A Quercus manifesta a sua profunda preocupação relativamente ao projeto da Central Fotovoltaica da Beira, prevista para os concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova. O projeto contempla a instalação de 425.600 módulos fotovoltaicos, com uma potência total de 266 MW, numa área de 524,4 hectares. A energia gerada será escoada através de uma nova linha aérea de 220 kV, com aproximadamente 33 km de extensão, até à subestação de Castelo Branco.
Apesar da relevância da produção de energia renovável para a transição energética e combate às alterações climáticas, a dimensão e localização deste projeto levantam sérias reservas de ordem ambiental:
- Área de implantação excessiva
- A instalação de uma nova linha elétrica de 33 km agrava o impacto cumulativo da infraestrutura de transporte de energia no território.
- Proximidade e sobreposição com a Zona de Proteção Especial (ZPE) do Tejo Internacional, Erges e Ponsul
- A área de estudo do projeto abrange uma parte significativa do novo limite da ZPE, já aprovado, que se justifica pela relevância ecológica e pela necessidade de proteção de várias espécies ameaçadas.
- Segundo o documento técnico de suporte à alteração dos limites da ZPE, a área inclui montados de sobro e azinho e zonas abertas intercaladas com matos pouco densos, fundamentais para espécies como a Águia-imperial-ibérica, a Cegonha-preta, o Tartaranhão-cinzento, o Sisão e o Cortiçol-de-barriga-preta, entre outras. Por outro lado, a área de implantação mantém características únicas que a tornam num habitat potencial para espécies já desaparecidas localmente, mas cuja recolonização seria possível e desejável num quadro de recuperação ecológica. É diferente de intervir numa área já degradada: aqui estamos a falar de destruir um património ecológico ainda raro, com potencial de restauro e valor único no contexto nacional.
- Impactos sobre a Águia-imperial-ibérica e outras espécies protegidas
- A zona de implantação constitui habitat potencial de nidificação e alimentação da Águia-imperial-ibérica, espécie criticamente ameaçada em Portugal.
- A expansão da ZPE foi precisamente aprovada para assegurar proteção às áreas de alimentação, nidificação e pouso desta e de outras espécies de elevado valor de conservação.
- Perda de habitats ainda remanescentes
- Embora a região já se encontre bastante degradada pelo avanço do amendoal intensivo, a instalação da central implicará a destruição do que resta de habitats de montado de sobro e azinho relativamente bem conservados.
- A instalação da infraestrutura irá obrigar à impermeabilização e mobilização de solos agrícolas e classificados com reserva agrícola ou ecológica.
- A perda destes ecossistemas compromete ainda mais a biodiversidade e agrava a fragmentação de habitats num território já pressionado por usos agrícolas intensivos.
A Quercus considera que a concretização da Central Fotovoltaica da Beira, nos moldes propostos, representa um risco elevado e desnecessário para valores naturais que se pretendeu justamente proteger com a recente ampliação da ZPE do Tejo Internacional.
A associação defende que:
- Devem ser privilegiadas áreas já artificializadas ou de menor valor ecológico para a instalação de grandes centrais solares;
- É essencial garantir a compatibilização entre a transição energética e a conservação da biodiversidade;
- A instalação desta central, nesta localização, deve ser revista, sob pena de provocar perdas irreversíveis para espécies ameaçadas e para habitats de relevância nacional e internacional.
A Quercus apela a todos os cidadãos que participem ativamente na consulta pública do projeto da Central Fotovoltaica da Beira, disponível em participa.pt, utilizando os dados técnicos que disponibilizamos, para que a proteção da biodiversidade e dos habitats seja devidamente considerada no processo de decisão.
Castelo Branco, 3 de outubro de 2025
O Núcleo Regional de Castelo Branco da Quercus – ANCN