A Quercus e a AVIS Portugal celebraram hoje, dia 2 de Outubro, pelas 15 horas, no Hotel Pestana Sintra Golfe, um protocolo com vista à preservação da micro-reserva da Peninha, sita no Parque Natural de Sintra-Cascais. Do programa constou ainda uma visita guiada ao local por Pedro Arsénio, especialista em fitossociologia da ALFA – Associação Lusitana de Fitossociologia.
A criação desta microreserva resultou da celebração de um memorando de entendimento entre a Quercus e o Parque Natural de Sintra-Cascais, serviço local do Instituto da Conservação da Natureza que gere esta propriedade do Estado.
Relativamente ao protocolo estabelecido com a Avis Portugal, segundo Humberto do Carmo, Director geral da Avis, “é um orgulho colaborar com a Quercus num projecto de tão grande relevância para a defesa do habitat da região de Sintra. A politica de apoio à defesa do ambiente tem vindo a pautar as acções sociais da nossa empresa com o objectivo mais lato de compensar as emissões de CO2 derivadas da sua própria actividade e que já motivou um largo investimento em viaturas híbridas, constituindo uma acção pioneira no sector de aluguer de viaturas em toda a Europa”
Esta iniciativa insere-se no projecto de criação de uma rede de micro-reservas biológicas que a Quercus-ANCN está a desenvolver através do apoio do Fundo Quercus Para a Conservação da Natureza.
O que é uma micro-reserva?
Por todo o território nacional, existem elementos do património natural descontínuos e com pequenas áreas de ocupação, como por exemplo, comunidades de leitos de cheia, escarpas litorais, afloramentos com flora especializada, grutas com morcegos e invertebrados troglóbias, charcas temporárias essenciais à preservação dos anfíbios ou pequenos bosques reliquiais. Estes espaços estão ameaçados porque a sua própria existência é ainda ignorada, ou porque a gestão dos seus proprietários é obviamente direccionada apenas em termos da rentabilidade económica e ainda porque as entidades com poder de decisão não têm muitas vezes consciência da sua relevância para a conservação. Tendo estes espaços, na sua grande maioria, singular importância para a conservação e, não existindo uma figura legal apropriada à gestão destes espaços, o conceito de “micro-reserva” surge como uma ferramenta essencial à preservação de espécies e habitates.
As micro-reservas são pequenas áreas protegidas, raramente com mais de 20 hectares e têm obrigatoriamente que possuir um plano de gestão. A criação de micro-reservas biológicas é um processo que se desenvolve por várias etapas: a identificação do local, os contactos com os proprietários, a validação científica e a formalização jurídica da sua protecção.
A nova micro-reserva na Peninha
A Peninha é uma área de inegável valor botânico, onde se regista a presença de diversos endemismos lusitanos e habitats naturais de ocorrência muito restrita. De acordo com os dados de que a Quercus dispõe, reforçados por um parecer científico da ALFA – Associação Lusitana de Fitossociologia, este local encontra-se sujeito a ameaças de relevo. A proposta agora apresentada visa a intervenção nas áreas mais importantes do ponto de vista botânico, procurando remover as ameaças.
As espécies que justificam a nossa intervenção são as seguintes:
– Armeria pseudarmeria (Cravo-romano) endemismo lusitano, restrito aos solos graníticos e basálticos da Península de Lisboa;
– Juncus valvatus, endemismo lusitano, restrito ao litoral centro do país, ocorre na encosta da Peninha em linhas de escorrência, onde é raro;
– Rhynchosinapis pseuderucastrum subsp. cintrana, endemismo lusitano restrito às áreas montanhosas do litoral centro do país.
– Dianthus cintranus subsp. cintranus (Cravo-de-Sintra). Endemismo da região de Sintra, é relativamente frequente nas linhas de festo da Peninha e em afloramentos rochosos;
– Ulex jussiaei subsp. congestus, endemismo lusitano, restrito ao litoral centro do país, é frequente na Peninha.
Salienta-se ainda a presença de um núcleo populacional de Phyllitis scolopendrium (Língua-de-veado), espécie escassa em Portugal, particularmente no Sul do país.
Do ponto de vista dos habitats naturais, salienta-se a proximidade da maior mancha de carvalhal do PNSC (Habitat 9230 do Anexo I da Directiva Habitats, Carvalhais galaico-portugueses de Quercus robur e Quercus pyrenaica).
Ameaças
Na área da Peninha, verifica-se a existência de ameaças importantes para a conservação dos valores botânicos supracitados, designadamente:
Pisoteio, factor que é responsável por uma regressão importante dos núcleos populacionais de Armeria pseudarmeria (Cravo-romano), Rhynchosinapis pseuderucastrum subsp. cintrana e Dianthus cintranus subsp. cintranus (Cravo-de-Sintra);
Expansão de Acacia melanoxylon (Acácia-austrália), verificando-se a presença de alguns exemplares dispersos que estão a constituir um banco de sementes. Este facto poderá potenciar uma futura situação de invasão da Peninha, na sequência de um fogo.
Seria ainda importante avaliar a situação populacional de Juncus valvatus, espécie que poderá encontrar-se em franca regressão no local.
Acções em curso e acções previstas
Já está a ser efectuado o controlo do pisoteio, através da instalação de vedações sinalizadoras, acompanhadas de painéis explicativos e sinalizadores.
Já foi também marcado no terreno um trilho interpretativo e foi editado um pequeno Guia de Visita.
Serão instaladas cancelas nas duas entradas da propriedade, visando diminuir o acesso de viaturas.
Vai decorrer acções de controlo de acácias e plantação de espécies de folhosas autóctones nos pontos de cota mais elevada, designadamente Quercus pyrenaica (Carvalho-negral).
Uma rede em crescimento
Este é um projecto que se desenvolve em todo o país, com seis áreas já em execução. A área da Peninha no Parque Natural Sintra-Cascais aqui descrita, escarpas com nidificação de aves rupícolas no Tejo Internacional, um abrigo de morcegos do Sítio “Sicó-Alvaiázere”, uma turfeira na Serra da Freita, um terreno para preservação de Linaria ricardoi em Cuba, e um terreno para preservação de Narcissus pseudonarcissus subsp. nobilis. Estão em estudo intervenções em diversos outros locais ao longo do País.
O espaço para a realização desta cerimónia de apresentação foi gentilmente cedido pelo Hotel Pestana Sintra Golfe www.pestana.com
Lisboa, 2 de Outubro de 2006
A Direcção Nacional da
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza