{"id":12917,"date":"2021-03-04T18:19:31","date_gmt":"2021-03-04T18:19:31","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=12917"},"modified":"2021-03-04T18:19:31","modified_gmt":"2021-03-04T18:19:31","slug":"freedom-festival-albufeira-do-caia-novamente-ameacada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/04\/freedom-festival-albufeira-do-caia-novamente-ameacada\/","title":{"rendered":"Freedom Festival | Albufeira do Caia novamente amea\u00e7ada"},"content":{"rendered":"

As associa\u00e7\u00f5es CEAI, FAPAS, GEDA, LPN, Quercus e SPEA contestam a realiza\u00e7\u00e3o de um festival de m\u00fasica alternativa na Albufeira do Caia face aos impactos sobre o ambiente. Manifestando disponibilidade para colaborar na procura de um local alternativo, as associa\u00e7\u00f5es signat\u00e1rias consideram lament\u00e1vel que a organiza\u00e7\u00e3o continue a insistir num local que deve ser usufru\u00eddo de forma sustent\u00e1vel e exigem, da parte das entidades competentes, a defesa dos valores naturais em quest\u00e3o, inviabilizando futuras edi\u00e7\u00f5es do festival.<\/b><\/p>\n

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Decorreu na Albufeira do Caia (distrito de Portalegre), entre 18 e 21 de Agosto de 2005, a primeira edi\u00e7\u00e3o do Freedom Festival, acontecimento de natureza \u201ccultural\u201d baseado na realiza\u00e7\u00e3o de um espect\u00e1culo de quatro dias de m\u00fasica electr\u00f3nica cont\u00ednua. Organizado pelas editoras Crystal Matrix (Portugal) e Spun Records (EUA), o evento atraiu ao local 6 a 8 milhares de pessoas, tendo ocupado uma \u00e1rea de cerca de 100 ha, incluindo leito, ilhas e margens da albufeira. Os participantes, na sua maioria de nacionalidade estrangeira, acamparam no local, tendo muitos deles prolongado a sua estadia para al\u00e9m do festival.<\/p>\n

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N\u00e3o obstante a incompatibilidade entre os valores naturais existentes no local e um evento destas caracter\u00edsticas, est\u00e1 anunciada pela organiza\u00e7\u00e3o uma segunda edi\u00e7\u00e3o para os pr\u00f3ximos dias 16 a 20 de Agosto. Nesta ocasi\u00e3o o evento ser\u00e1 organizado pelas editoras Crystal Matrix (Portugal) e Hom-Mega (Israel) e o programa pode ser consultado em:\u00a0http:\/\/www.goatrance.de\/goabase\/party\/details\/26097<\/a><\/p>\n

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Apesar dos valores em presen\u00e7a, a primeira edi\u00e7\u00e3o do festival foi licenciada pela C\u00e2mara Municipal de Elvas como um mero \u201cacampamento ocasional\u201d e o Minist\u00e9rio do Ambiente, do Ordenamento do Territ\u00f3rio e do Desenvolvimento Regional limitou-se a cobrar uma import\u00e2ncia pela capta\u00e7\u00e3o de \u00e1gua e a emitir,\u00a0a posteriori<\/i>, uma licen\u00e7a-tipo para a ocupa\u00e7\u00e3o do dom\u00ednio h\u00eddrico, v\u00e1lida para duas semanas ap\u00f3s o acontecimento.<\/p>\n

Estes e outros documentos do processo podem ser consultados no blog do Deputado Lu\u00eds Carloto Marques:\u00a0http:\/\/blogs.parlamento.pt\/acidadeeasserras\/articles\/29863.aspx<\/a><\/p>\n

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A Albufeira do Caia abastece os concelhos de Campo Maior e Elvas e est\u00e3o em curso obras para abastecimento tamb\u00e9m a Arronches e Monforte, pelo que se encontra classificada como protegida pelo Decreto Regulamentar n.\u00ba 2\/88, de 20\/01. Encontra-se designada como IBA (\u00c1rea Importante para Aves), uma vez que a\u00ed se regista a reprodu\u00e7\u00e3o e invernada de esp\u00e9cies priorit\u00e1rias segundo a Directiva Aves, e est\u00e1 em grande parte inclu\u00edda nos SIC (S\u00edtios de Import\u00e2ncia Comunit\u00e1ria) de Caia e de S\u00e3o Mamede, propostos para integrarem a Rede Natura 2000 (Rede Europeia de \u00c1reas Ecol\u00f3gicas Protegidas), ao abrigo da Directiva Habitats.<\/p>\n

