O verde exuberante do carvalho-alvarinho do Noroeste de Portugal desapareceu no passado Verão. Copas secas, folhas reduzidas ao esqueleto das nervuras, bosques de folhagem castanha como se tivesse chegado um Outono prematuro: estes são os sinais e o panorama deixados por uma praga de insectos que nunca havia atacado as florestas portuguesas com semelhante intensidade. Em Lafões e Celorico de Basto, onde prosperavam estes carvalhais, já praticamente não se encontra uma só destas árvores ainda saudável.
O agente biótico responsável por este enorme dano ecológico é um insecto chamado Altica quercetorum (em vernáculo, “pulga” ou ”pulguinha-dos-carvalhos”), filiado na ordem dos coleópteros e na família dos crisomelídeos, apresentando dimensões do insecto adulto entre 3,5 a 5,0 mm.
Uma vez sobre um hospedeiro, consome com voracidade o parênquima foliar, isto é, os tecidos vivos entre as epidermes e as nervuras das folhas. Quando encontra boas condições biofísicas – invernos pouco húmidos, muita insolação – ocorre uma explosão demográfica e, para alimentar as suas imensas coortes, chega a devorar mais de 95% da folhagem das árvores, deixando-as incapazes de fotossintetizar e de respirar devidamente. Não raras vezes chega a ganhar alento para atacar também outras espécies como carvalhos- pardos, sobreiros, cerquinhos, amieiros, aveleiras e salgueiros.
Embora a pulguinha-dos-carvalhos, por si só, dificilmente consiga matar o hospedeiro, o facto é que o debilita de um modo que o deixa vulnerável a toda a sorte de agentes patogénicos letais.
Abundante no centro e sul da Europa, foi encontrada pela primeira vez em Portugal em 1896, na região de Vila Real, sem causar motivos para alarme. Durante o século XX e por todo o continente europeu raras vezes suscitou preocupações: as maiores infestações jamais notadas eram, até 1985, um ataque de 10 hectares na Alemanha e outro de 100 hectares na Áustria. No início dos anos 1990, porém, soou o alarme na Galiza: invernos anormalmente secos fizeram disparar uma onda de pragas desta “pulguiña do carballo” (como é chamada em terras galaicas) – só no ano de 1993 , mais de 8000 hectares de carvalhal foram atingidos, causando estragos sem precedentes.
Desde então os ataques reiteraram-se, a ponto de a Xunta de Galicia reconhecer esta praga como um exemplo acabado de perturbação ecológica fomentada pelas alterações climáticas, conferir-lhe oficialmente o estatuto de praga florestal, e incumbir os serviços florestais públicos de combatê-la.
No território português, os primeiros ataques desta praga foram registados em 1991, sem necessidade de especiais medidas de defesa fitossanitária. Porém, face à paisagem confrangedora que em Agosto de 2009 formaram os carvalhais ressequidos de Lafões e de muitos outros locais do norte e centro do país, urge reconhecer oficialmente a ocorrência desta praga e encetar, quanto antes, o controlo apropriado. Quanto mais cedo as autoridades florestais o fizerem, melhor hão-de mitigar uma mais que provável propagação a outras regiões do país, e o eventual contágio a outras importantes espécies da nossa flora arbórea.