{"id":17561,"date":"2022-09-02T18:00:52","date_gmt":"2022-09-02T18:00:52","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=17561"},"modified":"2022-09-02T18:07:34","modified_gmt":"2022-09-02T18:07:34","slug":"quercus-apresenta-3-propostas-eficazes-e-exequiveis-para-a-prevencao-dos-incendios-e-o-combate-a-seca","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2022\/09\/02\/quercus-apresenta-3-propostas-eficazes-e-exequiveis-para-a-prevencao-dos-incendios-e-o-combate-a-seca\/","title":{"rendered":"Quercus apresenta 3 propostas eficazes e exequ\u00edveis para a preven\u00e7\u00e3o dos inc\u00eandios e o combate \u00e0 seca"},"content":{"rendered":"

\"\"As pol\u00edticas p\u00fablicas de preven\u00e7\u00e3o dos fogos rurais assentam na vis\u00e3o distorcida de que a floresta tem muito combust\u00edvel, obrigando a limpezas incomport\u00e1veis e ao uso do fogo (fogo controlado, queima de sobrantes e queimadas), a que acrescem as m\u00e1s pr\u00e1ticas agr\u00edcolas, como mobiliza\u00e7\u00f5es de solo, uso de herbicidas (com destaque para o glifosato) e igualmente uso de fogo, o que contribui para o agravamento do problema. Est\u00e1 na altura de aproveitar os nossos recursos em vez de os queimar.<\/strong><\/p>\n

No atual cen\u00e1rio de altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, com todo o pa\u00eds em cen\u00e1rio de seca e vulner\u00e1vel a mais fogos incontrol\u00e1veis, como o da Serra da Estrela, \u00e9 urgente repensar as pr\u00e1ticas instaladas. Se interligarmos a agricultura e o pastoreio com a floresta podemos aumentar o sequestro de carbono no solo, diminuir a depend\u00eancia dos adubos qu\u00edmicos importados, nomeadamente da R\u00fassia, e melhorar o rendimento dos agricultores e produtores pecu\u00e1rios e florestais!<\/p>\n

Ter solos ricos em carbono \u00e9 essencial para mitigar as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e garantir as necessidades b\u00e1sicas da humanidade: produ\u00e7\u00e3o de alimentos, armazenamento de \u00e1gua nas reservas subterr\u00e2neas e superficiais de \u00e1gua pot\u00e1vel, preven\u00e7\u00e3o das cheias.<\/p>\n

Em Portugal 63% do solo est\u00e1 em vias de desertifica\u00e7\u00e3o<\/strong> (1). O teor em mat\u00e9ria org\u00e2nica na maior parte do solo \u00e9 de apenas 1% (que equivale a 30 t de Carbono por hectare), que abrange o territ\u00f3rio a sul do Tejo e o interior a norte do Tejo, que \u00e9 insuficiente para a maioria das culturas agr\u00edcolas, as quais necessitam no m\u00ednimo de 3% para um bom crescimento pouco dependente da aduba\u00e7\u00e3o. Em todo o solo agr\u00edcola no nosso pa\u00eds, agravou-se a perda de mat\u00e9ria org\u00e2nica\/carbono nas \u00faltimas d\u00e9cadas, perda estimada em dois pontos percentuais em m\u00e9dia (60 t de carbono por hectare). A partir do s\u00e9culo XX, em consequ\u00eancia da campanha do trigo de Salazar, com o cultivo em solos sem grande aptid\u00e3o para os cereais, e mais tarde devido \u00e0 PAC quando Portugal aderiu \u00e0 CEE, com a substitui\u00e7\u00e3o dos estrumes pelos adubos qu\u00edmicos e instala\u00e7\u00e3o das monoculturas sem rota\u00e7\u00e3o e sem leguminosas e a especializa\u00e7\u00e3o dos agricultores. Esta situa\u00e7\u00e3o ainda se mant\u00e9m e tem-se agravado ainda mais neste s\u00e9culo XXI com a instala\u00e7\u00e3o de olivais e amendoais superintensivos, com grandes movimenta\u00e7\u00f5es de terra (tipo aterros de obras) com linhas de planta\u00e7\u00e3o ao alto, com grandes camalh\u00f5es de terra nessas linhas, uso de herbicidas e sem revestimento do solo, havendo cada vez mais casos de perda parcial ou total de solo por eros\u00e3o h\u00eddrica!<\/p>\n

