Adaptação às Alterações Climáticas | Portugal terá de andar depressa se não quiser perder recursos e dinheiro

A Comissão Europeia lançou esta semana para discussão um documento que propôs às várias instâncias Europeias, acerca de como nos podemos adaptar para enfrentar da melhor forma os efeitos das alterações climáticas. Trata-se do Green Paper sobre Adaptação às Alterações climáticas na Europa – Opções para a acção da UE, que ficará à discussão pública até Novembro.

 

Razões de preocupação global

 

A temperatura média global aumentou 0.7 °C e na Europa 0.95°C, acima dos níveis pré-industriais. Nas últimas três décadas as alterações climáticas tiveram já uma influência marcada em muitos sistemas físicos e biológicos em todo o mundo. 

 

Água: Prevê-se uma redução acentuada do acesso à água potável segura. As áreas afectadas pela seca aumentarão e as populações sob pressão procurarão migrar para outras regiões, causando possíveis problemas de insegurança.

 

Ecossistemas e biodiversidade: cerca de 20-30% das espécies animais e vegetais conhecidos correm risco de extinção se o aumento de temperatura média global exceder 1.5 - 2.5°C. 

 

Disponibilidade de alimento: Aumentará o risco da fome e o número de pessoas em risco poderá atingir centenas de milhões.

 

Zonas costeiras: o aumento do nível do mar ameaçará o delta do Nilo, o do Ganges/Brahmaputra, o do Mekong e deslocará mais de 1 milhão de pessoas em cada um até 2050. Os pequenos Estados costeiros já estão a ser afectados.

 

Saúde: haverá impactos directos e indirectos na saúde humana e animal. Os efeitos de eventos atmosféricos extremos e o aumento de doenças infecciosas estão entre os riscos mais importantes.

 

 

O que é a Adaptação

 

As acções de adaptação têm em vista lidar com um clima em mudança já no presente ou em antecipação ao futuro; as alterações podem significar aumento ou diminuição da precipitação, temperaturas mais altas, recursos de água mais escassos ou tempestades mais frequentes, etc. A adaptação visa reduzir o risco e os danos dos impactos prejudiciais actuais e futuros de forma eficiente em termos de custos, ou mesmo explorar benefícios potenciais. Os exemplos incluem usar a água mais eficientemente, adaptar os regulamentos aplicáveis aos edifícios às condições de clima futuras e a eventos atmosféricos extremos, levantar o nível dos diques, desenvolvimento de culturas agrícolas tolerantes à seca, selecção das espécies e práticas florestais menos vulneráveis às tempestades e fogos, planeamento do território e de corredores ecológicos que permitam a migração das espécies, etc. A adaptação pode abranger estratégias nacionais ou regionais, bem como aplicar-se ao nível de comunidade ou mesmo individual. 

 

 

A Europa não será poupada. As áreas mais vulneráveis incluem Portugal

 

As áreas mais vulneráveis incluem o sul da Europa e toda a bacia do Mediterrâneo, devido ao efeito combinado entre o aumento de temperaturas e redução de precipitação em áreas que já enfrentam a escassez de água. Muitos sectores económicos dependem fortemente das condições climáticas e sentirão directamente as consequências das alterações climáticas nas suas actividades e negócios: agricultura, florestas, pescas, turismo de praia e de neve e saúde. As alterações climáticas afectarão por exemplo o sector energético e os consumos energéticos de várias formas. Em regiões onde a precipitação irá diminuir ou onde os Verões secos serão mais frequentes – como é o caso de Portugal – o fluxo de água necessário à produção de energia hidroeléctrica, ou ao arrefecimento dos reactores nucleares – no caso de Espanha -  ficará bastante reduzido. O risco de quebras de fornecimento eléctrico irá também aumentar, pela maior procura de ar condicionado.

 

 

Necessário investir para poupar maiores custos no futuro

 

Segundo os especialistas, a Adaptação pode reduzir custos, mas as forças de mercado não serão suficientes para liderar uma adaptação suficiente. São necessárias políticas adequadas. As estimativas preliminares prevêem que no sector da construção dos países da OCDE, 1 a 10% do investimento total seja gasto na adaptação das infra-estruturas e edifícios às alterações climáticas, Isso no caso de o aumento ser de 3-4ºC. Mas se as temperaturas chegarem a subir 5-6ºC os custos aumentarão em flecha…Porém se não houver medidas de adaptação, os custos da subida do nível do mar por exemplo, poderão ser quatro vezes superiores do que os custos em criar defesas a inundações. Sem acção, os custos de danos irão aumentar abruptamente de 2020 a 2080. 

 

 

Partir para a acção tão cedo quanto possível…

 

A Comissão propôs uma acção em várias frentes, destacando a necessidade de actuar tão cedo quanto possível. Isso inclui um esforço de entrosamento no sentido de integrar a adaptação quer na criação quer na alteração da legislação e políticas diversas; integrar a adaptação em programas de financiamento comunitário; desenvolver novas respostas políticas.

 

 

…Mas não numa óptica de “conserto rápido”

 

Na opinião da Confederação Europeia das ONGs de Ambiente (EEB), apesar de acolher como muito positivo este Greenpaper, alertou que é necessário cuidado para não enveredar por soluções do género “conserto rápido”. É necessária uma abordagem holística para proteger os mecanismos naturais que sustentam os nossos ecossistemas. As soluções técnicas que podem resolver problemas a curto prazo num sector, podem aumentar os danos noutras áreas. Por exemplo, os rios que se recarregam pela água da chuva estão a tornar-se menos adequados para a navegação em períodos cada mais longos todos os anos. Uma reacção que já sucedeu foi fazer alterações de fundo a leitos de rio para assegurar níveis de água suficientes. O efeito colateral é que as funções ecológicas do rio poderão ser destruídas e se vier a haver precipitação em excesso, isso pode significar cheias muito mais severas.

 

 

Portugal: é preciso andar mais depressa

 

Neste contexto, e considerando que Portugal será um dos países mais afectados da Europa, a Quercus propõe que sejam alocados todos os recursos necessários à investigação e elaboração de modelos, que sejam revistos todos os planos de construção de grandes barragens, que seja incentivada a criação de planos de âmbito regional e local às alterações climáticas e que as alterações climáticas sejam ponderadas nos planos dos sectores mais vulneráveis, com destaque ao fornecimento de água, agricultura, conservação da Natureza e saúde. A Estratégia Nacional para as Alterações Climáticas refere que é “imperioso concentrar esforços de investigação (…) para o planeamento adequado das medidas de adaptação”. Outros países da Europa já estão a elaborar estratégias nacionais de Adaptação para várias áreas sectoriais, incluindo a protecção da biodiversidade, contendo inclusive recomendações à escala local. Portanto, convém que Portugal - que será mais afectado – ande depressa para evitar custos e perdas agravados no futuro.

 

 

Lisboa, 5 de Julho de 2007

 

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Fontes: 

- Brussels, 29.6.2007, COM(2007) 354 final. Green Paper From the Commission to the Council, the European Parliament, the European Economic and Social Committee and the Committee of the Regions: Adapting to climate change in Europe – options for EU action. {SEC(2007) 849}

- Comunicadod e Imprensa do EEB de 29/06/07: Big picture politics: Adapting to climate change means holistic thinking

- England Biodiversity Strategy- Towards adaptation to climate change. Final Report to Defra for contract CR0327. May 2007 (www.defra.gov.uk)

 

 

 

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