{"id":18058,"date":"2023-03-21T00:10:52","date_gmt":"2023-03-21T00:10:52","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=18058"},"modified":"2023-03-22T11:03:44","modified_gmt":"2023-03-22T11:03:44","slug":"organizacoes-nacionais-e-internacionais-exigem-o-fim-dos-subsidios-a-queima-de-biomassa-florestal-nas-fabricas-de-celulose-em-portugal","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2023\/03\/21\/organizacoes-nacionais-e-internacionais-exigem-o-fim-dos-subsidios-a-queima-de-biomassa-florestal-nas-fabricas-de-celulose-em-portugal\/","title":{"rendered":"Organiza\u00e7\u00f5es nacionais e internacionais exigem o fim dos subs\u00eddios \u00e0 queima de biomassa florestal nas f\u00e1bricas de celulose em Portugal"},"content":{"rendered":"

\"\"<\/a>O relat\u00f3rio<\/a> divulgado no Dia Internacional das Florestas, 21 de Mar\u00e7o, exp\u00f5e os impactes das enormes quantidades de biomassa florestal prim\u00e1ria que s\u00e3o queimadas todos os anos nas f\u00e1bricas de celulose em Portugal<\/em><\/strong><\/p>\n

A queima de biomassa nas f\u00e1bricas de celulose contribui cada vez mais para os lucros das duas grandes empresas de pasta e papel a atuar em Portugal, a The Navigator Company e a Altri. Apesar de afirmarem que a queima de biomassa para produ\u00e7\u00e3o de energia ajuda a combater as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e a reduzir o risco de inc\u00eandios florestais, um novo relat\u00f3rio<\/a> [1] publicado hoje por tr\u00eas ONGs portuguesas e duas internacionais [2] contesta estas afirma\u00e7\u00f5es, e destaca os impactos significativos para o clima e no ambiente que s\u00e3o escondidos pela ind\u00fastria.<\/p>\n

De acordo com Alexandra Azevedo, Presidente de Quercus, “As celuloses sempre queimaram parte dos seus res\u00edduos industriais para produzir energia, mas nos \u00faltimos anos os lucrativos subs\u00eddios p\u00fablicos \u00e0s energias renov\u00e1veis encorajaram a constru\u00e7\u00e3o de grandes e ineficientes centrais termoel\u00e9tricas dedicadas \u00e0 queima de biomassa mesmo ao lado das suas f\u00e1bricas de celulose e a substitui\u00e7\u00e3o de centrais de cogera\u00e7\u00e3o a g\u00e1s f\u00f3ssil pela queima de biomassa. Essas centrais precisam de muito mais madeira do que \u00e9 produzida como sobrantes florestais e res\u00edduos industriais pelas f\u00e1bricas de celulose, exigindo que grandes quantidades de madeira adicional sejam trazidas diretamente das opera\u00e7\u00f5es de explora\u00e7\u00e3o florestal. A exist\u00eancia de subs\u00eddios desacoplou a queima de biomassa florestal na maioria destas f\u00e1bricas dos fluxos de sobrantes industriais da produ\u00e7\u00e3o de pasta celul\u00f3sica. Os subs\u00eddios servem de base a uma nova \u00e1rea de neg\u00f3cio para estas empresas\u201d.<\/em><\/p>\n

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O relat\u00f3rio<\/a> mostra como as celuloses est\u00e3o a queimar mais madeira para produzir energia do que qualquer outro setor em Portugal. Em 2021, gerou 80% da eletricidade produzida a partir da queima de biomassa nas suas centrais de cogera\u00e7\u00e3o e termoel\u00e9tricas, e possu\u00eda mais da metade da capacidade industrial de queima de biomassa dedicada \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de eletricidade. Juntos, o setor queimou quase 3 milh\u00f5es de toneladas de biomassa em 2021, quase 60% das quais provenientes diretamente de opera\u00e7\u00f5es de explora\u00e7\u00e3o florestal, principalmente das extensas planta\u00e7\u00f5es de monoculturas de eucalipto em Portugal.<\/p>\n

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Sophie Bastable, da Environmental Paper Network, afirmou que: \u201cGlobalmente, os incentivos \u00e0 eletricidade a partir da queima de biomassa, como os subs\u00eddios \u00e0 energia renov\u00e1vel, abriram um novo fluxo de receita para a ind\u00fastria de pasta e papel. Essa renda incentiva a intensifica\u00e7\u00e3o da explora\u00e7\u00e3o florestal e a expans\u00e3o das planta\u00e7\u00f5es de monoculturas de \u00e1rvores, muitas vezes no lugar dos ecossistemas naturais. Estamos a ver esta tend\u00eancia preocupante desenvolver-se, n\u00e3o s\u00f3 em Portugal, mas em todo o mundo \u2013 da Am\u00e9rica do Sul \u00e0 \u00c1frica do Sul.\u201d<\/em><\/p>\n

