{"id":12816,"date":"2021-03-04T18:03:02","date_gmt":"2021-03-04T18:03:02","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=12816"},"modified":"2021-03-04T18:03:02","modified_gmt":"2021-03-04T18:03:02","slug":"adaptacao-as-alteracoes-climaticas-portugal-tera-de-andar-depressa-se-nao-quiser-perder-recursos-e-dinheiro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/04\/adaptacao-as-alteracoes-climaticas-portugal-tera-de-andar-depressa-se-nao-quiser-perder-recursos-e-dinheiro\/","title":{"rendered":"Adapta\u00e7\u00e3o \u00e0s Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas | Portugal ter\u00e1 de andar depressa se n\u00e3o quiser perder recursos e dinheiro"},"content":{"rendered":"

A Comiss\u00e3o Europeia lan\u00e7ou esta semana para discuss\u00e3o um documento que prop\u00f4s \u00e0s v\u00e1rias inst\u00e2ncias Europeias, acerca de como nos podemos adaptar para enfrentar da melhor forma os efeitos das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. Trata-se do Green Paper sobre Adapta\u00e7\u00e3o \u00e0s Altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas na Europa \u2013 Op\u00e7\u00f5es para a ac\u00e7\u00e3o da UE, que ficar\u00e1 \u00e0 discuss\u00e3o p\u00fablica at\u00e9 Novembro.<\/b><\/p>\n

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Raz\u00f5es de preocupa\u00e7\u00e3o global<\/b><\/p>\n

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A temperatura m\u00e9dia global aumentou 0.7 \u00b0C e na Europa 0.95\u00b0C, acima dos n\u00edveis pr\u00e9-industriais. Nas \u00faltimas tr\u00eas d\u00e9cadas as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas tiveram j\u00e1 uma influ\u00eancia marcada em muitos sistemas f\u00edsicos e biol\u00f3gicos em todo o mundo.<\/p>\n

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\u00c1gua: Prev\u00ea-se uma redu\u00e7\u00e3o acentuada do acesso \u00e0 \u00e1gua pot\u00e1vel segura. As \u00e1reas afectadas pela seca aumentar\u00e3o e as popula\u00e7\u00f5es sob press\u00e3o procurar\u00e3o migrar para outras regi\u00f5es, causando poss\u00edveis problemas de inseguran\u00e7a.<\/p>\n

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Ecossistemas e biodiversidade: cerca de 20-30% das esp\u00e9cies animais e vegetais conhecidos correm risco de extin\u00e7\u00e3o se o aumento de temperatura m\u00e9dia global exceder 1.5 – 2.5\u00b0C.<\/p>\n

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Disponibilidade de alimento: Aumentar\u00e1 o risco da fome e o n\u00famero de pessoas em risco poder\u00e1 atingir centenas de milh\u00f5es.<\/p>\n

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Zonas costeiras: o aumento do n\u00edvel do mar amea\u00e7ar\u00e1 o delta do Nilo, o do Ganges\/Brahmaputra, o do Mekong e deslocar\u00e1 mais de 1 milh\u00e3o de pessoas em cada um at\u00e9 2050. Os pequenos Estados costeiros j\u00e1 est\u00e3o a ser afectados.<\/p>\n

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Sa\u00fade: haver\u00e1 impactos directos e indirectos na sa\u00fade humana e animal. Os efeitos de eventos atmosf\u00e9ricos extremos e o aumento de doen\u00e7as infecciosas est\u00e3o entre os riscos mais importantes.<\/p>\n

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O que \u00e9 a Adapta\u00e7\u00e3o<\/b><\/p>\n