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Embora n\u00e3o se tenha constatado mortalidade directa (a \u00e9poca de reprodu\u00e7\u00e3o n\u00e3o se prolongou excessivamente), os impactos do festival sobre a avifauna foram muito significativos, na medida em que a albufeira ficou deserta de aves durante muitas semanas. Ao contr\u00e1rio do ano 2005, durante o per\u00edodo do festival, em 2006 o local acolhia mais de um milhar de aves de diversas esp\u00e9cies, destacando-se aquelas com um estatuto de conserva\u00e7\u00e3o mais desfavor\u00e1vel, nomeadamente: Cegonha-preta (Ciconia nigra), Pato-de-bico-vermelho (Netta rufina<\/i>), \u00c1guia-pesqueira (Pandion haliaetus<\/i>), Sis\u00e3o (Tetrax tetrax<\/i>), Chilreta (Sterna albifrons<\/i>) e Tagaz (Sterna nilotica<\/i>). Acresce que coincidiu com o in\u00edcio da \u00e9poca de ca\u00e7a, quando o local \u00e9 procurado como ref\u00fagio pelas aves que nidificam na zona envolvente, da\u00ed resultando preju\u00edzos \u00f3bvios. Desta forma a reedi\u00e7\u00e3o do festival estar\u00e1 de novo em claro conflito com a legisla\u00e7\u00e3o portuguesa, ao violar a Directiva Aves.<\/p>\n

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A somar \u00e0 perturba\u00e7\u00e3o extrema causada pelo ru\u00eddo e pela ilumina\u00e7\u00e3o, o palco principal e diversas tendas foram instaladas numa das ilhas que vem sendo objecto de gest\u00e3o de habitat tendo em vista a conserva\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies de aves amea\u00e7adas, ac\u00e7\u00e3o da responsabilidade da SPEA – Sociedade para o Estudo das Aves e do PNSSM – Parque Natural da Serra de S. Mamede. Apesar de n\u00e3o se terem registado danos significativos na vegeta\u00e7\u00e3o, o espa\u00e7o ficou repleto de dejectos, o que impediu a realiza\u00e7\u00e3o de uma actividade de voluntariado agendada pela SPEA para o Outono de 2005.<\/p>\n

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Al\u00e9m da eventual degrada\u00e7\u00e3o da qualidade da \u00e1gua, o espa\u00e7o utilizado e a \u00e1rea envolvente ficaram manchados por diversos tipos de res\u00edduos, estacas semi-enterradas, buracos abertos e dezenas de placas de sinaliza\u00e7\u00e3o rodovi\u00e1ria com a marca da organiza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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Os benef\u00edcios econ\u00f3micos para a regi\u00e3o foram praticamente inexistentes, tendo-se traduzido apenas num ef\u00e9mero acr\u00e9scimo de movimento nos transportes em t\u00e1xi e nalguns estabelecimentos comerciais e de restaura\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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Elvas, 30 de Janeiro de 2007.<\/b><\/p>\n

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Notas para os editores:<\/b><\/p>\n

\u2022 As IBAs (Important Bird Areas) – O nome IBA refere-se a uma \u00c1rea Importante para as Aves e a sigla deriva do Ingl\u00eas Important Bird Areas. As \u00c1reas Importantes para as Aves s\u00e3o \u00e1reas designadas segundo crit\u00e9rios objectivos definidos pela BirdLife International, de acordo com o estatuto de amea\u00e7a das aves selvagens. As IBAs no seu conjunto formam uma rede vital para a avifauna mundial. Esta rede pode ser considerada como o m\u00ednimo essencial para assegurar a sobreviv\u00eancia dessas esp\u00e9cies e dos seus habitats. \u00c9 esta a base do trabalho da SPEA e da BirdLife International e o crit\u00e9rio que define as actividades priorit\u00e1rias de conserva\u00e7\u00e3o. IBA da Albufeira do Caia\u00a0http:\/\/www.spea.pt\/IBA\/ibas\/45.html<\/a><\/p>\n