{"id":14363,"date":"2021-03-08T16:36:17","date_gmt":"2021-03-08T16:36:17","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=14363"},"modified":"2021-03-08T16:36:17","modified_gmt":"2021-03-08T16:36:17","slug":"manifesto-da-quercus-pela-florestas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/08\/manifesto-da-quercus-pela-florestas\/","title":{"rendered":"Manifesto da Quercus pela Florestas"},"content":{"rendered":"

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A Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza, denominada inicialmente em 1985 por Quercus – Grupo para a Recupera\u00e7\u00e3o da Floresta e Fauna Aut\u00f3ctones, definiu como seu objectivo a defesa da natureza e a<\/strong>
\nsalvaguarda da biodiversidade, com destaque para a recupera\u00e7\u00e3o da nossa floresta aut\u00f3ctone.<\/strong><\/p>\n

As florestas s\u00e3o essenciais ao equil\u00edbrio dos ecossistemas e \u00e0 vida humana: suportam grande biodiversidade, libertam oxig\u00e9nio, s\u00e3o sumidouros de di\u00f3xido de carbono (principal g\u00e1s com efeito de estufa), moderam as temperaturas,
\nfacilitam a infiltra\u00e7\u00e3o da \u00e1gua no solo (e consequentemente a recarga dos aqu\u00edferos), fixam o solo e impedem a eros\u00e3o. Estes servi\u00e7os prestados pelos ecossistemas florestais constituem externalidades positivas que devem ser
\nvalorizadas.<\/p>\n

Em Portugal, quase 40% da \u00e1rea do nosso territ\u00f3rio \u00e9 ocupada por florestas, maioritariamente associadas a monoculturas de eucalipto (Eucalyptus globulus<\/em>) e de pinheiro-bravo (Pinus pinaster<\/em>), mas tamb\u00e9m com \u00e1reas importantes de montado de sobreiro (Quercus suber) e azinheira (Quercus rotundifolia), que s\u00e3o esp\u00e9cies protegidas, entre outros povoamentos florestais de menor express\u00e3o. As diversas esp\u00e9cies de carvalhais aut\u00f3ctones apenas ocupam 5%
\nda \u00e1rea florestal e, apesar da sua import\u00e2ncia ecol\u00f3gica, n\u00e3o t\u00eam qualquer estatuto de protec\u00e7\u00e3o, situa\u00e7\u00e3o que devia ser alterada.<\/p>\n

Existem diversas amea\u00e7as \u00e0 floresta portuguesa, destacando-se a destrui\u00e7\u00e3o dos \u00faltimos bosquetes aut\u00f3ctones, os inc\u00eandios, doen\u00e7as, pragas, expans\u00e3o das monoculturas e das invasoras lenhosas, as m\u00e1s pr\u00e1ticas de gest\u00e3o, o
\nabsentismo florestal, a especula\u00e7\u00e3o imobili\u00e1ria e as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas.<\/p>\n

Exige-se um ordenamento florestal, com a promo\u00e7\u00e3o de uma floresta multifuncional, com diversas esp\u00e9cies, mais adaptadas ao clima e aos solos, como por exemplo os carvalhos (Quercus\u00a0<\/em>spp.), o sobreiro, a azinheira, ou o
\nfreixo (Fraxinus angustifolia<\/em>). Tamb\u00e9m \u00e9 importante a utiliza\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies aut\u00f3ctones produtoras de madeiras nobres, exploradas em ciclos mais longos e com uma silvicultura de baixa intensidade de gest\u00e3o que promova a
\nsustentabilidade dos ecossistemas florestais.<\/p>\n

 <\/p>\n

O pinheiro-bravo apesar de ser uma esp\u00e9cie aut\u00f3ctone, deve ser usada de forma a existir compartimenta\u00e7\u00e3o da floresta com folhosas aut\u00f3ctones, promovendo a explora\u00e7\u00e3o em povoamentos mistos, evitando as grandes \u00e1reas
\ncont\u00ednuas.<\/p>\n

