{"id":16036,"date":"2021-07-09T18:18:39","date_gmt":"2021-07-09T18:18:39","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=16036"},"modified":"2021-07-09T18:18:39","modified_gmt":"2021-07-09T18:18:39","slug":"movimento-iberico-antinuclear-assinala-35-anos-de-chernobil-e-volta-a-exigir-o-rapido-encerramento-da-central-nuclear-de-almaraz","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/07\/09\/movimento-iberico-antinuclear-assinala-35-anos-de-chernobil-e-volta-a-exigir-o-rapido-encerramento-da-central-nuclear-de-almaraz\/","title":{"rendered":"Movimento Ib\u00e9rico Antinuclear assinala 35 anos de Chernobil e volta a exigir o r\u00e1pido encerramento da Central Nuclear de Almaraz"},"content":{"rendered":"

Faltavam exatamente 2 segundos para as 2 horas e 24 minutos do dia 26 de Abril de 1986\u00a0quando o reator n\u00ba4 da Central Nuclear de Chernobil, e o edif\u00edcio onde estava instalado, foram devastados por uma sucess\u00e3o de explos\u00f5es. Acabava de acontecer o mais grave acidente nuclear do s\u00e9culo XX. As suas consequ\u00eancias de uma dimens\u00e3o dram\u00e1tica ainda hoje n\u00e3o s\u00e3o suficientemente conhecidas.<\/strong><\/p>\n

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Nos dias seguintes, a nuvem radioativa ir\u00e1 atingir os pa\u00edses da Europa Central, seguindo-se a B\u00e9lgica, a Fran\u00e7a e a Inglaterra. O aumento dos n\u00edveis de radia\u00e7\u00e3o foi observado, ao longo da semana seguinte, em pa\u00edses como a \u00cdndia, o Jap\u00e3o, o Canad\u00e1 e os Estados Unidos. O acidente ocorrido na Ucr\u00e2nia estava a contaminar todo o Planeta.\u00a0<\/strong><\/p>\n

Ainda que o acidente tenha ocorrido em territ\u00f3rio ucraniano, \u00e9 a Bielorr\u00fassia o pa\u00eds com a maior superf\u00edcie, em percentagem, contaminada: Quase um quarto (23%) do seu territ\u00f3rio, com parte substancial das suas florestas e lez\u00edrias, est\u00e3o situados na zona contaminada.<\/p>\n

A Uni\u00e3o Sovi\u00e9tica de que, \u00e0 \u00e9poca, a Ucr\u00e2nia e a Bielorr\u00fassia eram parte integrante, enviou para o local centenas de milhares de \u201cliquidadores\u201d, os indiv\u00edduos encarregados de mitigar as consequ\u00eancias, gente sem prepara\u00e7\u00e3o nem prote\u00e7\u00e3o adequada. Apenas do lado da Bielorr\u00fassia, que contribui com mais de 110.000, mais de 80% morreram at\u00e9 2003. Provavelmente nunca se saber\u00e1 o n\u00famero exato de v\u00edtimas, mas seguramente s\u00e3o muitas centenas de milhares. Sobre o reator, no seu sarc\u00f3fago, nada se sabe.<\/p>\n

A hist\u00f3ria tem mostrado que \u00e9 muito dif\u00edcil de prever o desenrolar de acontecimentos como os ocorridos no grave acidente nuclear de\u00a0Chernobil\u00a0e que a gest\u00e3o das centrais nucleares e dos res\u00edduos a\u00ed produzidos, que t\u00eam de ser mantidos e vigiados durante milhares de anos, \u00e9 uma heran\u00e7a com futuro incerto legada \u00e0s gera\u00e7\u00f5es vindouras.<\/p>\n

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Portugal e o seu contributo contra o nuclear<\/strong><\/p>\n

No combate ao nuclear, Portugal deu um contributo importante na luta antinuclear ao encerrar h\u00e1 20 anos, em 2001, a atividade mineira de explora\u00e7\u00e3o de ur\u00e2nio que decorreu sobretudo no centro do pa\u00eds, e ao n\u00e3o construir nenhuma Central em Ferrel, conforme esteve previsto nos anos 70 do s\u00e9culo passado.<\/p>\n

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A Central Nuclear de Almaraz<\/strong><\/p>\n

