{"id":14226,"date":"2021-03-08T16:08:49","date_gmt":"2021-03-08T16:08:49","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=14226"},"modified":"2021-03-08T16:08:49","modified_gmt":"2021-03-08T16:08:49","slug":"balanco-ambiental-2020-castelo-branco","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/08\/balanco-ambiental-2020-castelo-branco\/","title":{"rendered":"BALAN\u00c7O AMBIENTAL 2020 – Castelo Branco"},"content":{"rendered":"

[-] Viola\u00e7\u00f5es POASAP, Agricultura superintensiva, Central de Biomassa do Fund\u00e3o, Constru\u00e7\u00e3o do IC31, Almaraz e Polui\u00e7\u00e3o dos Rios<\/p>\n

[+] Esp\u00e9cies em perigo Recuperam,Aumento da Procura de Produtos Locais, Biol\u00f3gicos e no Turismo Rural e de Natureza<\/p>\n

O ano de 2020 foi marcado pela crise pand\u00eamica. Apesar do desafio que uma situa\u00e7\u00e3o deste tipo representa para a sociedade, num contexto da necess\u00e1ria altera\u00e7\u00e3o de comportamentos em prol de uma maior sustentabilidade ambiental, infelizmente, essa mensagem n\u00e3o tem passado de forma eficaz para opini\u00e3o p\u00fablica e para os decisores em particular.<\/p>\n

A crise que atravessamos actualmente, para al\u00e9m de ter como consequ\u00eancia a diminui\u00e7\u00e3o do bem-estar da maior parte da popula\u00e7\u00e3o, tem acabado tamb\u00e9m por desviar a aten\u00e7\u00e3o da opini\u00e3o p\u00fablica dos graves problemas ambientais que continuamos a viver, tanto a n\u00edvel local, como global. Seguindo uma l\u00f3gica centrada no curto prazo, e muitas vezes sob press\u00e3o dos organismos internacionais que condicionam as nossas pol\u00edticas, tem-se vindo a assistir, tamb\u00e9m no plano ambiental, a v\u00e1rias decis\u00f5es pautadas por objetivos imediatistas, ao inv\u00e9s de privilegiar a\u00e7\u00f5es com implica\u00e7\u00f5es positivas a m\u00e9dio e longo prazo. <\/p>\n

Como tem acontecido em anos anteriores, a Quercus Castelo Branco faz um balan\u00e7o ambiental relativo ao ano de 2020, selecionando os melhores e os piores factos a n\u00edvel regional, e apresentando algumas perspectivas para o ano de 2021.<\/p>\n

A pandemia que vivemos \u00e9 uma antevis\u00e3o dos desafios que o futuro nos reserva. A crise clim\u00e1tica \u00e9 t\u00e3o grave e premente quanto a crise sanit\u00e1ria que vivemos atualmente, embora muitos n\u00e3o estejam cientes disso. Para controlar e reverter este cen\u00e1rio s\u00e3o necess\u00e1rias altera\u00e7\u00f5es profundas aos comportamentos e h\u00e1bitos de todos.<\/p>\n

Os piores factos ambientais de 2020<\/p>\n

Viola\u00e7\u00f5es ao POASAP <\/p>\n

As viola\u00e7\u00f5es ao POASAP (Plano de ordenamento da albufeira de Santa \u00c1gueda e Pisco) persistiram e intensificaram-se, no terreno um conjunto de obras e atividades continuam a decorrer ilegalmente junto da Albufeira de Santa \u00c1gueda na \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o, nomeadamente constru\u00e7\u00f5es ilegais, mobiliza\u00e7\u00e3o de solos, destrui\u00e7\u00e3o de carvalhais e vegeta\u00e7\u00e3o natural, visita\u00e7\u00e3o desordenada, aplica\u00e7\u00e3o de pesticidas, entre outras. A presen\u00e7a regular de peixes mortos e as altera\u00e7\u00f5es significativas das caracter\u00edsticas de cor e cheiro da \u00e1gua indiciam contamina\u00e7\u00e3o e eutrofiza\u00e7\u00e3o da albufeira. Apesar dos constantes alertas e denuncias da plataforma de defesa da albufeira terreno o crime compensa.<\/p>\n

Agricultura superintensiva (amendoais e olivais) destroem habitats<\/p>\n

S\u00e3o v\u00e1rios os problemas ambientais que t\u00eam vindo a ser relatados devido \u00e0 instala\u00e7\u00e3o destas monoculturas superintensivas principalmente nos concelhos de Idanha-a-Nova e Fund\u00e3o e que tem a ver com a contamina\u00e7\u00e3o do ar, dos solos e da \u00e1gua, diminui\u00e7\u00e3o de biodiversidade, nomeadamente com a destrui\u00e7\u00e3o de montados e habitats naturais, \u00e1reas de REN e RAN, com evidente degrada\u00e7\u00e3o dos solos, entre outros, sobretudo derivados \u00e0s pr\u00e1ticas utilizadas e aos produtos agrot\u00f3xicos usados regularmente nos tratamentos.<\/p>\n