H\u00e1 solu\u00e7\u00f5es eficazes e exequ\u00edveis para aumentar o sequestro de carbono no solo
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1- Aproveitamento dos matos e res\u00edduos florestais e agr\u00edcolas<\/u><\/p>\n

A floresta tem muito carbono (C) e algum azoto (N), j\u00e1 os matos s\u00e3o ricos quer em carbono quer em azoto, como \u00e9 o caso das giestas e tojos, nutrientes que fazem falta ao solo, fundamentais para as culturas agr\u00edcolas e para promover o crescimento das plantas em geral. A pr\u00e1tica tradicional de corte e recolha do mato nas \u00e1reas florestais \u00e9 uma forma eficiente de transferir estes nutrientes para o solo.<\/p>\n

Com os inc\u00eandios e a queima de matos e qualquer res\u00edduo org\u00e2nico estamos a deixar arder muitas toneladas de carbono, e o mesmo tempo arde tamb\u00e9m o azoto. A produ\u00e7\u00e3o de estilha a partir das ramagens frescas de esp\u00e9cies florestais, incluindo o eucalipto, tamb\u00e9m permite a sua utiliza\u00e7\u00e3o agr\u00edcola em cobertura do solo (mulching<\/em>), regenerando-o e sequestrando o carbono.<\/p>\n

2- Adubos verdes e rota\u00e7\u00e3o de culturas integrando leguminosas proteaginosas<\/u><\/p>\n

Os custos dos adubos qu\u00edmicos aumentaram extraordinariamente nos \u00faltimos meses, na ordem dos 120 %, devido sobretudo ao aumento de custo da energia, ao custo das emiss\u00f5es de carbono no fabrico e \u00e0 guerra na Ucr\u00e2nia. Considerando a aplica\u00e7\u00e3o de 150 Kg\/ha de azoto (N), o custo por hectare dos adubos qu\u00edmicos azotados \u00e9 j\u00e1 superior a 300 euros\/ha. Mas com boas pr\u00e1ticas agr\u00edcolas podemos at\u00e9 evitar a totalidade desses adubos qu\u00edmicos<\/strong>, como ali\u00e1s j\u00e1 fazem os agricultores que praticam agricultura biol\u00f3gica.<\/p>\n

Complementar o aproveitamento dos matos e res\u00edduos org\u00e2nicos com a aduba\u00e7\u00e3o verde com plantas leguminosas eficientes na fixa\u00e7\u00e3o biol\u00f3gica do azoto em simbiose com a bact\u00e9ria do solo \u201criz\u00f3bio\u201d (fava, tremo\u00e7o, tremocilha, trevos, luzernas) e com rota\u00e7\u00f5es de culturas que incluam sempre leguminosas proteaginosas (gr\u00e3o-de-bico, feij\u00e3o-frade, fava, ervilha, lentilha, ou at\u00e9 soja se houver \u00e1gua para regar), pode substituir a maior parte do adubo azotado de s\u00edntese qu\u00edmica.<\/p>\n

A redu\u00e7\u00e3o em 20% dos adubos qu\u00edmicos e de 50% das perdas dos nutrientes aplicados nesses adubos, at\u00e9 2030, \u00e9 um dos objetivos da \u201cEstrat\u00e9gia do Prado ao Prato\u201d da Comiss\u00e3o Europeia, com o objetivo de diminuir as emiss\u00f5es poluentes provocadas pelo fabrico, transporte e aplica\u00e7\u00e3o dos adubos (em especial os azotados), bem como a polui\u00e7\u00e3o das \u00e1guas subterr\u00e2neas com nitratos (s\u00f3 em Portugal temos 9 zonas vulner\u00e1veis com \u00e1guas com excesso de nitratos\/azoto e por isso impr\u00f3prias para consumo humano).<\/p>\n

