Incêndios, destruição de habitat e caça tornam imperativo que seja cancelada a caça para este ano.
Após anos de alerta por parte das associações de defesa do ambiente e da comunidade científica, o governo vem reconhecer pela primeira vez que existe um decréscimo preocupante da população de rola-brava. Apesar disso, permite que a espécie seja caçada!
A Rola-brava (Streptopelia turtur) é uma espécie migradora que está a desaparecer a um ritmo galopante em Portugal e restante Europa. A situação da espécie na Europa é muito grave, estimando-se que a sua população tenha decrescido 79% (desde 1980 (PECBMS: Trends of common birds in Europe, 2016 update).
A Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade, que está em consulta pública até 30 de Setembro refere que: “Concretamente e a título de exemplo, de referir que para a rola-comum (Streptopelia turtur), os dados de censos existentes apontam para um decréscimo populacional que pode ser preocupante, devido em grande parte à destruição de habitat e a níveis insustentáveis de exploração.”
Não é pois admissível que o governo, reconhecendo o problema da rola-brava num documento desta importância, mantenha a abertura da caça à espécie.
Esta situação é um paradoxo e revela descoordenação entre o Ministério da Agricultura e o Ministério do Ambiente.
Este assunto foi abordado na última reunião da Coligação C6 com o Senhor Ministro do Ambiente mas, aparentemente, ele não terá escutado os nossos argumentos.
Recentemente a rola-brava foi incluída na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) com o estatuto de “Vulnerável”. Esta inclusão na Lista Vermelha é um reconhecimento internacional e científico da ameaça de extinção que a espécie enfrenta.
Acresce que, na data prevista para a abertura da caça à rola, ainda durante o mês de Agosto, é provável a existência de muitas rolas em nidificação ainda com crias no ninho e, pontualmente, ovos de posturas tardias ou segundas posturas. Conjugada com a quantidade e a extensão dos incêndios florestais que têm ocorrido em Portugal, esta situação provocará uma quebra ainda maior nas já debilitadas populações selvagens de rola-brava.
A Coligação C6 defende a suspensão da caça a esta espécie por um período de 3 a 5 anos, de modo a favorecer a recuperação das respectivas populações e prevenir uma eventual extinção da espécie. Esta posição já foi manifestada ao Ministro do Ambiente e ao Secretário de Estado das Florestas em várias ocasiões.
Os ministérios do Ambiente e da Agricultura estão de posse de toda a informação, por isso é responsabilidade do dois ministros a tomada das decisões para evitar a extinção desta espécie.
Notas para os editores:
PECBMS – A Rede Pan-Europeia de Monitorização de Aves comuns é constituída por organizações científicas e de conservação da natureza presentes em 28 países da Europa. Estas organizações no seu conjunto contribuem com dados actualizados anualmente sobre as populações de aves comuns da Europa. Toda a informação sobre o PECBMS pode ser encontrada em http://www.ebcc.info/pecbm.html. A informação actualizada sobre a tendência populacional das aves comuns pode ser consultada em http://www.ebcc.info/index.php?ID=612.
C6 – A C6 foi criada em 2015 com o objetivo de atuar a uma única voz junto da sociedade civil e das instituições públicas e governamentais na defesa, proteção e valorização da Natureza e da Biodiversidade em Portugal.
Para este ano de 2017 a C6 tem uma Agenda comum de intervenção focada nos seguintes pontos:
- A organização e desenvolvimento de uma ampla campanha de sensibilização e mobilização da opinião pública em defesa da Natureza em Portugal, com um momento dinâmico e mobilizador em defesa da Natureza em Portugal em Novembro de 2017;
- O financiamento da conservação da natureza e da biodiversidade e a apresentação de propostas neste domínio;
- A importância da Rede Natura 2000 e apresentação de propostas para uma política efetiva de proteção e valorização da Rede Natura 2000 em Portugal.
A coligação C6 está convicta que a informação e mobilização dos cidadãos pode sempre fazer a diferença para exigir aos decisores que optem por medidas que protejam o Ambiente e a Natureza em Portugal.