{"id":17105,"date":"2022-03-11T09:00:41","date_gmt":"2022-03-11T09:00:41","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=17105"},"modified":"2022-03-11T15:37:35","modified_gmt":"2022-03-11T15:37:35","slug":"fukushima-inaceitavel-plano-japones-de-despejar-agua-radioativa-no-mar-durante-3-decadas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2022\/03\/11\/fukushima-inaceitavel-plano-japones-de-despejar-agua-radioativa-no-mar-durante-3-decadas\/","title":{"rendered":"Fukushima: Inaceit\u00e1vel plano japon\u00eas de despejar \u00e1gua radioativa no mar durante 3 d\u00e9cadas"},"content":{"rendered":"

Guerra na Ucr\u00e2nia prova inadequa\u00e7\u00e3o da energia nuclear<\/strong><\/h3>\n

Onze anos depois do acidente na central nuclear de Fukushima, o n\u00facleo dos reatores mant\u00e9m temperaturas t\u00e3o altas que \u00e9 necess\u00e1rio uma imensa quantidade de \u00e1gua para arrefec\u00ea-los. Esta \u00e1gua tem uma alta contamina\u00e7\u00e3o radioativa e j\u00e1 se acumulou em tal quantidade que o governo japon\u00eas decidiu come\u00e7ar a despej\u00e1-la no Oceano Pac\u00edfico a partir do pr\u00f3ximo ano, com os efeitos grav\u00edssimos que isso ter\u00e1 na vida e na sa\u00fade de todas as popula\u00e7\u00f5es circundantes e sobre todas as formas de vida no oceano.<\/strong><\/p>\n

Quando o governo do Jap\u00e3o anunciou em abril de 2021 a sua inten\u00e7\u00e3o de descarregar gradualmente mais de 1,4 milh\u00e3o de metros c\u00fabicos de \u00e1gua radioativa no mar, encontrou o apoio da Organiza\u00e7\u00e3o Internacional de Energia At\u00f4mica (AIEA).<\/p>\n

Em fevereiro passado, a AIEA deslocou-se \u00e0s proximidades da central de Fukushima para examinar de perto o plano japon\u00eas de despejar \u00e1gua radioativa no mar. Parece um gesto destinado a criar confian\u00e7a p\u00fablica na gest\u00e3o do Jap\u00e3o ante a oposi\u00e7\u00e3o de parte da sua popula\u00e7\u00e3o e pa\u00edses vizinhos. Enquanto isso, as v\u00edtimas do acidente s\u00e3o negligenciadas pelo desejo de “normalizar” a situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

O despejo enfrenta a oposi\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria pesqueira e de pa\u00edses vizinhos, especialmente da Coreia do Sul e da China.<\/p>\n

A \u00e1gua radioativa tem origem no arrefecimento do combust\u00edvel nuclear fundido em tr\u00eas dos reatores. Para reduzir a sua radioatividade, passa por um processo de elimina\u00e7\u00e3o de materiais radioativos, de modo que restem apenas tr\u00edtio e carbono-14. Mas, em 2018, a imprensa japonesa descobriu que a empresa propriet\u00e1ria da Tokyo Electric Power Company (TEPCO) escondia que aproximadamente 84% dos 890.000 m3<\/sup> de \u00e1gua tratada em setembro desse ano continham concentra\u00e7\u00f5es mais altas de subst\u00e2ncias radioativas do que os n\u00edveis permitidos para liberta\u00e7\u00e3o no oceano. Essas concentra\u00e7\u00f5es inclu\u00edam n\u00edveis de estr\u00f4ncio-90 mais de 100 vezes acima dos padr\u00f5es de seguran\u00e7a em cerca de 65.000 m3<\/sup> de \u00e1gua tratada e ainda c\u00e9sio-137 e Iodo-129, com n\u00edveis superiores aos limites por um fator de 20.000, em alguns tanques. Segundo dados da TEPCO, em agosto de 2021, 69% da \u00e1gua (o equivalente a 832,9 mil m3) passar\u00e1 por processamento secund\u00e1rio. Espera-se que isso demore v\u00e1rios anos.<\/p>\n

A TEPCO declarou que ficaria sem espa\u00e7o para armazenar \u00e1gua radioativa ainda em 2022. Como solu\u00e7\u00e3o, tanto a empresa como o governo japon\u00eas querem despej\u00e1-la no oceano ao longo de trinta anos, para que os contaminantes sejam dilu\u00eddos.<\/p>\n

Numa reuni\u00e3o da Organiza\u00e7\u00e3o Mar\u00edtima Internacional das Na\u00e7\u00f5es Unidas, em outubro de 2021, o governo japon\u00eas bloqueou a iniciativa de estabelecer um grupo de trabalho cient\u00edfico para avaliar alternativas para despejar essas \u00e1guas no Oceano Pac\u00edfico. Esta proposta da Greenpeace foi apoiada pela Coreia do Sul, China, Chile, Vanuatu e Palau. Mas a delega\u00e7\u00e3o japonesa recebeu o apoio dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Fran\u00e7a.<\/p>\n