Central de Biomassa do Fund\u00e3o<\/p>\n

A Quercus tem acompanhado com aten\u00e7\u00e3o e elevada preocupa\u00e7\u00e3o o impacte ambiental que a nova Central de Biomassa do Fund\u00e3o (CBF) tem provocado na regi\u00e3o, principalmente junto das habita\u00e7\u00f5es da popula\u00e7\u00e3o residente mais pr\u00f3xima desta unidade industrial.<\/p>\n

Os elevados n\u00edveis de ru\u00eddo e a liberta\u00e7\u00e3o de poeiras provenientes da tritura\u00e7\u00e3o da madeira continuam no dia a dia, inclusive durante o per\u00edodo nocturno. A Quercus tamb\u00e9m confirmou no terreno que a CBF est\u00e1 a queimar, na totalidade ou praticamente na totalidade, madeira de qualidade, n\u00e3o utilizando, como seria desej\u00e1vel e est\u00e1 contratualizado, biomassa residual. Apesar de ter sido notificada a central as ilegalidades mantem-se no terreno com claro preju\u00edzo para o ambiente e as popula\u00e7\u00f5es residentes.<\/p>\n

Constru\u00e7\u00e3o do IC31<\/p>\n

A inten\u00e7\u00e3o do governo de construir o IC31 em perfil de auto estrada numa regi\u00e3o com elevado patrim\u00f3nio natural e cultural (concelhos de Castelo Branco e Idanha-a-Nova), poe em causa o modelo de desenvolvimento sustent\u00e1vel e ter\u00e1 um impacto ambiental e social negativo muito significativo, nomeadamente ao fragmentar e destruir habitats, provocar mortalidade de fauna, aumentar o ruido e polui\u00e7\u00e3o, vai por em causa investimentos no turismo de natureza , degradar a paisagem e a qualidade de vida das popula\u00e7\u00f5es, entre outros.<\/p>\n

Almaraz em funcionamento at\u00e9 2028<\/p>\n

No passado m\u00eas de Abril, o Conselho de Seguran\u00e7a Nuclear (CSN) espanhol emitiu um parecer em que autoriza o prolongamento do funcionamento da Central Nuclear de Almaraz, em Espanha, at\u00e9 outubro de 2028. A Central Nuclear de Almaraz fica situada junto ao rio Tejo, na prov\u00edncia de C\u00e1ceres, em Espanha, a cerca de 100 km da fronteira com Portugal e tem tido incidentes com regularidade, onde se incluem as duas paragens recentes dos reatores devido a avarias detetadas e existindo mesmo situa\u00e7\u00f5es em que j\u00e1 foram medidos n\u00edveis de radioatividade superiores ao permitido. Portugal pode vir a ser afetado, caso ocorra um acidente grave, quer por contamina\u00e7\u00e3o das \u00e1guas, uma vez que a central se situa numa albufeira afluente do rio Tejo, quer por contamina\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica, pela grande proximidade geogr\u00e1fica existente. Para al\u00e9m disto, Portugal n\u00e3o revela estar minimamente preparado para lidar com um cen\u00e1rio deste tipo, pelo que a acontecer um acidente grave, isso traria certamente s\u00e9rios impactes imediatos para toda a zona fronteiri\u00e7a, em especial para os distritos de Castelo Branco e Portalegre.<\/p>\n

Polui\u00e7\u00e3o nos Rios e plantas invasoras<\/p>\n

S\u00e3o v\u00e1rios os Rios e cursos de agua da regi\u00e3o que continuam com problemas de polui\u00e7\u00e3o, por funcionamento deficit\u00e1rio de ETARS, por descargas de efluentes sem tratamento, por polui\u00e7\u00e3o difusa da agricultura intensiva. Os Rios Tejo, Ponsul e Aravil, a Ribeira de Alpreade, s\u00e3o apenas alguns exemplos. Em 2020 aumentou a regularidade e a intensidade destes fen\u00f3menos, contribuindo ainda mais para a degrada\u00e7\u00e3o da qualidade de \u00e1gua dos Rios na regi\u00e3o. O aumento da concentra\u00e7\u00e3o de nutrientes provenientes da polui\u00e7\u00e3o deve-se em parte aos teores elevados em f\u00f3sforo, um dos par\u00e2metros que foi respons\u00e1vel pelo estado ecol\u00f3gico inferior a Bom, no tro\u00e7o do rio Ponsul, entre a Senhora da Gra\u00e7a (junto a Idanha-a-Nova) e a albufeira de Cedillo (Espanha) e que tem origem nos setores urbano, agr\u00edcola e pecu\u00e1rio. Este tipo de \u201cbloom de algas\u201d, est\u00e1 normalmente associado a um feto aqu\u00e1tico a Azola (Azolla filiculoides), uma esp\u00e9cie de planta aqu\u00e1tica ex\u00f3tica invasora, que prolifera quando as massas de \u00e1gua se encontram estagnadas e polu\u00eddas por fosfatos e nitratos, formando tapetes densos de vegeta\u00e7\u00e3o \u00e0 superf\u00edcie. Estes fen\u00f3menos provocam uma diminui\u00e7\u00e3o da entrada de luz nas massas de \u00e1gua e fazem baixar o n\u00edvel de oxig\u00e9nio dissolvido na \u00e1gua, degradando ainda mais a sua qualidade. Este tipo de fen\u00f3menos s\u00e3o indicadores de desequil\u00edbrios nos ecossistemas e s\u00e3o uma consequ\u00eancia da polui\u00e7\u00e3o, levando assim \u00e0 eutrofiza\u00e7\u00e3o dos rios e provocando uma acentuada degrada\u00e7\u00e3o da qualidade das massas de \u00e1gua<\/p>\n

