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A Importância dos Montados de Sobro em Portugal

O Sobreiro (Quercus suber) é uma espécie florestal autóctone que se distribui pela zona ocidental da região Mediterrânica, onde se faz sentir a influência Atlântica, a qual é essencial em termos climáticos para diminuir as elevadas amplitudes térmicas e a secura estival características do clima mediterrânico.

 

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Estas características ocorrem sobretudo em Portugal, pelo que é no nosso País onde se encontra o óptimo ecológico do sobreiro que se encontra distribuído por todo o território continental nacional, com excepção em altitudes elevadas e zonas com temperaturas muito baixas no Inverno.

Os sobreiros ocorrem geralmente associados em povoamentos, formando os montados de sobro e sobreirais, que são ecossistemas florestais muito importantes tanto em termos ambientais como sócio-económicos.

Encontramos o Sobreiro com alguma frequência a Norte do Tejo em zonas onde dominam também o Castanheiro (Castanea sativa), os Carvalhos alvarinhos ou roble (Quercus robur), o Carvalho cerquinho ou português (Quercus faginea) e o Carvalho negral (Quercus pyrenaica), ocorrendo mais frequentemente no Alentejo e Beira Baixa associado em alguns locais à Azinheira (Quercus rotundifolia) onde forma os montados mistos de sobro e azinho.

 

No litoral Norte e Centro surge espontaneamente sob coberto do Pinhal, frequentemente com elevadas densidades que constitui verdadeiros povoamentos dominados. Também no interior do País se constata uma boa regeneração natural onde foi instalado nos últimos séculos a grande mancha de Pinheiro bravo (Pinus pinaster), sobretudo após os grandes incêndios florestais que têm dizimado a monocultura do Pinhal, facto que se deve essencialmente à sua adaptação natural ao fogo no ecossistema mediterrânico e também à sua prévia existência enquanto espécie primitiva que ocorria antes da conversão para o Pinhal. A própria casca do Sobreiro, a cortiça é um produto natural extremamente resistente ao fogo que protege a árvore nos incêndios, o que torna o Sobreiro numa das espécies florestais mais resistentes ao fogo.

 

Historial da subericultura

O Sobreiro foi uma das espécies primitivas da floresta portuguesa que mais importância teve pela sua ampla distribuição no Centro e Sul do país, contudo a expansão demográfica e o aproveitamento agrícola das terras mais férteis, foram ao longo dos séculos, reduzindo a área ocupada pela floresta primitiva, tendo o sobreiro, em muitas zonas sido preterido em detrimento por outras espécies devido essencialmente à produção de madeira como aconteceu com a expansão do pinhal inicialmente e com o eucaliptal posteriormente.

Apenas no Alto Alentejo, não existiu demasiada pressão e se conservou grande parte do coberto florestal primitivo dos sobreirais, à excepção da Serra da Ossa onde à décadas, milhares de hectares de montado de sobro e sobreiral foram destruídos por empresas de celulose para conversão na monocultura de eucalipto para produção de rolaria para a pasta de papel.

O Sobreiro é uma espécie florestal protegida por legislação em Portugal pelo menos desde a Idade Média devido ao seu interesse social, para manutenção da actividade cinegética inicialmente, sendo que no século passado existiu uma evolução na legislação de protecção devido sobretudo à salvaguarda das áreas suberícolas e ao seu interesse económico, todavia, recentemente o seu valor ambiental começou a ser reconhecido internacionalmente.

Com o início da utilização da cortiça como vedante a partir do século XVIII, o sobreiro passou a ser economicamente muito interessante. Foi a época em que nasceu a subericultura portuguesa e formaram-se os sistemas agrosilvopastoris conhecidos por “montados”, que podemos considerar como um exemplo da gestão florestal sustentável a nível global, sempre que efectuada correctamente.
Em Trás-os-Montes favoreceu-se a regeneração natural e semearam-se sobreiros na denominada “Terra Quente”, tendo surgido as novas zonas suberícolas de Mirandela e do Tua. Foram também repovoadas também as bacias do Tejo e do Sado.