Dois grandes empreendimentos s\u00e3o destacados no relat\u00f3rio como emblem\u00e1ticos dos problemas causados pela queima em larga escala de biomassa para gera\u00e7\u00e3o de energia. A primeira \u00e9 a central el\u00e9ctrica Figueira da Foz II, na f\u00e1brica de celulose CELBI da Altri (operada pela GreenVolt, uma subsidi\u00e1ria da Altri), que \u00e9 totalmente dependente da biomassa florestal prim\u00e1ria e que, segundo o relat\u00f3rio, funciona com uma efici\u00eancia alarmantemente baixa de cerca de 22%. A segunda \u00e9 a nova caldeira de biomassa da The Navigator Company, tamb\u00e9m na Figueira da Foz, que substituiu uma central a g\u00e1s f\u00f3ssil e requer que quase metade da biomassa que queima seja proveniente diretamente das opera\u00e7\u00f5es florestais.<\/p>\n

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Oliver Munnion, da Biofuelwatch, declarou: \u201cEm vez da queima de biomassa nas f\u00e1bricas de celulose ser um exemplo de economia circular, como a ind\u00fastria afirma, \u00e9 um processo destrutivo de sentido \u00fanico. Mais e mais madeira est\u00e1 a ser queimada com efici\u00eancias muito baixas, o que emite cada vez mais carbono para a atmosfera. De acordo com o IPCC, a queima de biomassa resulta em emiss\u00f5es de carbono imediatas superiores \u00e0s dos combust\u00edveis f\u00f3sseis, como g\u00e1s, e essas emiss\u00f5es t\u00eam um impacto clim\u00e1tico significativo por longos per\u00edodos de tempo, independentemente do tipo de biomassa que est\u00e1 a ser queimada. Isso n\u00e3o pode ser considerado verde ou renov\u00e1vel\u201d.<\/em><\/p>\n

As subscritoras do relat\u00f3rio<\/a> tamb\u00e9m questionam as alega\u00e7\u00f5es de que a queima de biomassa florestal ajuda a reduzir o risco de inc\u00eandios florestais, um enorme problema social e ambiental a cada ver\u00e3o em Portugal. Paulo Castro, Presidente da Acr\u00e9scimo, afirmou: \u201cNa \u00faltima d\u00e9cada e meia houve um aumento crescente da quantidade de biomassa retirada das \u00e1reas florestais, tanto para queima em centrais termoel\u00e9ctricas como para transforma\u00e7\u00e3o em pellets de madeira. Mas, ao mesmo tempo, a quantidade de \u00e1rea ardida total a cada ano em Portugal mant\u00e9m tend\u00eancia de crescimento e as \u00e1reas ardidas em povoamentos florestais j\u00e1 ultrapassaram, no \u00faltimo quinqu\u00eanio e em 2022, outros tipos de uso da terra como os matos. Esta pseudo-estrat\u00e9gia de redu\u00e7\u00e3o de inc\u00eandio claramente n\u00e3o est\u00e1 a funcionar, muito pelo contr\u00e1rio\u201d. <\/em>Serafim Riem da Iris, real\u00e7a: \u201cA extra\u00e7\u00e3o excessiva de biomassa est\u00e1 a reduzir o coberto arb\u00f3reo, a tornar os solos mais pobres, a provocar a perda de biodiversidade e a aumentar o risco de desertifica\u00e7\u00e3o”.<\/em><\/p>\n

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As signat\u00e1rias fazem tr\u00eas exig\u00eancias principais ao governo portugu\u00eas. Em primeiro lugar,\u00a0 est\u00e3o a pedir a introdu\u00e7\u00e3o de uma morat\u00f3ria imediata sobre a nova capacidade de produ\u00e7\u00e3o de eletricidade a partir de biomassa, e terminar a sua elegibilidade para subs\u00eddios de energia renov\u00e1vel. Em segundo, est\u00e3o a pedir limites para a queima de biomassa nas f\u00e1bricas de celulose, de modo que nenhuma biomassa florestal prim\u00e1ria seja usada como mat\u00e9ria-prima para a gera\u00e7\u00e3o de energia. Por fim, pedem que os subs\u00eddios \u00e0 gera\u00e7\u00e3o de eletricidade a partir da biomassa sejam redirecionados para a gera\u00e7\u00e3o de energia genuinamente renov\u00e1vel, medidas de efici\u00eancia energ\u00e9tica e t\u00e9cnicas de redu\u00e7\u00e3o do risco de inc\u00eandio que incentivem a conserva\u00e7\u00e3o e regenera\u00e7\u00e3o dos solos e das florestas aut\u00f3ctones.<\/p>\n

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As associa\u00e7\u00f5es signat\u00e1rias:<\/p>\n

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Notas<\/strong><\/p>\n

[1] Relat\u00f3rio: https:\/\/www.biofuelwatch.org.uk\/wp-content\/uploads\/pulp-biomass-portugal-2023-PT.pdf<\/a><\/p>\n

[2] Os signat\u00e1rios do relat\u00f3rio s\u00e3o: Quercus<\/a>, Acr\u00e9scimo<\/a>, IRIS<\/a>, Biofuelwatch<\/a> e Environmental Paper Network (EPN<\/a>)<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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