A 27 de janeiro deste ano, um grupo de jovens com cancro da tiroide, com idades entre 6 e 16 anos na altura do acidente nuclear de 2011, apresentou uma a\u00e7\u00e3o contra a TEPCO. Eles pedem que se investigue a rela\u00e7\u00e3o causal entre o acidente nuclear e o cancro da tiroide e esperam conseguir a cria\u00e7\u00e3o de um sistema de apoio para aqueles que sofrem da mesma doen\u00e7a. No entanto, o Comit\u00e9 de Revis\u00e3o da Pesquisa de Sa\u00fade da Prefeitura de Fukushima declarou n\u00e3o existir nenhuma rela\u00e7\u00e3o entre a doen\u00e7a dos jovens e o acidente nuclear.<\/p>\n

A energia nuclear n\u00e3o \u00e9, de forma alguma, uma alternativa para a soberania energ\u00e9tica da Uni\u00e3o Europeia. Espanha, por exemplo, importa da R\u00fassia mais da metade do ur\u00e2nio para as suas centrais nucleares.<\/strong><\/p>\n

O nuclear acarreta s\u00e9rios riscos para a sa\u00fade dos ecossistemas e \u00e0 sa\u00fade humana, que persistem por s\u00e9culos. Representam um risco para a seguran\u00e7a das popula\u00e7\u00f5es, como Fukushima e Chernobyl evidenciam. A guerra na Ucr\u00e2nia prova ainda que as centrais nucleares s\u00e3o um objetivo militar de primeira ordem, agravando a probabilidade e a gravidade de um acidente com liberta\u00e7\u00e3o de material radioativo.<\/p>\n

Rejeitamos assim a recente decis\u00e3o da Comiss\u00e3o Europeia, cedendo \u00e0 press\u00e3o do lobby<\/em> nuclear e catalogando este tipo de energia como \u201csustent\u00e1vel\u201d \u200b\u200bno \u00e2mbito da transi\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica, contrariamente aos relat\u00f3rios dos grupos de assessoria t\u00e9cnica, diferentes governos europeus, numerosas organiza\u00e7\u00f5es cient\u00edficas e sociais e at\u00e9 mesmo contra os objetivos do Acordo de Paris. Continuamos a exigir o encerramento de todas as centrais nucleares, come\u00e7ando pela envelhecida Almaraz, pois, quanto mais anos permanecerem abertas, mais prolongaremos o risco e aumentaremos a quantidade de res\u00edduos nucleares a arrefecer e a armazenar.<\/p>\n

A energia nuclear \u00e9 poluente, n\u00e3o \u00e9 segura nem \u00e9 carbono neutral.<\/strong><\/p>\n

Quer durante o seu funcionamento quer ap\u00f3s o seu encerramento, as necessidades de manuten\u00e7\u00e3o durante dezenas, centenas ou milhares de anos, de sistemas de armazenamento e arrefecimento do combust\u00edvel usado, ou como neste caso de arrefecimento do n\u00facleo dos reatores, implica a emiss\u00e3o de v\u00e1rios tipos de polui\u00e7\u00e3o (com destaque para a radioativa) e gases com efeito de estufa – associados \u00e0 constru\u00e7\u00e3o e manuten\u00e7\u00e3o de enormes infraestruturas e \u00e0 bombagem de \u00e1gua durante longos per\u00edodos.<\/p>\n

Para o Movimento Ib\u00e9rico Antinuclear (MIA), a ind\u00fastria nuclear e os governos que a apoiam t\u00eam de assumir as responsabilidades decorrentes de um acidente. N\u00e3o se pode aceitar que imponham as suas teses e as suas condi\u00e7\u00f5es \u00e0 popula\u00e7\u00e3o que mais sofreu com o desastre, nem que neguem prote\u00e7\u00e3o contra as doen\u00e7as causadas. Devemos tamb\u00e9m exigir os melhores m\u00e9todos para recuperar o territ\u00f3rio e evitar mais danos.<\/p>\n

Por \u00faltimo, os custos de uma atividade perigosa, obsoleta e n\u00e3o competitiva n\u00e3o podem ser imputados aos cidad\u00e3os e aos contribuintes, que continuam a \u201cassegurar\u201d a explora\u00e7\u00e3o nuclear uma vez que n\u00e3o existe nenhuma seguradora no mundo disposta a assumir os seus riscos.<\/p>\n

Lisboa, 11 de mar\u00e7o de 2022<\/p>\n

A Comiss\u00e3o Coordenadora do MIA em Portugal<\/p>\n

O MIA \u00e9 um movimento composto por coletivos ambientalistas e institui\u00e7\u00f5es de Portugal e de todo o Estado Espanhol. Em Portugal integra cerca de 30 coletivos.<\/p>\n

www.movimientoibericoantinuclear.com<\/a><\/p>\n

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