade. Veja-se por exemplo os perigos relacionados com a exposição a ataques terroristas (cibernéticos, drones…) que vai para além do fecho das centrais uma vez que a lei obriga cada central a incluir nas suas instalações soluções de armazenamento temporário dos seus resíduos que se podem prolongar até 80 ou 90 anos para lá do fecho.

Urge ser consciente e enfrentar a realidade. Não é apenas a região envolvente de Almaraz que enfrentará, em caso de acidente grave ou de ataque terrorista, uma situação catastrófica, toda a Península Ibérica será rudemente afetada. No nosso país não serão somente os distritos fronteiriços a sofrer o impacto da nuvem radioativa, mas todo o território nacional será afetado de maneira mais ou menos intensa, dependendo da distância e das condições climáticas. Atente-se no exemplo da Bielorrússia que não possuindo centrais nucleares foi duramente atingida pelo acidente de Chernobyl.

Urge compreender que a vetustez dos reatores das centrais espanholas aumenta desmesuradamente o perigo.

Qualquer central nuclear constitui um perigo desmesurado quando comparado com os seus anunciados benefícios, mas o envelhecimento dos reatores faz com que o risco de acidentes graves aumente de forma inquietante. É o caso flagrante dos dois reatores da central de Almaraz que irão brevemente ultrapassar os quarenta anos de vida que lhe haviam sido vaticinados (os reatores daquela central entraram em funcionamento, um em 1981 e o outro em 1983).

Como é expectável, ao envelhecer, certos componentes da estrutura das centrais degradam-se o que nos conduz a assinalar vários pontos nevrálgicos, entre muitos outros. Alguns representam um marco temporal que vai muitas décadas para além da decisão de fechar uma central e que são tanto ou mais inquietantes:

– Degradação da parede em betão que protege o reator em caso de acidente.

– Cuba em aço constantemente bombardeada pelas reações nucleares, levando, com o tempo, à sua destabilização.

– Circuito primário fragilizado pelos choques térmicos, Este circuito é constituído pelos tubos que conduzem a água que modera a reação.

– Recetáculo inexistente e incapaz de deter o material radioativo, caso este entre em fusão. Foi o que se verificou em Chernobyl e em Fukushima.

– Armazenamento nas próprias centrais, dos resíduos altamente radioativos, provenientes do combustível usado, primeiro em piscinas de arrefecimento cuja precariedade é bem conhecida e depois, a seco em ATI (Armazém Temporário Individualizado) onde o combustível é introduzido em contentores metálicos ou de betão que vão sendo entrepostos ao nível do solo para serem arrefecidos pelo ar. As vulnerabilidades desta solução devido à exposição aos elementos e a inúmeros outros riscos é evidente.

– O rascunho do novo Plano de Gestão de Resíduos Radioativos espanhol (7º PGRR) prevê que o ATI de Almaraz, que entrou em funcionamento em 2018, funcionaria até 2040 altura em que todos os contentores nele guardados estariam transferidos para um ATC (Armazém Temporário Centralizado).

– O processo de construção deste ATC continua a ser indicado neste rascunho como previsto para Valle de Cañas em Cuenca apesar de o governo espanhol ter declarado o cancelamento do concurso para a sua construção (após protestos da população, ações interpostas por organizações ecologistas e controvérsias de vária ordem).

– Este 7º PGRR prevê a entrada em funcionamento deste ATC em 2028 e indica o ano de 2087 como aquele a partir do qual os resíduos radioativos seriam transferidos para aquilo a que chamam a solução de armazenamento definitivo, um Armazém Geológico Profundo (AGP) que acolheria, em local a designar, os resíduos dos ATCs de todas as centrais nucleares.

– A gestão destes resíduos será confiada a um número incalculável de gerações e isto é inevitável, já que o período destes resíduos é da ordem de milhões de ano.

– As questões de segurança que se levantam à gestão de resíduos radioativos produzidos no território espanhol, ultrapassa as fronteiras deste estado uma vez que não é possível garantir formas de armazenamento destes materiais, nem temporárias (em ATIs e ATC) nem definitivas (em AGP), que não estejam acompanhadas de enormes riscos de contaminação dos solos, da água e do ar. Desastres naturais, mudanças climáticas, ataques terroristas, conflitos armados, mudanças de regime, protestos da população…..corrosão fissuras,… falha humana – a lista das possíveis causas é longa e o ser humano está longe de as poder prever e controlar todas.

Embora existam mais de uma centena de centrais em funcionamento na Europa, uma maior proliferação foi impedida pelos catastróficos acontecimentos de Chernobyl e Fukushima e pela oposição dos povos. Mas os promotores do electronuclear inventaram uma nova forma de rentabilizar o “negócio”, contra tudo o que havia sido anunciado: prolongar a vida das velhas centrais.

Sabemos que a espécie de loucura que tem conduzido o incremento do número de centrais nucleares e que também está ligada à “bomba nuclear” que delas depende, será um encargo pesadíssimo para muitas e muitas gerações futuras, com custos ecológicos, sociais e económicos que ninguém consegue calcular. Sem falar do desconhecimento atual sobre os problemas do desmantelamento e do armazenamento dos resíduos contaminados. Todas as questões que envolvem o nuclear são duma imensa complexidade e dimensão.

Urge, portanto, informar os cidadãos, alargar o debate, mas sobretudo parar os reatores. Muito a fazer restará ainda.

Há ainda outro perigo que é o da exploração mineira que se pretende exercer em Retortilho, Salamanca, que para além da poluição do ar e dos solos coloca em perigo a água e a bacia do Douro. Os autarcas das zonas fronteiriças não foram ouvidos, pelo que deve ser impedida a abertura da mina de Retortilho.

A exploração mineira em Portugal, que durou mais de 50 anos, deixou um passivo ambiental que está longe de estar totalmente remediado.

O governo português deve ser mais exigente e interventivo junto do governo espanhol pois as questões do nuclear são também uma questão de segurança nacional.

 

Urgeiriça, 25 de Maio de 2021

A Comissão Coordenadora do MIA em Portugal

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza