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Cogumelos – Importância ecológica

Cogumelos – Importância ecológica

Por Andreia Gama

 


 

 

cogumelosCerca de 80% das plantas estabelecem micorrizas em condições naturais, o que representa grandes vantagens para as plantas, não apenas pelo aumento de absorção de nutrientes – estimulando o seu crescimento –, mas também alguns fungos micorrízicos podem reduzir efeitos provocados por alguns organismos patogénicos, tornando-se deste modo elementos de luta biológica.

Os fungos, juntamente com as bactérias, são os únicos seres vivos existentes capazes de digerir duas das substâncias presentes numa árvore – lenhina e celulose – realizando a decomposição da matéria orgânica. Através desta decomposição, os fungos promovem a reciclagem de nutrientes que já fizeram parte de outros seres vivos.

Algumas estimativas do número de espécies de fungos existentes na Terra apontam para valores na ordem 1.500.000 (Hawksworth, 1995). Segundo Gillean T. Prance (1993) algumas espécies fúngicas já se encontram em declínio em alguns habitats, por razões de diversa ordem, desde a chuva ácida até à colheita excessiva das espécies comestíveis mais populares.

Os macrofungos são fungos com “grandes” estruturas reprodutoras, designadas por esporocarpos, carpóforos ou então o nome mais comum – cogumelos. Estes são os corpos frutíferos dos fungos, ou seja, são a parte visível que os fungos necessitam para a sua reprodução, os quais têm por função a produção e dispersão de esporos (o equivalente às sementes nas plantas) que permitem a sua disseminação. O fungo é constituído pelo micélio – rede de filamentos, através dos quais fazem a absorção de nutrientes e de água essenciais ao seu desenvolvimento – e pelo cogumelo em si – estrutura reprodutora. Os períodos de frutificação são muito aleatórios e algumas espécies não ocorrem todos os anos, sendo o Outono e a Primavera a época por excelência para o seu aparecimento. Se alguns carpóforos persistem alguns anos, a maior parte desaparece em menos de uma semana. As espécies mais pequenas são ainda mais efémeras – alguns Coprinus ou Mycenas minúsculas esvanecem-se em algumas horas. O aspecto morfológico do cogumelo varia não só com a espécie mas também em função da idade, o que por vezes pode complicar a sua identificação se não se tiver exemplares em diferentes estágios de crescimento.

A sazonalidade é das questões mais importantes quando se tenta estimar a diversidade macrofúngica, dependendo o aparecimento dos carpóforos de factores como a temperatura, precipitação, ph do solo, disponibilidade de nutrientes e os padrões de sucessão da vegetação.

A inventariação das espécies fúngicas é um passo essencial que falta concretizar na maioria dos países, entre os quais se inclui Portugal. É necessário efectuar inventários, mapeamento e criar listas vermelhas, sendo que a avaliação da diversidade de macrofungos exige alguns anos de inventário até que a curva espécies/área estabilize. Segundo Régis Courtecuisse (2001) um passo muito importante deverá e pode ser dado de forma rápida e efectiva como estratégia de conservação, e que consiste na conservação dos seus habitats. Os fungos não podem ser protegidos individualmente, pois a sua biologia, as frequentes dificuldades inerentes à sua identificação, mesmo por parte dos especialistas, entre outras peculiaridades, não se adequam com esta opção.

Existem três factores que dificultam a tentativa de analisar a diversidade macrofúngica de acordo com Arnolds (1995):

• Tempo de vida do carpóforo – podem viver desde apenas algumas horas até mais de um ano;
• Sazonalidade das frutificações – fortemente relacionada com as condições climatéricas;
• Flutuações – em que as condições climatéricas condicionam a produção de esporocarpos.

Contudo, pequenos passos começam a ser dados em Portugal. Em várias áreas protegidas têm vindo a ser desenvolvidos trabalhos de inventariação de macrofungos. É essencial a compilação desta informação e que estes sejam trabalhos continuados. É igualmente indispensável a sensibilização de todos sobre a importância dos macrofungos, com o seu papel fundamental na ecologia e o seu lugar de destaque na esfera económica.

Desde há alguns anos que a necessidade de fornecer protecção adicional às espécies fúngicas foi reconhecida dentro do grupo da Convenção de Conservação da Vida Selvagem e Habitats Naturais da Europa (Convenção de Berna). Até ao momento, não existem espécies fúngicas representadas nos Apêndices da Convenção.” Uma das razões reside no facto do “estado de conservação de muitas espécies ser desconhecido (…) ”
(in Swedish proposal to include fungi species in Appendix 1 of the Bern Convention, 2002).

Efectivamente, uma das formas de colmatar esta lacuna consiste na criação das listas vermelhas nos diferentes países. Se já foi difícil definir o estatuto de novidade das espécies para Portugal, definir o seu estatuto de conservação é sem dúvida ainda mais complicado. Tomando esta situação em consideração apresentam-se seguidamente alguns itens para a conservação dos macrofungos no seu todo.

Considera-se então necessário:
• conservação dos seus habitats, pois só assim será possível garantir a sua conservação;
• sistematização da informação já existente sobre a ocorrência das espécies macrofúngicas, de forma a tornar a sua consulta mais simplificada;
• realização de estudos de inventariação dos macrofungos, contribuindo para o crescimento do conhecimento relativo ao nosso património fúngico;
• investir na formação de técnicos especializados na área dos macrofungos;
• regulamentação da colheita de cogumelos, realidade com relevância económica mas que não tem qualquer instrumento legal que a regule;
• sensibilização da população para a importância dos macrofungos no equilíbrio ecológico.
• A implementação destas medidas permitirá a criação de uma Lista Vermelha de fungos para Portugal, a sua conservação e uma boa gestão do património micológico.

