Responsabilidade Climática

Afinal, quem banca a crise climática?

Ana João  | 21 de Julho de 2025

Vamos entender porque é que uns devem pagar mais do que outros no que diz respeito às alterações climáticas:

O princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas

O Acordo de Paris (2015) estabelece níveis de responsabilidade diferenciados a Estados Desenvolvidos e Subdesenvolvidos:

Aos países desenvolvidos, incluindo os EUA, Canadá, Japão, Austrália e o grupo UE, é atribuída a maior responsabilidade climática. O grupo deve liderar os esforços de mitigação e atribuir financiamento e apoio tecnológico aos países menos desenvolvidos.

Por outro lado, dá-se mais flexibilidade e apoio aos países subdesenvolvidos. Estes reconhecem que têm o dever de agir mas poderão fazê-lo de acordo com o que as suas circunstâncias permitirem.

Mas se o problema é global, porque é que se exigem níveis diferenciados de responsabilização?

O custo do desenvolvimento

As emissões de gases que causaram esta crise não começaram hoje. De facto, há uma responsabilidade histórica que é preciso ter em conta.

A subida da temperatura global está fortemente ligada ao aumento drástico nas emissões de CO2 de alguns países aquando da Revolução Industrial. Os países historicamente responsáveis pela crise climática são, então, aqueles que se puderam industrializar sem restrições durante séculos e que, por isso, hoje detêm mais recursos financeiros para lidar com impactos climáticos.

Do outro lado da moeda temos países que historicamente contribuíram muito pouco para a crise climática. Falamos de países mais pobres, e com pouca capacidade económica para levar a cabo uma transição energética.

Mas, olhando para a História, há países pobres com altos níveis de emissões. Para compreender isto, temos que falar de colonialismo.

Histórico colonialista

As emissões são calculadas com base nas fronteiras nacionais atuais. Isto ignora o facto de que muitos países estiveram sob o controlo de potências coloniais como o Reino Unido, os Países Baixos e a França. Durante séculos, estas potências enriqueceram ao minar recursos nas colónias.

O Carbon Brief realizou uma análise em que atribui todas as emissões de ex colónias durante o período colonial às nações colonizadoras. Os resultados mostram que a proporção de emissões atribuída à Rússia, ao Reino Unido, à França e aos Países Baixos aumenta bastante, enquanto que países como a Indonésia e a Índia veem a sua responsabilidade diminuir.

Olhar para a História demonstra que as antigas potências coloniais têm uma responsabilidade ainda maior do que aquela que é indicada pelas fronteiras atuais.

Impactos desproporcionais

Os países menos desenvolvidos não só contribuem menos para a crise climática, mas também estão entre os que mais sofrem com os seus efeitos.

Por um lado, o aumento dos desastres climáticos e do nível do mar afetam bastante o Sul Global. Estes países têm menos capacidade para se adaptarem a fenómenos extremos devido a falta de recursos e dependência direta de agricultura. Por outro lado, é-lhes mais difícil aumentar os seus recursos se não puderem utilizar os mesmos meios devastadores para o ambiente que os países mais industrializados usaram.

E a China?


A China é atualmente o maior emissor de gases com efeito de estufa do mundo. Por isso, o seu papel é central na resposta à crise climática. No entanto, a China só começou a industrializar-se em grande escala nas últimas décadas. Quando olhamos para as emissões acumuladas desde a Revolução Industrial, países como os EUA e várias potências europeias continuam a liderar.
Além disso, a China continua a ser considerada um país em desenvolvimento, com centenas de milhões de pessoas ainda a viver com rendimentos baixos. Apesar disto, começa a haver pressão Ocidental para que a China seja mais responsabilizada.

No fundo, a crise climática foi alimentada por uns e terá o impacto mais devastador sobre outros. É essencial ganhar consciência de que as consequências do aquecimento do planeta já começam a ser devastadoras, ainda que não deste lado do mundo.

Fontes:

https://dgap.org/en/research/glossary/climate-foreign-policy/common-differentiated-responsibilities-cbdr

https://unfccc.int/news/the-explainer-the-paris-agreement

https://ccpi.org/historical-responsibility-for-the-climate-crisis-the-roots-of-the-unfair-imbalance/

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