Aceda à apresentação de diapositivos aqui
Realizada no dia 3 de junho no Centro de Educação Ambiental de Torres Vedras nesta sessão houve uma dinâmica muito interativa de partilha e debate, factos reveladores do interesse pelo assunto, que evidenciou vários constrangimentos no município de Torres Vedras (e respetivas freguesias), que espelha também a situação em muito outros no país, para a abordagem sem herbicidas na gestão de espaços públicos, nomeadamente:
– Falta de conhecimento dos impactos dos herbicidas e consequente insensibilidade perante o problema por parte de autarcas o que gera por sua vez respostas inapropriadas perante queixas pelo uso de herbicidas.
– Pouca mobilização dos munícipes /fregueses, fruto também do seu desconhecimento da real dimensão dos impactos dos herbicidas.
– Conceção dos espaços públicos, nomeadamente das áreas pavimentadas, dos espaços verdes, rotundas e separadores centrais desadequadas à abordagem sem herbicidas.
O que tem de mudar em Torres Vedras e como consegui-lo?
Como se depreende do atrás exposto muito há a mudar em Torres Vedras. A mudança que permite resultados mais rápidos será a motivação dos responsáveis políticos em colocar como prioridade a proteção da saúde pública e o ambiente. De facto, as autarquias que já abandonaram os herbicidas fizeram-no graças ao seu empenho e motivação, uma vez que numa fase inicial de transição é necessário aumentar o orçamento para a higiene pública e espaços verdes à custa da transferência de outras rubricas, como investimento em equipamentos e eventos, por exemplo.
Perante insuficiente motivação dos responsáveis políticos torna-se mais relevante a consciência e mobilização da população, pelo que é necessário atuar aos dois níveis, ou seja, a sensibilização dos autarcas e da população. A implementação de estratégias de comunicação é prioritária.
Outro passo importante é a progressiva adaptação dos espaços à nova abordagem de modo a se alcançar diminuição dos custos. A análise comparativa de vários tipos de espaços de Torres Vedras com o de outros locais conduziu a reflexão e o debate para o modelo de paisagem urbana que necessariamente terá de dar mais espaço à natureza numa lógica de cooperação ao invés de uma lógica de controlo desenfreado em que praticamente toda e qualquer planta espontânea é considerada indesejável. Por exemplo uma consequência da nova abordagem, e que muitos dos cidadãos não estarão cientes, será a evolução dos relvados para prados, pois os relvados só são possíveis à custa de herbicidas seletivos! Ou seja, quase toda a área urbana tem sido sistematicamente pulverizada com herbicidas! Mas uma conceção mais natural dos espaços não implica necessariamente um aspeto mais descuidado ou inestético, pelo contrário conduzirá a uma paisagem urbana mais verde e mais florida! Para se alcançarem melhores resultados a formação dos jardineiros e funcionários autárquicos é fundamental!
Próximos passos:
A Quercus continuará o seu trabalho de sensibilização das autarquias, nomeadamente através das associações que as representam, concretamente a ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias e a ANMP – Associação Nacional de Municípios Portugueses, e da população em geral prevendo-se a realização em Torres Vedras de uma saída de campo para identificação de plantas espontâneas comestíveis e a realização de uma exposição de desenho (ou outras formas de arte) sobre ervas espontâneas.
Para a mobilização dos torreenses seria desejável a criação de um grupo no facebook que se poderia chamar de “Torres Vedras sem Herbicidas” e que permitiria também ser uma plataforma para se colocarem todas as denúncias e queixas, além de estimular uma massa crítica crescente.
Uma oportunidade de encontro e debate deste assunto e também de outros de interesse para a cidade é a “Assembleia da Batata”, uma iniciativa conjunta de ativistas independentes, do Bloco de Esquerda de Torres Vedras e da Universidade Popular que se realiza periodicamente na praça da Batata.