Como resultado, entre 1874 e 2006, a área de povoamentos de Sobreiro e Azinheira triplicou, sobretudo à custa do sobreiro, dado que a área da azinheira diminuiu.

No período que decorreu de 1994 a 2002, foram criados mais de 90 000 ha de novos povoamentos de sobreiro, puros e mistos dominantes, e beneficiados cerca de 72 000 ha de povoamentos existentes.
De acordo com os dados do último Inventario Florestal Nacional – 2005-2006, da Direcção-Geral dos Recursos Florestais – DGRF, o Sobreiro, em povoamentos puros e mistos dominantes e jovens, ocupa 736 700 ha, passando a ser primeira espécie em termos de área ocupada em Portugal, constituindo também a maior área de sobreiro do Mundo.

 

Quadrofloresta
Fonte: Inventários Florestais Nacional da DGRF

 

 

A importância socio-económica

Portugal ainda é o maior produtor mundial de cortiça – em apenas 8% do território nacional produz-se mais de 50% da cortiça ao nível mundial.

A cortiça é a matéria-prima de uma actividade industrial, que transforma cerca de 70% do total produzido a nível global pela indústria corticeira, situação que faz do nosso País líder no sector.

A exportação de produtos de cortiça representa cerca de 3% do total das exportações nacionais e ronda os 900 milhões de euros anuais, o que faz do nosso País o maior exportador de cortiça e produtos de cortiça do mundo. É a única actividade económica em torna Portugal como líder mundial.

A gestão dos montados de sobro, com a exploração da cortiça gera também importantes rendimentos ao nível local e regional em parte do interior do País, pelo que é factor socio-económico que permite manter o emprego e o equilíbrio no mundo rural.

Para além da exploração da cortiça, destacam-se a criação de espécies autóctones produtoras de carne de qualidade e de leite que são a base de indústrias agro-alimentares de importância regional e local, a apicultura, a recolha de cogumelos comestíveis, a exploração de recursos cinegéticos e as actividades turísticas relacionadas com a Natureza, como o Turismo Rural, o Agro-turismo e o Eco-turismo que encontram nestes espaços um campo de desenvolvimento privilegiado.

 

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A Importância ambiental

Em termos ambientais os montados de sobro e os sobreirais, desempenham funções importantes na conservação do solo, na regularização do ciclo hidrológico e na qualidade da água, na produção de oxigénio e consequente sequestro do carbono da atmosfera, apresentando-se também como ecossistemas florestais mediterrânicos singulares, extremamente ricos em termos de biodiversidade que estão identificados entre os mais importantes para a conservação da natureza a nível nacional e europeu.

Só em termos de avifauna, existem nos montados mais de 120 espécies, algumas com estatuto vulnerável ou ameaçadas de extinção como a Águia de Bonelli, a Águia-imperial ou a Cegonha-preta. Também o Lince-ibérico ocorreu nos sobreirais e montados portugueses, e se existir no futuro a recuperação da sua população, poderá voltar a ocorrer em Portugal, dada a disponibilidade de habitat existente.

Estes bens ambientais produzidos ainda que dificilmente quantificáveis, apresentam-se como externalidades positivas suficientemente valiosas e com interesse para toda a Humanidade.

 

Associativismo florestal

Nas últimas décadas foi promovido o associativismo florestal, existindo actualmente, a nível nacional, cerca de 50 Associações de Proprietários e Produtores Florestais com expressão relevante nas zonas de produção suberícola, que contam com técnicos florestais que intervêm activamente junto dos seus associados, efectuando um contributo positivo para a gestão sustentável do montado e para a produção suberícola.

Espera-se que o esforço dispendido no último decénio na criação de novas áreas e na beneficiação das existentes, mesmo atendendo a alguma taxa de insucesso, se traduza não só no aumento da área de ocupação, mas também na qualidade dos povoamentos para produção.