3- Maneio hol\u00edstico \u2013 imitar a natureza na produ\u00e7\u00e3o pecu\u00e1ria<\/u><\/p>\n

O atual modelo de produ\u00e7\u00e3o pecu\u00e1ria est\u00e1 dependente da importa\u00e7\u00e3o de alimentos para animais, revelando cada vez mais a sua inviabilidade ambiental e econ\u00f3mica. A produ\u00e7\u00e3o nacional de milho supre apenas cerca de 20% da procura, e a soja \u00e9 100% importada, com fortes impactes ambientais nos pa\u00edses de origem, dado o cultivo de variedades OGM e a aplica\u00e7\u00e3o do herbicida glifosato, que deixa res\u00edduos t\u00f3xicos no solo, na \u00e1gua e no alimento, bem como a destrui\u00e7\u00e3o da floresta amaz\u00f3nica para aumentar as \u00e1reas agr\u00edcolas.<\/p>\n

O maneio hol\u00edstico \u00e9 um exemplo de uma abordagem poss\u00edvel para a regenera\u00e7\u00e3o das paisagens degradadas, em particular ap\u00f3s um inc\u00eandio, contribuindo para a rentabilidade da explora\u00e7\u00e3o. V\u00e1rios estudos demonstram que at\u00e9 produtores mais conservadores, ao aderirem a este tipo de abordagem alcan\u00e7aram resultados superiores na melhoria da biodiversidade do ecossistema, produtividade, fixa\u00e7\u00e3o de carbono e fertilidade do solo, capacidade de reten\u00e7\u00e3o de \u00e1gua, redu\u00e7\u00e3o dos custos em ra\u00e7\u00f5es e outros alimentos para animais. Este m\u00e9todo consiste em utilizar v\u00e1rios parques, subdividindo a \u00e1rea total destinada aos animais em pastoreio, e realizar curtos per\u00edodos de pastoreio nesses parques, o que permite longos per\u00edodos de recupera\u00e7\u00e3o das pastagens. Assim sendo, mimetiza mediante planeamento e maneio, os processos ancestrais que faziam as grandes manadas de herb\u00edvoros sobre os territ\u00f3rios (2).<\/p>\n

O carbono \u2013 o principal nutriente do solo <\/strong><\/p>\n

O carbono \u00e9 o principal nutriente do solo, pois alimenta milh\u00f5es de organismos que nele habitam (cerca de 7.000 milh\u00f5es de microrganismos por cada 100 gramas de solo f\u00e9rtil), organismos que s\u00e3o muito importantes para a produtividade da agricultura. O carbono armazenado no solo na forma de h\u00famus \u00e9 tamb\u00e9m a melhor forma de o sequestrar sem que seja consumido pelos inc\u00eandios e \u00e9 uma quantidade da ordem de 30 toneladas por cada hectare de terra por cada 1% (um ponto percentual) de mat\u00e9ria org\u00e2nica acumulada no solo na forma de h\u00famus (em m\u00e9dia h\u00e1 58% de carbono no h\u00famus do solo), considerando uma profundidade m\u00e9dia de 50 cm com esse teor de MO (Mat\u00e9ria org\u00e2nica).<\/p>\n

Com o aumento da mat\u00e9ria org\u00e2nica\/carbono no solo agr\u00edcola (incluindo o silvo-pastoril \/ agro-florestal) em 1% at\u00e9 2030, atingiremos um sequestro de carbono acima de 100 milh\u00f5es de toneladas de carbono org\u00e2nico em Portugal.<\/p>\n

A Quercus prop\u00f5e que esse objetivo se traduza em a\u00e7\u00f5es concretas, em todo o pa\u00eds, integradas nos planos municipais de adapta\u00e7\u00e3o \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e nas estrat\u00e9gias europeias do \u201cPrado ao Prato\u201d e da \u201cBiodiversidade\u201d, transformando \u201ccombust\u00edvel\u201d perigoso em fertilizante produtivo!<\/p>\n

Lisboa, 02 de setembro de 2022<\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus ANCN<\/p>\n

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Refer\u00eancias:<\/p>\n