Os melhores factos ambientais de 2020<\/p>\n

Esp\u00e9cies em perigo Recuperam <\/p>\n

O abutre-preto (Aegypius monachus), classificado como Criticamente em Perigo em Portugal, \u00e9 uma esp\u00e9cie que tem o seu principal n\u00facleo reprodutor no Parque Natural do Tejo Internacional. \u00e9 um dos tr\u00eas n\u00facleos reprodutores da maior ave de rapina da Europa em Portugal, juntamente com o Baixo Alentejo e o Douro Internacional, mas durante 40 anos n\u00e3o nasceram crias de abutre-preto no pa\u00eds, desde a d\u00e9cada de 70. Criticamente Em Perigo e confinado a tr\u00eas n\u00facleos reprodutores em Portugal, o abutre-preto continua a dar provas do seu regresso. Este ano no Tejo Internacional nasceram, e sobreviveram, 17 crias.<\/p>\n

Nesta \u00e9poca reprodutora foram confirmados 24 casais na \u00e1rea do Tejo Internacional, dos quais 23 reprodutores. A Aguia imperial Ib\u00e9rica (Aquila Adalberti) uma das aves de rapina mais amea\u00e7adas da Europa, aumentou a sua popula\u00e7\u00e3o reprodutora em Portugal para 24 casais, na Beira Baixa e no Alentejo. <\/p>\n

Aumento da procura de produtos locais, biol\u00f3gicos e no turismo rural e de Natureza<\/p>\n

O p\u00e2nico gerado pela COVID-19 veio expor as fragilidades do sistema de produ\u00e7\u00e3o e comercializa\u00e7\u00e3o de alimentos, baseado nos chamados circuitos longos agroalimentares e, em contrapartida, e conduziu a um aumento dos circuitos curtos agroalimentares, como os mercados locais ou da encomenda de cabazes entregues ao domic\u00edlio, que causou alguns constrangimento deste setor para responder a este s\u00fabito aumento da procura. Qualquer produ\u00e7\u00e3o exige planeamento, e mais ainda a produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola pois est\u00e1 condicionada aos ciclos naturais! Uma rela\u00e7\u00e3o duradoura de aproxima\u00e7\u00e3o entre produtores e consumidores \u00e9 necess\u00e1ria para que os produtores locais n\u00e3o fiquem numa situa\u00e7\u00e3o vulner\u00e1vel pelo excesso de produ\u00e7\u00e3o que poder\u00e3o ter dificuldade em escoar. As restri\u00e7\u00f5es \u00e0s desloca\u00e7\u00f5es e a fuga ao turismo massificado levou \u00e0 descoberta por muitos portugueses das regi\u00f5es do interior e da oferta de turismo rural e de natureza, sendo este um setor com grandes potencialidades ainda por explorar, e uma resposta social e econ\u00f3mica. Contudo, ter\u00e1 de ser incentivada a vertente mais ecol\u00f3gica para salvaguarda dos valores de atra\u00e7\u00e3o tur\u00edstica.<\/p>\n

Perspectivas para 2021<\/p>\n

Esperamos que no pr\u00f3ximo ano as esp\u00e9cies em perigo mantenham a tend\u00eancia de recupera\u00e7\u00e3o, que a diretiva comunit\u00e1ria da \u00e1gua seja efetivamente aplicada na regi\u00e3o para a defesa dos recursos h\u00eddricos, que as autoridades fa\u00e7am cumprir o plano de ordenamento da Albufeira de Santa \u00c1gueda, que o governo mude a inten\u00e7\u00e3o de construir o IC31 e invista na economia real regional, que os portugueses reforcem os h\u00e1bitos sustent\u00e1veis de procura na economia local e circular.<\/p>\n

Castelo Branco , 29 de Dezembro de 2020<\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Regional de Castelo Branco da Quercus- Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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