Conclusão:
A transição para espaços públicos sem herbicidas (e outros pesticidas) já está em marcha por toda a Europa. Em Portugal começou-se tarde, mas temos a vantagem de aprender com a experiência de outras autarquias europeias, pelo que a nossa evolução nesse sentido poderá ser mais rápida. Portanto, basicamente a questão que se coloca é: quem quer posicionar-se na linha da frente ou ficar na retaguarda deste processo.
Para saber mais sobre o que se abordou na sessão e complementar a leitura da apresentação de diapositivos leia ainda:
Impactos e contaminação pelos herbicidas:
Os herbicidas são os pesticidas mais utilizados em espaços públicos e o glifosato em particular é também o pesticida mais utilizado em todo o mundo devido ao cultivo de transgénicos resistentes a este herbicida (70% de todo glifosato consumido foi nos últimos 20 anos), por isso tornou-se omnipresente sendo detetado na água (inclusive na água da chuva), na cerveja, … e no nosso organismo, como na urina e no leite materno! Em Portugal as únicas análises realizadas foi à urina de 26 portugueses, graças à Plataforma Transgénicos Fora, que revelou níveis de glifosato cerca de 20 vezes superiores aos encontrados noutros europeus e 260 vezes superior ao permitido na água para consumo humano! Estes dados indiciam que as alegações da indústria de que o glifosato é imobilizado ou rapidamente degradado sem riscos no solo e não é bio-acumulativo são FALSAS!!
Diversos estudos científicos têm revelado inúmeros impactos no ambiente e na saúde, como cancro, como doenças degenerativas (Alzheimer, Parkinson), doenças do desenvolvimento (aborto espontâneo, malformações congénitas, autismo), infertilidade, entre outras. Uma razão para o glifosato estar relacionado com tantas doenças será o facto de ser análogo ao aminoácido glicina sendo por isso incorporado no nosso organismo!
Outros herbicidas são igualmente nefastos ou ainda piores, por isso a única solução eu efetivamente protege a saúde pública e o ambiente é o abandono destas substâncias concebidas para terem efeito tóxico, que como se tem vindo a demonstrar não afeta apenas células vegetais, mas uma diversidade de espécies não alvo, incluindo a espécie humana.
Alternativas aos herbicidas:
A mera substituição dos herbicidas por meios alternativos é dispendiosa e ineficaz. Pela experiência de autarquias europeias, algumas das quais já abandonaram os herbicidas há décadas, é necessário uma abordagem abrangente de gestão dos espaços, sendo fundamental a sensibilização para maior aceitação das ervas espontâneas; implementar medidas preventivas de modo a limitar a necessidade de controlo, como a reparação de juntas, adaptação de tipos e áreas dos pavimentos e áreas ajardinadas mais naturais de baixa manutenção (que irão também libertar mão-de-obra para as áreas onde o controlo é inevitável); usar equipamentos alternativos nas áreas estritamente necessárias. Os equipamentos alternativos mais utilizados pelas autarquias portuguesas que abandonaram os herbicidas são a roçadora mecânica e a vapor para os pavimentos, nomeadamente de calçada à portuguesa, para além das moto-roçadoras e destroçadores mecânicos.
Outras lições importantes são: comunicar antes de agir (sessões públicas, cartazes, sinalética, folhetos, site, …) e elaborar um plano de ação (identificar os vários tipos de espaços de intervenção e pontos críticos e definir estratégias de intervenção)
Custos:
Considerando todos os impactos dos pesticidas os custos superam os alegados benefícios. Pela experiência das autarquias europeias a médio longo prazo os custos da abordagem sem herbicidas serão iguais e mesmo inferiores comparativamente ao uso de herbicidas, mas para isso são necessários vários ajustes na conceção dos espaços e muitas aprendizagens, pelo que a formação dos funcionários é fundamental!
No website do projeto europeu Pesticide Free Towns – Localidades sem Pesticidas, com versão portuguesa disponível: http://www.localidades-sem-pesticidas.info/ pode-se encontrar informação sobre a abordagem e métodos de controlo das ervas espontâneas na secção “Estórias e princípios”.
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