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19 Anos do Parque Natural do Vale do Guadiana: Alargamento da área e investimento na conservação são prioritários

Hoje, dia 18 de Novembro, comemora-se o 19º aniversário da criação do Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG). A Quercus faz uma retrospetiva do que foi feito de positivo e negativo nesta Área Protegida e traça cenários com base na definição de ameaças e na identificação de oportunidades.

O Parque Natural do Vale do Guadiana ocupa cerca de 69 773 hectares dos concelhos de Mértola e Serpa e estende-se ao longo do rio Guadiana desde a zona a montante do Pulo do Lobo até à foz da ribeira do Vascão. O troço médio do vale do Guadiana, assim denominado, é uma zona caracterizada pelo seu valioso património natural, as planícies ondulantes, as áreas de esteval e os montados de azinho, as elevações quartzíticas das serras de São Barão e Alcaria, os vales encaixados do rio Guadiana e seus afluentes e toda a fauna selvagem presente. Esta  riqueza natural, aliada à ameaça  de progressivo desaparecimento dos sistemas tradicionais de utilização do solo justificaram a criação do parque natural, como forma de salvaguardar os valores naturais existentes e promover o desenvolvimento sustentado da região.

A área do Parque Natural possui uma elevada diversidade de habitats, como os charcos temporários mediterrânicos, os matagais arborescentes de Zimbro, os bosques de azinheira, os matagais de Loendro, Tamujo e Tamargueira (vegetação própria dos cursos de água mediterrânicos), bem como matos rasteiros de leitos de cheia e as galerias dominadas por Choupos e Salgueiros. Destaca-se ainda a presença de espécies da flora ameaçadas, como o Trevo-de-quatro-folhas-peludo que ocorre nas áreas ribeirinhas. Relativamente aos valores faunísticos, estes evidenciam-se a nível nacional, sendo a bacia hidrográfica do rio Guadiana considerada a mais importante em Portugal para a conservação da ictiofauna, com a presença de espécies de peixes dulçaquícolas autóctones e de migradores, alguns dos quais se encontram em perigo de extinção, como o Saramugo, a Boga-do-Guadiana, o Barbo-de-cabeça-pequena, o Caboz-de-água-doce, a Lampreia-marinha, a Saboga e o Sável. Encontra-se ainda uma grande diversidade de bivalves de água doce, com a presença de quatro espécies nativas. A avifauna nesta região, é igualmente, bastante rica com a presença de aves de rapina, como o Peneireiro-das-torres, a Águia-de-Bonelli, a Águia-real, a águia-imperial, e o Bufo-real e, ainda pelas aves de estepe características de zonas de planícies, como a Abetarda, o Sisão e o Cortiçol-de-barriga-negra.

Devido às suas características o Parque Natural do Vale do Guadiana está inserido quase na sua totalidade na Rede Natura 2000 através da criação da Zona de Proteção Especial para Aves Selvagens “Vale do Guadiana” e do Sítio “Guadiana”. De modo a aumentar o conhecimento e preservar a biodiversidade da região têm sido desenvolvidos projetos de conservação e de investigação científica no PNVG e este é o local onde se prevê para breve a reintrodução do Lince-ibérico.

Apesar de todos os valores naturais que tornam o PNVG um pólo de biodiversidade único no nosso país, este tem vindo a ser seriamente afectado pelas mudanças sócio-económicas, como os fenómenos da emigração e do envelhecimento da população, levando ao abandono das atividades do sector primário, as quais se revelam essenciais para a conservação da fauna selvagem. As aves estepárias são o grupo mais vulnerável, pois dependem essencialmente dos sistemas agrícolas extensivos e o seu desaparecimento origina perda de habitat e consequentemente redução das populações. A ictiofauna tem vindo a ser afectada pelas alterações no leito e margens dos cursos de água da bacia do Guadiana, é exemplo disso a implantação de empreendimentos hidráulicos e de numerosos açudes, obras de regularização das linhas de água com consolidação das margens ou corte de vegetação ripícola, alteração do leito do rio para a navegabilidade de embarcações de dimensões superiores às utilizadas atualmente e a extração de inertes para construção civil. A captação de água nos períodos de seca,sobre-utilização das margens das linhas de água pelo gado e a deficiente regulação do caudal, assim como a poluição difusa, influenciam  negativamente a qualidade da água e consequentemente a ictiofauna e os bivalves de água doce. A ictiofauna nativa é ainda seriamente ameaçada pela presença de espécies exóticas como a Amêijoa-asiática, o Achigã, a Perca-sol, o Chanchito e o Lagostim-vermelho. Verifica-se ainda na área do Parque Natural a inexistência de saneamento básico em algumas povoações e o aumento de atividades de lazer como o desporto motorizado de todo-o-terreno, o btt e as atividades aquáticas motorizadas, susceptíveis de provocarem poluição da água ou de deteriorarem os valores naturais. Por fim, esta área está ainda ameaçada por vários factores como o agravamento da erosão do solo e desertificação, o elevado risco de incêndio, a captura e abate ilegal de espécies protegidas, a utilização de artes ilegais de caça, abandono de entulho ilegal, a abertura de caminhos e a construção de grandes empreendimentos turísticos.

Neste contexto, a Quercus considera necessário as seguinte medidas, alocando investimentos públicos e privados:

•    Efetuar o alargamento da Área Protegida, no sentido de proteger totalmente as áreas de ocorrência das populações de Saramugo;
•    Implementar ações que visem a conservação dos habitats prioritários;
•    Implementar ações que visem a conservação das aves estepárias, assente na manutenção da cerealicultura extensiva em área aberta;
•    Implementar medidas que visem a conservação das aves rupícolas assente numa melhor gestão dos fatores de perturbação e na manutenção das manchas de habitat adequado;
•    Implementar medidas que visem a conservação das margens das linhas de água, vegetação ripícola associada e das espécies que dependem do meio aquático;
•    Melhorar a gestão dos caudais e a qualidade da água do Rio Guadiana e dos seus afluentes e definir zonas de proteção relativamente à utilização pelo gado das margens das linhas de água;
•    Implementar um programa de controle continuado de espécies exóticas, com subsequente recuperação de habitats com a instalação de espécies autóctones;
•    Melhorar a fiscalização e vigilância na área do parque, com mais recursos humanos e meios materiais, permitindo um maior controlo sobre as atividades de caça e pesca, atividades turísticas, abate de espécies protegidas e recolha ilegal de espécies da flora e prevenção de incêndios;
•    Criação de um programa de apoio ao desenvolvimento rural e às atividades agro-silvo-pastoris em regime extensivo, compatíveis com a conservação do solo, da água e da fauna selvagem;
•    Promover o desenvolvimento dos bosques de azinho, zambujeiro e alfarrobeira, proporcionando condições para a regeneração natural;
•    Promover um amplo programa de sensibilização e educação ambiental direcionado para a população local, proprietários de gado e caçadores, de modo a sensibilizar a população, antes da reintrodução do Lince-ibérico;
•    Sendo os atropelamentos  a principal causa de morte não natural do Lince-ibérico, nos locais assinalados como possíveis pontos negros locais de atropelamento deverão ser construídas passagens áreas ou subterrâneas;
•    Assegurar o correto ordenamento da ocupação humana turística e dos usos recreativos, promovendo ativamente o turismo de natureza, de forma a conciliar o seu usufruto com a conservação dos valores naturais em presença.

Para avaliar a Área Protegida foi elaborado um quadro, que é colocado em baixo, com base numa análise que apresenta o diagnóstico (Forças e Fraquezas) e o prognóstico (Oportunidades e Ameaças).

tabela PNGuadiana