Entre os v\u00e1rios tipos de bosques aut\u00f3ctones a promover, destacamos carvalhais de carvalho-roble (Quercus robur<\/em>), de carvalho-negral (Quercus pyrenaica<\/em>), de carvalho-portugu\u00eas (Quercus faginea<\/em>), Montados de sobro ou
\nsobreirais de Quercus suber e Montados ou azinhais de Quercus rotundifolia, bosques reliquiais de carvalho-de-Monchique (Quercus canariensis<\/em>), bosquetes de loureiro (Laurus nobilis<\/em>), bosquetes de azereiro (Prunus lusitanica\u00a0<\/em>ssp\u00a0lusitanica<\/em>), bosques de medronheiro (Arbutus unedo<\/em>), azevinho (Ilex aquifolium<\/em>), de teixo (Taxus baccata<\/em>) e pinhais de pinheiro-bravo (Pinus pinaster<\/em>) e pinheiro-manso (Pinus pinea<\/em>), soutos e castin\u00e7ais de castanheiro (Castanea sativa<\/em>), bosques aluvionares com amieiro (Alnus glutinosa<\/em>), salgueiros (Salix<\/em>\u00a0sp.), ulmeiro (Ulmus minor<\/em>) e freixo, entre outras esp\u00e9cies rip\u00edcolas.<\/p>\n

Entre os v\u00e1rios povoamentos aut\u00f3ctones, a manuten\u00e7\u00e3o da floresta mediterr\u00e2nica de sobreiros \u00e9 essencial dado que \u00e9 um dos ecossistemas florestais mais ricos em biodiversidade do continente europeu, reconhecido mesmo como um Hot Spot de biodiversidade em termos globais.<\/p>\n

Neste sentido, a Quercus considera essenciais para a promo\u00e7\u00e3o da nossa floresta aut\u00f3ctone:
\n\u2022 A manuten\u00e7\u00e3o e prote\u00e7\u00e3o legal dos bosques aut\u00f3ctones, com destaque para os reliquiais, amea\u00e7ados e priorit\u00e1rios em termos de conserva\u00e7\u00e3o.
\nEsta prote\u00e7\u00e3o legal dever\u00e1 ser promovida atrav\u00e9s da cria\u00e7\u00e3o de legisla\u00e7\u00e3o nacional, associada \u00e0 elabora\u00e7\u00e3o de cartografia de pormenor \u00e0 escala municipal, com a inclus\u00e3o destes bosques em zonas de prote\u00e7\u00e3o nos PDM’s e em outros Instrumentos de Gest\u00e3o do Territ\u00f3rio;<\/p>\n

\u2022 Efectuar a prote\u00e7\u00e3o dos montados de sobro e azinho com a delimita\u00e7\u00e3o dos povoamentos e n\u00facleos com interesse ecol\u00f3gico em cartografia nacional que seja transposta para os Instrumentos de Gest\u00e3o do Territ\u00f3rio;<\/p>\n

\u2022 Concluir o cadastro predial r\u00fastico com a delimita\u00e7\u00e3o cartogr\u00e1fica das parcelas em ambiente SIG, com a identifica\u00e7\u00e3o dos propriet\u00e1rios;<\/p>\n

\u2022 A promo\u00e7\u00e3o dum efectivo ordenamento florestal, atrav\u00e9s do emparcelamento fundi\u00e1rio da propriedade, para auxiliar a gest\u00e3o florestal respons\u00e1vel no minif\u00fandio a Norte do Tejo;<\/p>\n

\u2022 Aumentar a fiscaliza\u00e7\u00e3o do SEPNA da GNR e dos servi\u00e7os do ICNF – Instituto de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza e Florestas, promovendo a sua efic\u00e1cia ao n\u00edvel dos processos administrativos;<\/p>\n

