Carros e camiões a biodiesel queimam quase metade do óleo de palma usado na Europa

Impacto climático é 80% superior ao do gasóleo

 

 

  • O aumento de consumo de biodiesel (34%) na União Europeia (UE) desde 2010 deveu-se sobretudo ao óleo de palma importado
  • O biodiesel na UE tem hoje um impacto climático 80% superior face ao gasóleo de origem fóssil

 

Em 2014, 45% de todo o óleo de palma consumido na Europa foi utilizado em veículos ligeiros e pesados, o suficiente para encher 4 piscinas olímpicas por dia [1]. É o que revela um briefing da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (Transport & Environment - T&E), da qual a Quercus faz parte, com base em dados da FEDIOL - Federação Europeia das Indústrias de Óleos Vegetais.

 


 
palm oil piscina 2

 

 

Um impacto climático três vezes maior


De acordo com um estudo anterior da Comissão Europeia, o impacto climático do biodiesel produzido a partir de óleo de palma é três vezes maior do que o do gasóleo fóssil, uma vez que o cultivo da palma está associada a graves impactos ambientais, como a desflorestação e a drenagem de turfeiras no Sudeste Asiático, na América Latina e também no continente africano [2].

 

 


Na Europa, o recurso ao óleo de palma para a produção de biodiesel aumentou seis vezes entre 2010 e 2014. Esta ‘explosão’ contribuiu para a totalidade do crescimento do consumo de biodiesel na Europa durante esse período (34%). A Europa não produz óleo de palma, pois a plantação de palmeiras só é possível em climas tropicais.

 

 


Depois do ‘Dieselgate’, o ‘Biodieselgate’

 

A Quercus subscreve a posição defendida pelas demais associações ambientalistas, segundo as quais estamos perante uma espécie de ‘Biodieselgate’, na sequência da polémica ‘Dieselgate’ do ano passado relativa à fraude de emissões na indústria automóvel.

Estes números mostram a verdade ‘nua e crua’ sobre a política europeia de biocombustíveis, sendo agora claro o porquê da indústria querer esconder estes números. Além dos já mencionados problemas associados à desflorestação, os biocombustíveis implicam também um aumento das emissões no setor dos transportes, não contribuem para uma maior segurança energética nem ajudam os agricultores europeus.

 



Europa é o 2º maior importador

 

 
A utilização de óleo de palma para fins não-energéticos (como alimentação, rações animais, cosméticos e sabão) diminuiu cerca de um terço entre 2010 e 2014. Em 2014, 60% do seu destino eram os transportes, a produção de eletricidade e calor.

 

Na verdade, a Europa é o segundo maior importador mundial de óleo de palma. O biodiesel produzido a partir de óleo vegetal virgem é o mais utilizado, detendo três quartos do mercado europeu. [3]

 

 

palm oil grafico

 

 

Biocombustíveis de primeira geração não são ‘zero emissões’!

 

Na opinião das associações ambientalistas, é necessário descontinuar a utilização de biocombustíveis de primeira geração até 2020. Mais ainda, é preciso acabar de vez com a premissa atual e errónea, segundo a qual os biocombustíveis continuam a contar como “zero emissões” no cumprimento das metas climáticas. Só cortando os incentivos à produção e consumo destes biocombustíveis de primeira geração é que será possível dar uma oportunidade aos biocombustíveis de segunda e terceira geração, de menor impacto climático.

 

A Diretiva de Energias Renováveis (RED, da sigla em inglês) está neste momento em processo de revisão pela Comissão, que decidirá o futuro do atual limite de 7% para os biocombustíveis de primeira geração, a partir de 2020, bem como sobre os critérios de sustentabilidade a aplicar a toda a bioenergia, incluindo os biocombustíveis.

 

Deverá ser apresentada uma proposta no último trimestre deste ano.

 


Link para o briefing da Transport & Environment (T&E):

http://www.quercus.pt/images/Ecocasa/biofuels/2016_05_TE_EU_vegetable_oil_biodiesel_market_FINAL.pdf

 

 

Notas para os editores:

 

[1] Uma piscina olímpica tem capacidade para 2,5 milhões de litros. Em 2014, os transportes na Europa consumiram cerca de 3,5 mil milhões de litros de óleo de palma.

 

[2] A revisão da política europeia de biocombustíveis, no ano passado, estabeleceu um limite ao crescente consumo de biocombustíveis à base de culturas alimentares, os quais contribuem para um aumento das emissões de gases com efeito de estufa em vez de as reduzirem (devido às emissões associadas às alterações indiretas do uso dos solos – ILUC, da sigla em inglês). Contudo, esta revisão não incluiu as emissões ILUC na contabilização das emissões totais dos biocombustíveis, tendo em conta todo o seu ciclo de vida desde a sua produção ao consumo, no âmbito das Diretivas sobre Energias Renováveis e da Qualidade dos Combustíveis. Isto significa que os biocombustíveis mais prejudiciais do ponto de vista climático, tais como o biodiesel feito a partir de óleo de palma, podem ainda ser contabilizados para o cumprimento das metas climáticas da União Europeia e receber subsídios públicos para a sua produção.

 

[3] Base Comtrade das Nações Unidas (dados de 2016).

 

 

 



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