{"id":16073,"date":"2021-07-09T18:42:39","date_gmt":"2021-07-09T18:42:39","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=16073"},"modified":"2021-07-09T18:42:56","modified_gmt":"2021-07-09T18:42:56","slug":"almaraz-e-gestao-de-residuos-radioactivos-uma-questao-de-seguranca-nacional","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/07\/09\/almaraz-e-gestao-de-residuos-radioactivos-uma-questao-de-seguranca-nacional\/","title":{"rendered":"ALMARAZ E GEST\u00c3O DE RES\u00cdDUOS RADIOACTIVOS: Uma quest\u00e3o de seguran\u00e7a nacional"},"content":{"rendered":"

A Central de Almaraz j\u00e1 ultrapassou o seu tempo de vida, mas o governo espanhol comunicou ao MIA em Portugal que pretende que continue em funcionamento.<\/p>\n

A somar a isto \u00e9 poss\u00edvel que Almaraz se transforme num local de armazenamento tempor\u00e1rio centralizado (ATC) de todos ou de uma parte substancial dos res\u00edduos altamente radioativos de Espanha, tendo em conta que o governo de Espanha n\u00e3o avan\u00e7ou para a constru\u00e7\u00e3o de um ATC em Cuenca.<\/p>\n

Urge que os dois reatores da central nuclear de Almaraz sejam encerrados, por quest\u00f5es de seguran\u00e7a relacionadas com as fragilidades e os riscos crescentes associadas quer ao seu funcionamento quer ao aumento do volume de res\u00edduos altamente radioativos provenientes do combust\u00edvel usado.<\/p>\n

Urge que as centrais nucleares espanholas (e todas as outras) fechem.<\/p>\n

Urge que os dois governos ib\u00e9ricos defendam as suas popula\u00e7\u00f5es de um leque de riscos que aumenta a cada momento quer em n\u00famero quer em complexidade. Veja-se por exemplo os perigos relacionados com a exposi\u00e7\u00e3o a ataques terroristas (cibern\u00e9ticos, drones\u2026) que vai para al\u00e9m do fecho das centrais uma vez que a lei obriga cada central a incluir nas suas instala\u00e7\u00f5es solu\u00e7\u00f5es de armazenamento tempor\u00e1rio dos seus res\u00edduos que se podem prolongar at\u00e9 80 ou 90 anos para l\u00e1 do fecho.<\/p>\n

Urge ser consciente e enfrentar a realidade. N\u00e3o \u00e9 apenas a regi\u00e3o envolvente de Almaraz que enfrentar\u00e1, em caso de acidente grave ou de ataque terrorista, uma situa\u00e7\u00e3o catastr\u00f3fica, toda a Pen\u00ednsula Ib\u00e9rica ser\u00e1 rudemente afetada. No nosso pa\u00eds n\u00e3o ser\u00e3o somente os distritos fronteiri\u00e7os a sofrer o impacto da nuvem radioativa, mas todo o territ\u00f3rio nacional ser\u00e1 afetado de maneira mais ou menos intensa, dependendo da dist\u00e2ncia e das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Atente-se no exemplo da Bielorr\u00fassia que n\u00e3o possuindo centrais nucleares foi duramente atingida pelo acidente de Chernobyl.<\/p>\n

Urge compreender que a vetustez dos reatores das centrais espanholas aumenta desmesuradamente o perigo.<\/p>\n

Qualquer central nuclear constitui um perigo desmesurado quando comparado com os seus anunciados benef\u00edcios, mas o envelhecimento dos reatores faz com que o risco de acidentes graves aumente de forma inquietante. \u00c9 o caso flagrante dos dois reatores da central de Almaraz que ir\u00e3o brevemente ultrapassar os quarenta anos de vida que lhe haviam sido vaticinados (os reatores daquela central entraram em funcionamento, um em 1981 e o outro em 1983).<\/p>\n

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Como \u00e9 expect\u00e1vel, ao envelhecer, certos componentes da estrutura das centrais degradam-se o que nos conduz a assinalar v\u00e1rios pontos nevr\u00e1lgicos, entre muitos outros. Alguns representam um marco temporal que vai muitas d\u00e9cadas para al\u00e9m da decis\u00e3o de fechar uma central e que s\u00e3o tanto ou mais inquietantes:<\/strong><\/p>\n

– Degrada\u00e7\u00e3o da parede em bet\u00e3o que protege o reator em caso de acidente.<\/p>\n

– Cuba em a\u00e7o constantemente bombardeada pelas rea\u00e7\u00f5es nucleares, levando, com o tempo, \u00e0 sua destabiliza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

– Circuito prim\u00e1rio fragilizado pelos choques t\u00e9rmicos, Este circuito \u00e9 constitu\u00eddo pelos tubos que conduzem a \u00e1gua que modera a rea\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

– Recet\u00e1culo inexistente e incapaz de deter o material radioativo, caso este entre em fus\u00e3o. Foi o que se verificou em Chernobyl e em Fukushima.<\/p>\n

– Armazenamento nas pr\u00f3prias centrais, dos res\u00edduos altamente radioativos, provenientes do combust\u00edvel usado, primeiro em piscinas de arrefecimento cuja precariedade \u00e9 bem conhecida e depois, a seco em ATI (Armaz\u00e9m Tempor\u00e1rio Individualizado) onde o combust\u00edvel \u00e9 introduzido em contentores met\u00e1licos ou de bet\u00e3o que v\u00e3o sendo entrepostos ao n\u00edvel do solo para serem arrefecidos pelo ar. As vulnerabilidades desta solu\u00e7\u00e3o devido \u00e0 exposi\u00e7\u00e3o aos elementos e a in\u00fameros outros riscos \u00e9 evidente.<\/p>\n