\u2022 Ajustar o Fundo Florestal Permanente dando \u00eanfase \u00e0 promo\u00e7\u00e3o da floresta aut\u00f3ctone com esp\u00e9cies mais adaptadas e resistentes ao fogo, apoiando os propriet\u00e1rios que n\u00e3o pretendem investir em planta\u00e7\u00f5es de monoculturas intensivas;<\/p>\n

\u2022 Caso seja necess\u00e1rio melhorar a fertilidade do solo, deve ser dada prefer\u00eancia \u00e0 utiliza\u00e7\u00e3o de mat\u00e9ria org\u00e2nica resultante dos res\u00edduos da explora\u00e7\u00e3o, podendo recorrer-se a corretivos e ao composto org\u00e2nico da valoriza\u00e7\u00e3o de res\u00edduos s\u00f3lidos urbanos;<\/p>\n

\u2022 Evitar o uso de pesticidas na gest\u00e3o da floresta, devido ao potencial impacto negativo na biodiversidade, na contamina\u00e7\u00e3o dos solos e da \u00e1gua;<\/p>\n

\u2022 A promo\u00e7\u00e3o do ordenamento florestal que evite a exist\u00eancia de monoculturas cont\u00ednuas de uma s\u00f3 esp\u00e9cie, o que afecta negativamente a diversidade biol\u00f3gica e cria condi\u00e7\u00f5es para a prolifera\u00e7\u00e3o de pragas florestais;<\/p>\n

\u2022 A gest\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o espont\u00e2nea deve ser efectuada preferencialmente com recurso ao pastoreio de pequenos ruminantes com baixo encabe\u00e7amento, ou com recurso a corta matos efectuando limpeza em faixas alternadas, salvaguardando assim a regenera\u00e7\u00e3o natural e reduzindo a eros\u00e3o e o risco de inc\u00eandio;<\/p>\n

\u2022 A utiliza\u00e7\u00e3o de grades de discos deve ser condicionada em encostas com declives acima dos 10%, e devem ser conservadas manchas de vegeta\u00e7\u00e3o natural para abrigo da fauna e manuten\u00e7\u00e3o da biodiversidade;<\/p>\n

\u2022 Deve ser interditado o uso de grades de discos debaixo da copa das querc\u00edneas para evitar o corte de ra\u00edzes e consequentemente o decl\u00ednio destes povoamentos;<\/p>\n

\u2022 N\u00e3o utilizar herbicidas na gest\u00e3o de matos, dado o seu impacte nos ecossistemas;<\/p>\n

\u2022 Deve ser revista a regulamenta\u00e7\u00e3o da RAN, no sentido de repor a interdi\u00e7\u00e3o de floresta\u00e7\u00e3o com esp\u00e9cies de r\u00e1pido crescimento, como o eucalipto, nos melhores solos de aluvi\u00e3o classes A e B;<\/p>\n

\u2022 Devem ser interditas planta\u00e7\u00f5es de eucalipto de regadio, para evitar o desperd\u00edcio de \u00e1gua, a qual \u00e9 priorit\u00e1ria para outros usos;<\/p>\n

\u2022 A aprova\u00e7\u00e3o de novos projectos ou ac\u00e7\u00f5es de rearboriza\u00e7\u00e3o com esp\u00e9cies de r\u00e1pido crescimento, deve ser condicionada \u00e0 instala\u00e7\u00e3o de uma \u00e1rea m\u00ednima de 15% de esp\u00e9cies folhosas aut\u00f3ctones;<\/p>\n

\u2022 A madeira de esp\u00e9cies arb\u00f3reas aut\u00f3ctones n\u00e3o deve ser utilizada para as ind\u00fastrias de biomassa florestal, salvo quando o arvoredo est\u00e1 em estado de decrepitude irrevers\u00edvel por motivos fitossanit\u00e1rios;<\/p>\n

