Dia Mundial do Turismo – Modelo Insustentável Continua a ser Implementado

Hoje, Dia Mundial do Turismo, a QUERCUS chama a atenção para o facto dos responsáveis políticos e alguns empresários continuarem a insistir, em várias regiões do país, na implementação de um modelo turístico que já se revelou económica e ambientalmente insustentável.

 

Apesar do modelo turístico aplicado no Algarve estar a dar sinais evidentes de ruptura, que comprometem claramente o seu próprio futuro, têm surgido vários projectos de desenvolvimento turístico e imobiliário que reflectem a tendência para cometer os mesmos erros noutras regiões.

 

Valores naturais atraem investimentos turísticos avultados

 

O principal factor que leva ao surgimento de projectos turísticos e imobiliários numa determinada região prende-se quase sempre com a existência de valores naturais preservados. Os pequenos paraísos ainda existentes junto ao litoral e em algumas zonas do interior do país são muito apetecidos pelos promotores turísticos que procuram, juntamente com os seus investimentos, “vender” os vários componentes da Natureza: clima, ar puro, diversidade faunística e florística, paisagem, mar, etc.

 

Turismo de massas compromete Áreas Protegidas

 

Por esta razão, têm sido apresentados inúmeros projectos a ser desenvolvidos em Áreas Protegidas e Sítios da Rede Natura 2000 que, pelas suas dimensões e filosofia, conduzem ao desenvolvimento de um turismo massificado que compromete a salvaguarda dos nossos valores naturais e particularmente da paisagem e da biodiversidade.

 

Incompreensivelmente, os responsáveis políticos e os próprios investidores ainda não compreenderam que a implementação deste modelo acaba por destruir as características naturais e o equilíbrio que torna tão atractivo o nosso país ou uma determinada região em particular.

 

Assim, a QUERCUS está profundamente preocupada com os inúmeros projectos de dimensões excessivas e filosofia errada que têm sido apresentados para desenvolvimento em várias áreas sensíveis:

 

Litoral Alentejano ameaçado por 30 mil camas turísticas

O Litoral Alentejano, uma das poucas zonas ainda preservadas no litoral português, é uma das regiões que está neste momento mais ameaçada por um vasto conjunto de investimentos turísticos/imobiliários. O Plano de Pormenor da Costa de Santo André, em Santiago do Cacém, cuja discussão pública terminou recentemente sem o obrigatório parecer do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), prevê a implantação de mais de 2000 camas turísticas em cerca de 80.000 m2 da Rede Natura 2000 (Sítio Comporta/Galé).

 

Este Plano de Pormenor prevê a implantação de três hotéis, um aldeamento turístico, um complexo desportivo, o aumento da capacidade do parque de campismo existente e inúmeros imóveis de 2ª habitação que farão quintuplicar a pressão humana nesta zona do Litoral Alentejano.

 

Vários grupos económicos (Sonae, Pestana, Amorim, Espírito Santo, Pelicano, Sapec e Costa Terra) têm preparado um conjunto de investimentos para os 45 quilómetros de costa entre Tróia e Melides, no concelho de Grândola, que pretende implantar até 2010 mais de 30 mil novas camas turísticas, o mesmo número existente no Arquipélago da Madeira, actual segundo maior destino turístico de Portugal.

 

Para além das novas unidade hoteleiras em Melides, Carvalhal, Pinheirinho, Comporta e Tróia, estes investimentos incluem também a construção de cinco campos de golfe e de uma marina, um centro de congressos e um casino na península de Tróia.

 

Parques e Reservas na mira de promotores turísticos 

O Parque Natural Sintra-Cascais, com uma lista de mais de 30 empreendimentos turísticos e imobiliários para aprovação, a Reserva Natural do Estuário do Tejo, com o projecto para a exploração turística do Mouchão da Póvoa com a instalação de 190 unidades de alojamento isoladas e um campo de golfe, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, com uma dúzia de projectos de empreendimento turístico e de habitação para alojamento de mais de 20 mil pessoas, a Zona de Protecção Especial da Ria de Aveiro, com o sempre insistente projecto imobiliário da Marina da Barra que prevê 130 moradias, 420 apartamentos, 2 hóteis e 858 lugares para embarcações e os projectos na calha para o Parque Natural da Ria Formosa, são algumas das situações que deixam a QUERCUS profundamente preocupa com o modelo de desenvolvimento turístico que se pretende implementar em zonas sensíveis.

 

Queremos modelo turístico sustentável

 

A QUERCUS entende que os valores naturais existentes no país podem e devem ser potenciados ao nível turístico mas sem comprometer esses mesmos valores. Significa isto que não é admissível fazer entrar nestes espaços com estatuto de protecção investimentos que descaracterizam e provocam desequilíbrios profundos no seu estado de conservação.

 

A riqueza natural do país deve ser vista como uma mais valia para um turismo regrado e de qualidade e como tal as infra-estruturas de apoio a esse mesmo turismo devem ser convenientemente dimensionadas e localizadas. É necessário investir num modelo turístico sustentável e extensivo que valorize a riqueza natural de Portugal sem a destruir.

 

Lisboa, 27 de Setembro de 2004

A Direcção Nacional da QUERCUS- Associação Nacional de Conservação da Natureza