{"id":16068,"date":"2021-07-09T18:41:04","date_gmt":"2021-07-09T18:41:04","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=16068"},"modified":"2021-07-09T18:41:24","modified_gmt":"2021-07-09T18:41:24","slug":"a-eletricidade-obtida-a-partir-da-queima-de-arvores-nunca-sera-verde","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/07\/09\/a-eletricidade-obtida-a-partir-da-queima-de-arvores-nunca-sera-verde\/","title":{"rendered":"A eletricidade obtida a partir da queima de \u00e1rvores nunca ser\u00e1 verde"},"content":{"rendered":"

\"\"A aposta pol\u00edtica europeia na utiliza\u00e7\u00e3o da biomassa florestal prim\u00e1ria para a produ\u00e7\u00e3o de eletricidade, para al\u00e9m da crescente contesta\u00e7\u00e3o social,enfrenta a oposi\u00e7\u00e3o de um vasto n\u00famero de cientistas<\/a>.<\/p>\n

A pr\u00f3pria proposta de revis\u00e3o da Diretiva das Energias Renov\u00e1veis (Diretiva 2018\/2001\/EU, tamb\u00e9m identificada por RED II), que esteve em consulta p\u00fablica at\u00e9 ao passado dia 9 de fevereiro, est\u00e1em processo de reescrita<\/a>, ap\u00f3s cr\u00edticas posteriores por parte do Conselho de Escrut\u00ednio Regulat\u00f3rio da Comiss\u00e3o Europeia, contestando o d\u00e9fice de avalia\u00e7\u00e3o dos riscos ambientais potenciais do acr\u00e9scimo de uso de biomassa para energia.<\/p>\n

S\u00e3o m\u00faltiplos osrelatos<\/a>\u00a0de\u00a0perda<\/a>\u00a0de coberto arb\u00f3reo decorrente da produ\u00e7\u00e3o de eletricidade, quer\u00a0dentro<\/a>\u00a0do espa\u00e7o da Uni\u00e3o Europeia, quer da\u00a0importa\u00e7\u00e3o<\/a>\u00a0de material lenhoso proveniente dosEstados Unidos<\/a>, do Canad\u00e1, daR\u00fassia<\/a>\u00a0e do Brasil.<\/p>\n

A alegada utiliza\u00e7\u00e3o de \u201cres\u00edduos\u201d florestais, para queima em centrais termoel\u00e9tricas ou no fabrico de\u00a0pellets<\/i>\u00a0de madeira,\u00a0cai por terra<\/a>quando se colhem registos dos parques de rece\u00e7\u00e3o de mat\u00e9ria-prima destas unidades. O facto \u00e9 que neles predominam, quase exclusivamente, as se\u00e7\u00f5es de troncos de \u00e1rvores (toros). Em todo o caso, os designados \u201cres\u00edduos\u201d, na verdade s\u00e3o sobrantes da atividade silv\u00edcola, essenciais \u00e0 manuten\u00e7\u00e3o do fundo de fertilidade dos solos, mais ainda em Portugal, um pa\u00eds de maioria de solos muito pobres em teor de mat\u00e9ria org\u00e2nica.<\/p>\n

Os espa\u00e7os arborizados em Portugal s\u00e3o, h\u00e1 d\u00e9cadas, v\u00edtimas de sobre-explora\u00e7\u00e3o. Os inc\u00eandios t\u00eam vindo a acentuar a escassez de mat\u00e9ria-prima para suprir a capacidade industrial j\u00e1 instalada, seja no setor silvo-industrial, como no energ\u00e9tico (por cogera\u00e7\u00e3o, por utiliza\u00e7\u00e3o de biomassa florestal prim\u00e1ria em queima em centrais termoel\u00e9tricas e na por produ\u00e7\u00e3o de pellets de madeira). O crescente n\u00famero de unidades licenciadas para a queima de biomassa ou do fabrico de\u00a0pellets<\/i>\u00a0de madeira, ocorrida significativamente ap\u00f3s 2016, tem feito aumentar ainda mais a press\u00e3o sobre os recursos arb\u00f3reos nacionais. Os impactes nos ecossistemas, sobre a biodiversidade, os solos e os recursos h\u00eddricos t\u00eam sido muito nefastos.<\/p>\n

Aos impactes sobre os ecossistemas acrescem os riscos da significativa polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica e sonora inerentes ao funcionamento das centrais de queima de arvoredo. Veja-se o caso dacentral do Fund\u00e3o<\/a>.<\/p>\n

A queima de arvoredo para a produ\u00e7\u00e3o de eletricidade n\u00e3o produz menos emiss\u00f5es, nem gera menos polui\u00e7\u00e3o do que a queima de combust\u00edveis f\u00f3sseis. Na verdade, a op\u00e7\u00e3o pela queima de madeira corresponde a um retrocesso civilizacional, a 1850, ao per\u00edodo pr\u00e9-industrial.<\/p>\n

Tem esta op\u00e7\u00e3o pela bioenergia impacto no problema dos inc\u00eandios florestais em Portugal? \u00c9 duvidoso! O impacto tem-se mostrado neutro ou negativo. O facto \u00e9 que a madeira ardida tem um pre\u00e7o e um teor de humidade mais convidativos ao uso para a produ\u00e7\u00e3o de eletricidade.<\/p>\n

Importa ter em conta que, sendo este investimento desprovido de racionalidade, o mesmo s\u00f3 \u00e9 vi\u00e1vel com forte subsidia\u00e7\u00e3o p\u00fablica e com um consider\u00e1vel esfor\u00e7o financeiro por parte dos consumidores de eletricidade. Por outro lado, presta-se a interven\u00e7\u00f5es especulativas, associadas \u00e0 capta\u00e7\u00e3o de fundos p\u00fablicos, criados no \u00e2mbito da transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica e da recupera\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica p\u00f3s-pandemia.<\/p>\n

Pelo exposto, as organiza\u00e7\u00f5es signat\u00e1rias apelam ao Governo portugu\u00eas, \u00e0 Presid\u00eancia do Conselho Europeu e \u00e0 Comiss\u00e3o Europeia para n\u00e3o viabilizarem o financiamento p\u00fablico \u00e0 queima de \u00e1rvores para a produ\u00e7\u00e3o de eletricidade.<\/p>\n

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Lisboa, 25 de maio de 2021<\/p>\n

As organiza\u00e7\u00f5es signat\u00e1rias:<\/p>\n

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English version: Electricity from burning trees will never be green!<\/a><\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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