\u2022 Apelar \u00e0 sociedade civil para uma vigil\u00e2ncia activa e respons\u00e1vel dos espa\u00e7os florestais, alertando as autoridades atrav\u00e9s da linha telef\u00f3nica de protec\u00e7\u00e3o \u00e0 floresta 112, sempre que se verifiquem comportamentos ou situa\u00e7\u00f5es de risco no per\u00edodo cr\u00edtico, tais como fogueiras, queimadas ou in\u00edcio de fogos;<\/p>\n

\u2022 Sempre que for detectado o abate ilegal de esp\u00e9cies florestais protegidas como o sobreiro, a azinheira e o azevinho, deve ser alertado o SOS Ambiente e Territ\u00f3rio, para actua\u00e7\u00e3o do SEPNA da GNR;<\/p>\n

\u2022 Valorizar o sistema de certifica\u00e7\u00e3o da gest\u00e3o florestal sustent\u00e1vel FSC – Forest Stewardship Council na floresta aut\u00f3ctone, desde que utilizado com rigor;<\/p>\n

\u2022 Promover a valoriza\u00e7\u00e3o dos servi\u00e7os dos ecossistemas florestais, reconhecidos pela sociedade em termos gerais, integrando nas pol\u00edticas, medidas de apoio aos propriet\u00e1rios que efectuem uma verdadeira gest\u00e3o sustent\u00e1vel dos recursos florestais;<\/p>\n

\u2022 Ades\u00e3o ao manifesto das ONG\u00b4s ib\u00e9ricas “Uma vis\u00e3o comum sobre o problema das planta\u00e7\u00f5es de eucalipto”, adaptado a Portugal, o qual constitui um anexo integrante do presente manifesto;<\/p>\n

\u2022 Refor\u00e7ar o manifesto das ONG’s, n\u00e3o se autorizando novas \u00e1reas com planta\u00e7\u00f5es de eucalipto, sendo este aspecto ainda mais importante nas \u00c1reas Classificadas e outros locais com interesse para conserva\u00e7\u00e3o dos habitats ou esp\u00e9cies amea\u00e7adas;<\/p>\n

\u2022 O aumento da produtividade na reconvers\u00e3o das planta\u00e7\u00f5es de eucalipto, estimada em 25%, pode evitar a expans\u00e3o da \u00e1rea desta monocultura;<\/p>\n

\u2022 As orienta\u00e7\u00f5es previstas em v\u00e1rios PROF – Planos Regionais de Ordenamento Florestal, tinham metas para evitar o aumento da \u00e1rea da monocultura do eucalipto, as quais foram inexplicavelmente suspensas, mas que devem ser repostas;<\/p>\n

\u2022 Defender a harmoniza\u00e7\u00e3o de toda a regulamenta\u00e7\u00e3o num C\u00f3digo Florestal, o qual deve ser previamente discutido e participado pelos diversos sectores da sociedade, n\u00e3o se ficando apenas por legisla\u00e7\u00e3o avulsa \u00e0 medida dos insteresses de grandes empresas industriais e outras entidades privadas duma \u00fanica fileira florestal.<\/p>\n

A Direc\u00e7\u00e3o Nacional e o Conselho de Representantes da Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza, denominada inicialmente em 1985 por Quercus – Grupo para a Recupera\u00e7\u00e3o da Floresta e Fauna Aut\u00f3ctones, definiu como seu objectivo a defesa da natureza e a salvaguarda da biodiversidade, com destaque para a recupera\u00e7\u00e3o da nossa floresta aut\u00f3ctone. As florestas s\u00e3o essenciais ao equil\u00edbrio dos ecossistemas […]<\/p>\n","protected":false},"author":5,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"inline_featured_image":false,"footnotes":""},"categories":[377],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14363"}],"collection":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/5"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=14363"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14363\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":14375,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/14363\/revisions\/14375"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=14363"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=14363"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=14363"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}