Entrou em funcionamento a primeira unidade de reciclagem de lâmpadas fluorescentes em Portugal, sendo a partir de agora possível tratar de forma adequada este tipo de resíduos.
Com a entrada em funcionamento, em Setúbal, da primeira unidade de reciclagem de lâmpadas e resíduos com mercúrio em Portugal, já é possível dar um destino adequado a este tipo de resíduos no nosso país. Com efeito, até ao momento, só através do envio para exportação é que se podia garantir a reciclagem deste fluxo de resíduos.
Lâmpadas poluem o ambiente
A colocação em aterro ou a incineração de lâmpadas com mercúrio não são destinos adequados, uma vez que originam poluição da água e do ar com mercúrio.
O mercúrio é um metal pesado extremamente tóxico que pode originar danos permanentes nos rins, cérebro e no desenvolvimento dos fetos.
Actualmente produzem-se por ano em Portugal cerca de 10 milhões de lâmpadas com mercúrio (ou lâmpadas fluorescentes}, as quais na sua esmagadora maioria são enviadas para aterro e incineração, sendo uma pequena quantidade exportada. É comum ver-se este tipo de lâmpadas serem misturadas nos caixotes do lixo ou mesmo nos ecopontos.
De um modo geral, a recolha deste tipo de lâmpadas é feita de forma inadequada, levando à sua quebra e originando a libertação de mercúrio para o ambiente. Verifica-se mesmo que as próprias industrias, grandes produtores destes resíduos, acabam por misturá-las com os resíduos equiparados a urbanos.
Em 2000, das cerca de 2000 unidades industriais que declararam a produção dos seus resíduos, apenas 50 identificaram as lâmpadas como um resíduo específico. As restantes misturaram-nas com os outros resíduos impossibilitando a sua recolha e reciclagem.
Atraso na aplicação de legislação na origem do problema
As lâmpadas contendo mercúrio estão incluídas no anexo 1, categoria 2 do Decreto-lei n.º 20/2002 de 30 de Janeiro sobre resíduos de equipamento eléctrico e electrónico que obriga as empresas que colocam estes produtos no mercado a suportar os custos da recolha e reciclagem através de um sistema tipo Ponto Verde.
No entanto, o sistema que já deveria estar a funcionar desde Maio de 2002 ainda não foi constituído, pelo que as lâmpadas não são separadas e tratadas, acabando por contribuir para a disseminação do mercúrio no ambiente.
Também a Directiva sobre resíduos de equipamento eléctrico e electrónico já aponta metas para a reciclagem deste tipo de resíduos.
Como é feita a reciclagem das lâmpadas
Para que o mercúrio não se perca, é necessário, em primeiro lugar que as lâmpadas não se quebrem até chegarem à unidade de reciclagem.
O processo de reciclagem agora instalado na Ambicare Industrial, S.A., no Parque Industrial da Mitrena em Setúbal, tem capacidade para tratar até 5 milhões de lâmpadas e consiste na trituração com separação mecânica e destilação levadas a efeito em três unidades distintas:
– Triturador / Separador para lâmpadas fluorescentes tubulares;
– Triturador para lâmpadas de bolbo e geometria diversa;
– Destiladora onde se procede à destilação do mercúrio presente na globalidade dos elementos contaminados, com recuperação de mercúrio com 99,99% de pureza.
Todo este processo permite a valorização quase total dos componentes das lâmpadas: vidro (90%}, metal (8%}, mercúrio (0,1%}, e pó de fósforo (1,8%}.
O vidro reciclado é utilizado na indústria cerâmica, o metal é enviado para a siderurgia, o mercúrio é utilizado em diversas aplicações industriais, enquanto que o pó de fósforo resultante pode ser reciclado e reutilizado, por exemplo, na indústria de tintas.
Convém ainda referir que se espera também para breve a abertura de outra unidade de reciclagem de lâmpadas, ficando assim o país com capacidade para tratar todas as lâmpadas fluorescentes usadas.
Lisboa, 4 de Novembro de 2003
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Contactos: Rui Berkemeier ou Pedro Carteiro – 217788473