 

 

Colheita de Cogumelos em Portugal

 

Para além do importante papel no equilíbrio dos ecossistemas, outros papéis relevantes dos cogumelos encontram-se na alimentação, na medicina (para obtenção de diversos medicamentos), e na economia, fazendo parte de um mercado vasto e em crescendo que necessita de ser regulamentado.

A colheita de cogumelos silvestres são uma fonte de rendimento importante de muitas famílias em Portugal, contudo, esta actividade não é regulamentada, existindo num mercado paralelo. Os principais clientes vêm de Espanha, França, Itália, países onde o consumo de cogumelos faz parte das suas realidades culturais e gastronómicas, mas em que a colheita já se encontra regulamentada.

A colheita de cogumelos em Portugal não se tem realizado da melhor forma, e por desconhecimento da importância deste grupo de seres vivos para o equilíbrio do meio natural, os seus colectores cometem algumas incorrecções, as quais serão importantes corrigir para que se garanta a continuidade das mesmas.

Deixamos aqui algumas técnicas e princípios que os colectores de cogumelos deverão ter em consideração para que todos os anos, estes extraordinários e misteriosos seres vivos, essenciais ao equilíbrio dos ecossistemas, continuem a ocorrer.

A colheita deve então ser efectuada de acordo com determinadas técnicas e princípios:
• colher apenas os cogumelos que tenham atingido a maturidade (deverão ter já o chapéu aberto, de forma a terem libertado os esporos), de modo a se garantir a continuidade da espécie;
• colher os cogumelos cuidadosamente pela base, utilizando um canivete, de forma a não danificar o micélio nem a vegetação circundante ou as raízes das árvores;
• os cogumelos devem-se transportar em cestos ou outro recipiente similar, para que permita o arejamento destes e a dispersão dos esporos (nunca em sacos ou contentores plásticos);
• não colher indivíduos muito maduros ou deteriorados (poderão estar atacados por larvas, insectos ou fungos, tornando-se perigoso o seu consumo);
• não colher todos os cogumelos de uma mesma espécie presentes num determinado local (deixando alguns exemplares garante a dispersão dos esporos e promove o aumento do número de indivíduos da espécie);
• não colher cogumelos que suscitem dúvidas na sua identificação;
• não destruir os cogumelos não comestíveis, pois estas espécies desempenham um papel fundamental na natureza.

Por sua vez, determinadas práticas deverão ser erradicadas:
• colheita de exemplares em ovo de Amanita-dos-césares (Amanita caesarea);

• colheita de exemplares de Boletus com diâmetro de chapéu inferior a 3 cm, e de Cantharellus com diâmetro inferior a 2 cm;
• colheita durante a noite (do pôr do sol até ao amanhecer);
• a colheita de cogumelos junto a estradas, zonas industriais e terrenos de agricultura intensiva (os cogumelos têm a capacidade de acumular nos seus tecidos metais pesados e outros produtos tóxicos como pesticidas, cogumelos comestíveis poderão tornar-se venenosos devido à absorção destes produtos tóxicos);
• não colher cogumelos após as chuvas, mas somente em dias secos.

E assim teremos uma colheita sustentável!

 


Bibliografia:
ARNOLDS, E. (1995). Problems in Measurements of Species Diversity of Macrofungi – CAB International. Netherlands.
COURTECUISSE, R. (2001). Current trends and perspectives for the global conservation of fungi. In MOORE, D. ; NAUTA, M. M. ; EVANS, S. E ; ROTHEROE, M. (Editors). Fungal Conservation – Issues and Solutions, pp. 7 – 18 Cambridge University Press, Cambridge.
DURRIEU, G. (1993). Écologie des Champignons. Masson, Paris.
GAMA, A. (1995). Cogumelos. CMCB, Castelo Branco.
GERHARDT, E. (1997). Guide Vigot des Champignons. Vigot. Paris.
HAWKSWORTH, D. L.; KIRK, P. M.; SUTTON, B. C.; PEGLER, D. N. (1995). Ainsworth&Bisby’s – Dictionary of the Fungi. Eighth Edition. Cab International, Cambridge.
LARGENT, L. D. (1977). How to Identify Mushrooms to Genus I: Macroscopic Features. Mad River Press Inc. Eureka.
MAUBLANC, A. (1995). Champignons comestibles et vénéneux. Éditions Lechevalier. Paris.
NEVES, S. (1999). Os cogumelos e a floresta – Mata da Margaraça. Instituto da Conservação da Natureza.
PRANCE, G. T. (1993). Preface. In D. N. Pegler, L.; Boddy, B. Ing.; P. M. Kirk (Editors). Fungi of Europe – Investigation, Recording & Mapping. The Royal Botanic Gardens. Kew
RANDY, M. et al. (2001) Fungal Conservation in the 21st Century : Optimism and pessimism for the future. In MOORE, D. ; NAUTA, M. M. ; EVANS, S. E. ; ROTHEROE, M. (Editors). Fungal Conservation – Issues and Solutions, pp. 247 – 255 Cambridge University Press, Cambridge.
Swedish proposal to include fungi species in Appendix 1 of the Bern Convention. Ministry of the Environment, Stockholm, Sweden, 23 de Outubro de 2002.