Na área da transformação existem duas associações que representam o sector suberícola a APCOR e a AIEC as quais trabalham no desenvolvimento e promoção do sector.
Foi criada em 2004 a FILCORK, organização inter profissional da fileira da cortiça, desde a produção à transformação e comércio, que constitui um fórum privilegiado de concertação entre os diversos agentes intervenientes na fileira da cortiça, a qual deverá começar a desenvolver e valorizar a fileira.

 

Desafios e ameaças dos montados

 

Os montados portugueses apresentam algumas ameaças mas também novos desafios a considerar para o futuro.

Situações como o declínio dos montados devido a doenças e pragas, o aumento do risco de incêndio florestal face às alterações climáticas e expansão urbanística e a promoção de novos empreendimentos turísticos, podem afectar a integridade dos montados enquanto ecossistemas de elevada importância ambiental, colocando também em causa a única actividade económica em que Portugal é líder mundial, pelo que devem se unir esforços para manter o desenvolvimento sustentável dos montados.

Também em termos globais a utilização de vedantes sintéticos em substituição da rolha de cortiça natural em parte do sector vitivinícola pode fazer perigar a manutenção deste importante ecossistema que é o montado de sobro.

No entanto, a clara aposta da utilização da rolha de cortiça natural em vinhos de qualidade, associada à promoção da certificação da gestão florestal sustentável através do reconhecimento dos sistemas mundiais de certificação, como o FSC, traz novas esperanças à manutenção dos montados.

A distribuição do Sobreiro encontra-se próximo do litoral centro e Sul de Portugal, a qual está associada a uma grande pressão populacional e consequente especulação imobiliária, reflecte uma pressão urbanística, industrial e de projectos turísticos-imobiliários que atentam o ordenamento do território, situações que frequentemente são favorecidas através de licenciamentos e autorizações pelos Municípios e pelos últimos Governos de Portugal, existindo vários projectos em que a Quercus teve que recorrer aos tribunais administrativos para reposição da legalidade.

Existem também alguns problemas nos montados da Bacia Mediterrânica, nomeadamente com o chamado declínio dos povoamentos de sobreiro e também de azinheira em nalgumas zonas.

A investigação que tem sido realizada no nosso País e também em todos os países suberícolas onde o fenómeno ocorre, tem sempre concluído que as causas da mortalidade que se verifica nalgumas zonas residem num complexo de factores, muitos deles de origem antrópica, com a má gestão realizada em algumas propriedades, sendo as condições ecológicas um factor determinante no desencadear da situação, como o stress hídrico provocado por períodos de seca ou pluviosidade anormal que pode favorecer a propagação de doenças.

 

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Um dos principais problemas encontra-se associado às más prácticas agrícolas na gestão de alguns montados, nomeadamente com fortes intervenções como a gradagem debaixo das copas com grades de discos pesadas que cortam as raízes pastadeiras superficiais, podendo fazer propagar doenças como os fungos patogénicos. Esta técnica cultural da gradagem a qual é tradicionalmente utilizada com alguma frequência, também destrói a regeneração natural com os novos sobreiros que nascem no sob coberto do montado, comprometendo a renovação e perenidade do montado.

 

Também as podas excessivas das árvores florestais, provocam feridas nos troncos que funcionam como portas de entrada para doenças e pragas, sem que exista um particular interesse dessa actividade na gestão dos montados, que não seja a obtenção de lenha.

 

Estão identificadas muitas medidas para minimizar o declínio e recuperar a vitalidade do arvoredo, as quais passam sobretudo a uma alteração de comportamentos na gestão de alguns montados.

É fundamental que os proprietários promovam junto dos trabalhadores agrícolas, a implementação das regras da gestão florestal sustentável, com o recurso também à aplicação das conhecidas boas práticas suberícolas na instalação de novos povoamentos, nas operações de poda, na extracção de cortiça, no aproveitamento do solo e na criação de gado sob coberto, dado que só assim é possível a subericultura portuguesa poderá manter a perenidade dos montados para as gerações vindouras.

Assim, torna-se fundamental que o Estado português defenda devidamente os montados de sobro promovendo o desenvolvimento sustentável e estratégico de um sector que é tão importante para a economia nacional, garantindo a perenidade deste ecossistema florestal.