Alterações climáticas – Portugal em relação ao Mundo e à União Europeia em termos de emissões

A Quercus utilizou um instrumento desenvolvido pelo World Resources Institute para averiguar a posição de Portugal em relação ao resto do mundo e à União Europeia em termos das emissões dos gases de efeito de estufa, bem como o ranking dos maiores poluidores à escala mundial.

 

A ferramenta utilizada, o CAIT – The Climate Analysis Indicators Tool, foi apresentada num evento paralelo à Conferência na passada sexta-feira. O World Resources Institute é uma importante organização não governamental com sede em Washington que publica anualmente diversos relatórios sobre ambiente e desenvolvimento sustentável.

 

Os dados utilizados são resultantes de múltiplas fontes credíveis, nomeadamente a OCDE, o IPPC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), a Agência Internacional de Energia, o Banco Mundial. Os dados disponíveis na ferramenta utilizada englobam 186 países.

 

Interpretando os dados de Portugal

 

Em 2000, Portugal foi o 49º país com maiores emissões de gases de efeito de estufa do planeta, apesar de ser o 97º em termos de população. Em termos de emissões anuais, Portugal ocupava no ano 2000 a 9ª posição na União Europeia (13ª posição em termos de emissões per capita), apesar de ser a penúltima economia desta região. Verificou-se aliás um gravamento em termos de ranking entre 1990 e 2000, com Portugal a subir quatro posições em termos de emissões anuais e duas em termos de emissões per capita.

 

Note-se aliás que as emissões per capita são um indicador enganador se descontextualizado, o que tem aliás sido sobejamente utilizado por estudos realizados ou encomendados pela indústria portuguesa. Este indicador deve ser corrigido de acordo com as condições climáticas e respectivas necessidades energéticas (Portugal é o 12º país da União Europeia em termos de necessidades energéticas para aquecimento e o 7º em termos de arrefecimento).

 

Um dos mais importantes indicadores de eficiência económica é a intensidade carbónica do uso da energia e da economia como um todo. Em 2000, Portugal apresentava o 4º e o 9º lugar, respectivamente, sendo que quanto mais elevada é a posição pior em termos de eficiência.

 

A má performance de Portugal é confirmada por um outro indicador não presente na ferramenta utilizada – a intensidade energética – que traduz a quantidade de energia necessária para produzir riqueza (consumo de energia por PIB – produto interno bruto), em que Portugal apresenta o maior valor da União Europeia, com tendência para aumentar.

 

Portugal – o único país contra ciclo da União Europeia

 

A Quercus, presente na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas a decorrer em Milão até dia 12 de Dezembro, reforça a ideia de que Portugal deve aproveitar a necessidade de reduzir as suas emissões não como uma mera obrigação, mas acima de tudo como uma oportunidade de tornar a nossa economia mais eficiente e como tal mais competitiva.

 

Todos os países da União Europeia à excepção de Portugal conseguiram diferenciar o desenvolvimento económico (avaliado pela variação do PIB-produto interno bruto) e as emissões de gases de efeito de estufa. Isto é, na maioria dos países o PIB tem aumentado e as emissões diminuído. Em Portugal, a variação do PIB no último ano sofreu um aumento muito reduzido, apesar de um aumento do consumo de energia de cerca de 6%, o que certamente implicará um aumento de emissões de alguns pontos percentuais.

 

Interpretando os dados mundiais

 

A ferramenta disponibilizada pelo World Resurces Institute possibilita diversas comparações, como seja o facto de na China cada pessoa emitir menos de metade de cada português, na Índia cada pessoa emitir cerca de cinco vezes menos e em Cabo Verde, 16 vezes menos. Já entre Portugal e a média Europeia, no ano 2000, Portugal apresentava uma diferença de cerca de 20% a menos, justificada em grande parte pelo facto de não sermos um país que apresente temperaturas tão baixas como grande parte da Europa durante o Inverno e por isso não precisarmos de consumir tanta energia em aquecimento e de nos Estados Unidos da América, cada pessoa emitir quase três vezes mais em relação a cada português.

 

No ranking mundial, é de notar a quebra da Federação Russa em termos do total de emissões entre 1990 e 2000, a ultrapassagem da União Europeia pela China e a forte presença de países produtores de petróleo quando o ranking é feito tendo em conta a população (isto é, per capita).

 

Informações adicionais no ficheiro word anexo (122 Kb).

 

A Direcção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza

Milão, 9 de Dezembro de 2003