– O rascunho do novo Plano de Gest\u00e3o de Res\u00edduos Radioativos espanhol (7\u00ba PGRR) prev\u00ea que o ATI de Almaraz, que entrou em funcionamento em 2018, funcionaria at\u00e9 2040 altura em que todos os contentores nele guardados estariam transferidos para um ATC (Armaz\u00e9m Tempor\u00e1rio Centralizado).<\/p>\n

– O processo de constru\u00e7\u00e3o deste ATC continua a ser indicado neste rascunho como previsto para Valle de Ca\u00f1as em Cuenca apesar de o governo espanhol ter declarado o cancelamento do concurso para a sua constru\u00e7\u00e3o (ap\u00f3s protestos da popula\u00e7\u00e3o, a\u00e7\u00f5es interpostas por organiza\u00e7\u00f5es ecologistas e controv\u00e9rsias de v\u00e1ria ordem).<\/p>\n

– Este 7\u00ba PGRR prev\u00ea a entrada em funcionamento deste ATC em 2028 e indica o ano de 2087 como aquele a partir do qual os res\u00edduos radioativos seriam transferidos para aquilo a que chamam a solu\u00e7\u00e3o de armazenamento definitivo, um Armaz\u00e9m Geol\u00f3gico Profundo (AGP) que acolheria, em local a designar, os res\u00edduos dos ATCs de todas as centrais nucleares.<\/p>\n

– A gest\u00e3o destes res\u00edduos ser\u00e1 confiada a um n\u00famero incalcul\u00e1vel de gera\u00e7\u00f5es e isto \u00e9 inevit\u00e1vel, j\u00e1 que o per\u00edodo destes res\u00edduos \u00e9 da ordem de milh\u00f5es de ano.<\/p>\n

– As quest\u00f5es de seguran\u00e7a que se levantam \u00e0 gest\u00e3o de res\u00edduos radioativos produzidos no territ\u00f3rio espanhol, ultrapassa as fronteiras deste estado uma vez que n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel garantir formas de armazenamento destes materiais, nem tempor\u00e1rias (em ATIs e ATC) nem definitivas (em AGP), que n\u00e3o estejam acompanhadas de enormes riscos de contamina\u00e7\u00e3o dos solos, da \u00e1gua e do ar. Desastres naturais, mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, ataques terroristas, conflitos armados, mudan\u00e7as de regime, protestos da popula\u00e7\u00e3o…..corros\u00e3o fissuras,… falha humana – a lista das poss\u00edveis causas \u00e9 longa e o ser humano est\u00e1 longe de as poder prever e controlar todas.<\/p>\n

Embora existam mais de uma centena de centrais em funcionamento na Europa, uma maior prolifera\u00e7\u00e3o foi impedida pelos catastr\u00f3ficos acontecimentos de Chernobyl e Fukushima e pela oposi\u00e7\u00e3o dos povos. Mas os promotores do electronuclear inventaram uma nova forma de rentabilizar o \u201cneg\u00f3cio\u201d, contra tudo o que havia sido anunciado: prolongar a vida das velhas centrais.<\/p>\n

Sabemos que a esp\u00e9cie de loucura que tem conduzido o incremento do n\u00famero de centrais nucleares e que tamb\u00e9m est\u00e1 ligada \u00e0 \u201cbomba nuclear\u201d que delas depende, ser\u00e1 um encargo pesad\u00edssimo para muitas e muitas gera\u00e7\u00f5es futuras, com custos ecol\u00f3gicos, sociais e econ\u00f3micos que ningu\u00e9m consegue calcular. Sem falar do desconhecimento atual sobre os problemas do desmantelamento e do armazenamento dos res\u00edduos contaminados. Todas as quest\u00f5es que envolvem o nuclear s\u00e3o duma imensa complexidade e dimens\u00e3o.<\/p>\n

Urge, portanto, informar os cidad\u00e3os, alargar o debate, mas sobretudo parar os reatores. Muito a fazer restar\u00e1 ainda.<\/p>\n

H\u00e1 ainda outro perigo que \u00e9 o da explora\u00e7\u00e3o mineira que se pretende exercer em Retortilho, Salamanca, que para al\u00e9m da polui\u00e7\u00e3o do ar e dos solos coloca em perigo a \u00e1gua e a bacia do Douro. Os autarcas das zonas fronteiri\u00e7as n\u00e3o foram ouvidos, pelo que deve ser impedida a abertura da mina de Retortilho.<\/p>\n

A explora\u00e7\u00e3o mineira em Portugal, que durou mais de 50 anos, deixou um passivo ambiental que est\u00e1 longe de estar totalmente remediado.<\/p>\n

O governo portugu\u00eas deve ser mais exigente e interventivo junto do governo espanhol pois as quest\u00f5es do nuclear s\u00e3o tamb\u00e9m uma quest\u00e3o de seguran\u00e7a nacional.<\/p>\n

 <\/p>\n

Urgeiri\u00e7a, 25 de Maio de 2021<\/p>\n

A Comiss\u00e3o Coordenadora do MIA em Portugal<\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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