O triste dia, que hoje se assinala, deveria fazer-nos refletir seriamente sobre a Central Nuclear de Almaraz, localizada a cerca de 100km da fronteira com Portugal e junto ao rio Tejo, uma vez que esta situa\u00e7\u00e3o apresenta inquietantes semelhan\u00e7as com a ocorrida na Bielorr\u00fassia, pa\u00eds tamb\u00e9m com 10 milh\u00f5es de habitantes e que tamb\u00e9m n\u00e3o possui centrais nucleares mas, no entanto, foi o mais castigado e onde as doen\u00e7as oncol\u00f3gicas registaram aumentos da ordem de 75 vezes mais.<\/p>\n

A Central de Almaraz continua a revelar-se como um potencial perigo em especial para toda a regi\u00e3o transfronteiri\u00e7a dado que j\u00e1 ultrapassou o seu per\u00edodo normal de funcionamento e, n\u00e3o obstante, viu prolongado em 10 anos o seu per\u00edodo de atividade, at\u00e9 2020, e agora, o Governo Espanhol pretende estender este per\u00edodo por ainda mais 8 anos! Apesar de todos os incidentes que t\u00eam ocorrido nesta Central Nuclear, e da sua j\u00e1 longa vida (j\u00e1 mais de 40 anos de idade), o cons\u00f3rcio de empresas que a explora pretende, com a coniv\u00eancia do Governo Espanhol, prolongar ainda mais o seu per\u00edodo de funcionamento, at\u00e9 2030, pelo menos. \u00c9 uma tem\u00edvel bomba-rel\u00f3gio que nos amea\u00e7a e que, tranquilamente, continuamos a ignorar.<\/p>\n

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O triste historial do Nuclear<\/strong><\/p>\n

J\u00e1 em 1979 tinha existido um acidente grave na Central Nuclear de Three Miles Island, nos Estados Unidos da Am\u00e9rica, e mais recentemente, em 2011, outro grave acidente ocorreu, desta vez na Central Nuclear de Fukushima no Jap\u00e3o, tendo este sido tamb\u00e9m um dos mais severos da hist\u00f3ria do nuclear. Temos assim os tr\u00eas maiores acidentes nucleares da hist\u00f3ria (estes dois e o de Chernobil) em tr\u00eas dos pa\u00edses mais avan\u00e7ados nas tecnologias da ind\u00fastria nuclear e \u00e9 pois importante refletir sobre os problemas de seguran\u00e7a inerentes a este tipo de centrais. Para culminar toda esta hist\u00f3ria tr\u00e1gica que \u00e9 a do nuclear, o Jap\u00e3o prepara-se agora para lan\u00e7ar no Oceano Pac\u00edfico milh\u00f5es de litros de \u00e1gua contaminada, oriunda do arrefecimento dos reatores acidentados.<\/p>\n

A op\u00e7\u00e3o pela fiss\u00e3o nuclear \u00e9 contr\u00e1ria ao princ\u00edpio da precau\u00e7\u00e3o e p\u00f5e em causa a norma \u00e9tica da equidade transgeracional e da seguran\u00e7a nacional e transnacional, sendo que \u00e0 luz dos atuais conhecimentos, esta op\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 uma solu\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica aceit\u00e1vel devido aos seus grav\u00edssimos impactes no ambiente e na sa\u00fade humana. Neste dia simb\u00f3lico, em que se assinalam os 35 anos sobre o acidente nuclear de\u00a0Chernobil, \u00e9 pois importante continuar a alertar para os riscos que esta forma de energia comporta, e para a urg\u00eancia de nos indignarmos contra esta estranha forma de loucura que atingiu o ser humano. Para que Portugal e o mundo fiquem menos expostos aos perigos do nuclear.<\/p>\n

De Svetlana Alexievich, Pr\u00e9mio Nobel da Literatura em 2015 (\u201cAs vozes de Chernobyl\u201d \u2013 Ed. Elsinore) transcrevemos: \u201cA mesma terra, a mesma \u00e1gua, as mesmas \u00e1rvores\u2026no entanto\u2026ao entardecer, vi os pastores a tentarem encaminhar o rebanho cansado para o rio, mas as vacas voltavam para tr\u00e1s, mal se abeiravam. De alguma forma apercebiam-se do perigo. Disseram-me tamb\u00e9m que os gatos deixaram de comer ratos mortos. A morte escondia-se em todo o lado, mas era uma morte diferente. Sob novas m\u00e1scaras. Com um disfarce desconhecido.<\/em>\u201d<\/p>\n

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Lisboa, 26 de Abril de 2021<\/p>\n

A Comiss\u00e3o Coordenadora do MIA em Portugal<\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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