Quem quer saber do mar?
Ana João | 31 de Julho de 2025
De uma maneira ou de outra, tu sabes que o mar é importante. Sabes que não o deves poluir. Mas como é que a nossa segurança, a saúde dos oceanos, e o aquecimento global estão ligados? E acima de tudo, porque é que o problema é teu, meu, e nosso? Vem conectar os pontos!
Porque é que os oceanos são tão importantes?
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Regulam o clima e a qualidade do ar: absorvem 25 a 30% das emissões de CO2 humanas e mais de 90% do excesso de calor gerado pelo aquecimento global.
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Alimentam-nos: Fornecem uma fonte vital de proteínas e micronutrientes para milhões de pessoas na UE. A pesca e a aquicultura sustentáveis são essenciais para a segurança alimentar, especialmente em regiões costeiras.
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São um pilar da economia: os setores ligados ao mar como pesca, turismo, e transporte asseguram emprego digno, inovação, e coesão territorial.
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Protegem-nos: Os ecossistemas marinhos, como os recifes, protegem-nos de tempestades violentas e filtram poluentes.
O estado de graça do nosso mar
Atualmente, os nossos oceanos estão a sofrer níveis de deterioração catastróficos. A ameaça é tripla e mortífera: aquecimento global + poluição + sobrepesca.
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O aquecimento global tem vindo a provocar a subida acelerada do nível médio do mar. Além disso, os oceanos estão a ficar mais ácidos, quentes, e pobres em oxigénio (expansão de zonas mortas com níveis baixos de oxigénio).
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A poluição industrial (carvão) e as ilhas de plástico espalhadas pelos oceanos estão a contaminar espécies marinhas e, por conseguinte, os nossos corpos. Falamos de microplásticos e contaminantes persistentes como o mercúrio, que se acumulam em mariscos e peixes e são absorvidos pelo consumidor.
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A sobrepesca não permite que as populações adultas de espécies se renovem. Isto provoca colapsos de stocks de espécies comerciais como o bacalhau e o atum. Além disso, desequilibra os ecossistemas marinhos por remover predadores e outras espécies-chave e criar condições para a proliferação de espécies invasoras. O cenário é de perda de biodiversidade, que enfraquece a resiliência ecológica dos oceanos.
Porque é que a deterioração dos oceanos é um problema teu, meu, e do coletivo?
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A acidificação ameaça corais e moluscos que dependem do carbonato de cálcio para formar conchas e esqueletos. As temperaturas levam stocks de peixe a migrar para latitudes mais altas. Temos, portanto, menos alimento disponível, o que coloca a segurança alimentar em risco. A menos peixe junta-se o problema de peixe prejudicial para a saúde, cortesia da poluição.
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A subida do nível do mar causa erosão costeira, inundações e perda de território. Nações insulares de baixa altitude e regiões deltas enfrentam um risco muito elevado de subsistência.
Um mar mais quente, ácido, desoxigenado, poluído, e sem biodiversidade é um mar incapaz de prestar serviços ecológicos essenciais. Entre estes serviços estão a proteção contra tempestades violentas, o sequestro de carbono, e a regeneração natural.
A UE reconhece o que está em risco e visa proteger o mar através de legislação:
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O Pacto Ecológico Europeu reconhece os oceanos como fonte crucial de riqueza natural e bem-estar para os cidadãos europeus. Nele há um compromisso com a proteção da biodiversidade marinha e ecossistemas costeiros, promoção de uma economia azul e redução da poluição.
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A Estratégia de Biodiversidade para 2030 visa proteger 30 % dos mares da UE, incluindo a expansão de áreas protegidas marinhas e a restauração de habitats degradados.
Mas estes protocolos não dão resposta adequada. O que está legislado não é necessariamente implementado.
As vozes críticas da ação europeia sublinham a permissão de pesca por arrasto em áreas marinhas protegidas e o incumprimento de medidas por Estados membro. Os próprios órgãos europeus são relutantes em fiscalizar estes incumprimentos. Também se sublinha a falta de controlo sobre atividades ilegais como descargas de resíduos e uso ilegal de redes.
Por fim, há resistência à adoção de medidas mais exigentes. O lobby da indústria da pesca é uma das maiores barreiras à execução de políticas realmente protetoras. De facto, são vários os países europeus com grandes indústrias da pesca que se opõem a este tipo de medidas.
O mar também é teu!
É nosso dever conectar os pontos. Precisamos do mar para sobreviver e o mar precisa de nós para nos continuar a proteger. Como cidadãos, pressionemos os nossos dirigentes para que coloquem a sustentabilidade dos oceanos no topo da ordem de trabalhos. Deles dependem a nossa segurança alimentar, a qualidade do nosso ar, e a integridade da nossa costa.
Referências:
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Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC;
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Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera num Clima em Mudança (SROCC);
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Comissão Europeia: https://commission.europa.eu/strategy-and-policy/priorities-2019-2024/european-green-deal/protecting-environment-and-oceans-green-deal_pt ; https://environment.ec.europa.eu/strategy/biodiversity-strategy-2030_en