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As ac\u00e7\u00f5es de adapta\u00e7\u00e3o t\u00eam em vista lidar com um clima em mudan\u00e7a j\u00e1 no presente ou em antecipa\u00e7\u00e3o ao futuro; as altera\u00e7\u00f5es podem significar aumento ou diminui\u00e7\u00e3o da precipita\u00e7\u00e3o, temperaturas mais altas, recursos de \u00e1gua mais escassos ou tempestades mais frequentes, etc. A adapta\u00e7\u00e3o visa reduzir o risco e os danos dos impactos prejudiciais actuais e futuros de forma eficiente em termos de custos, ou mesmo explorar benef\u00edcios potenciais. Os exemplos incluem usar a \u00e1gua mais eficientemente, adaptar os regulamentos aplic\u00e1veis aos edif\u00edcios \u00e0s condi\u00e7\u00f5es de clima futuras e a eventos atmosf\u00e9ricos extremos, levantar o n\u00edvel dos diques, desenvolvimento de culturas agr\u00edcolas tolerantes \u00e0 seca, selec\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies e pr\u00e1ticas florestais menos vulner\u00e1veis \u00e0s tempestades e fogos, planeamento do territ\u00f3rio e de corredores ecol\u00f3gicos que permitam a migra\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies, etc. A adapta\u00e7\u00e3o pode abranger estrat\u00e9gias nacionais ou regionais, bem como aplicar-se ao n\u00edvel de comunidade ou mesmo individual.<\/p>\n

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A Europa n\u00e3o ser\u00e1 poupada. As \u00e1reas mais vulner\u00e1veis incluem Portugal<\/b><\/p>\n

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As \u00e1reas mais vulner\u00e1veis incluem o sul da Europa e toda a bacia do Mediterr\u00e2neo, devido ao efeito combinado entre o aumento de temperaturas e redu\u00e7\u00e3o de precipita\u00e7\u00e3o em \u00e1reas que j\u00e1 enfrentam a escassez de \u00e1gua. Muitos sectores econ\u00f3micos dependem fortemente das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e sentir\u00e3o directamente as consequ\u00eancias das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas nas suas actividades e neg\u00f3cios: agricultura, florestas, pescas, turismo de praia e de neve e sa\u00fade. As altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas afectar\u00e3o por exemplo o sector energ\u00e9tico e os consumos energ\u00e9ticos de v\u00e1rias formas. Em regi\u00f5es onde a precipita\u00e7\u00e3o ir\u00e1 diminuir ou onde os Ver\u00f5es secos ser\u00e3o mais frequentes \u2013 como \u00e9 o caso de Portugal \u2013 o fluxo de \u00e1gua necess\u00e1rio \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de energia hidroel\u00e9ctrica, ou ao arrefecimento dos reactores nucleares \u2013 no caso de Espanha –\u00a0 ficar\u00e1 bastante reduzido. O risco de quebras de fornecimento el\u00e9ctrico ir\u00e1 tamb\u00e9m aumentar, pela maior procura de ar condicionado.<\/p>\n

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Necess\u00e1rio investir para poupar maiores custos no futuro<\/b><\/p>\n

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Segundo os especialistas, a Adapta\u00e7\u00e3o pode reduzir custos, mas as for\u00e7as de mercado n\u00e3o ser\u00e3o suficientes para liderar uma adapta\u00e7\u00e3o suficiente. S\u00e3o necess\u00e1rias pol\u00edticas adequadas. As estimativas preliminares prev\u00eaem que no sector da constru\u00e7\u00e3o dos pa\u00edses da OCDE, 1 a 10% do investimento total seja gasto na adapta\u00e7\u00e3o das infra-estruturas e edif\u00edcios \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, Isso no caso de o aumento ser de 3-4\u00baC. Mas se as temperaturas chegarem a subir 5-6\u00baC os custos aumentar\u00e3o em flecha\u2026Por\u00e9m se n\u00e3o houver medidas de adapta\u00e7\u00e3o, os custos da subida do n\u00edvel do mar por exemplo, poder\u00e3o ser quatro vezes superiores do que os custos em criar defesas a inunda\u00e7\u00f5es. Sem ac\u00e7\u00e3o, os custos de danos ir\u00e3o aumentar abruptamente de 2020 a 2080.<\/p>\n

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Partir para a ac\u00e7\u00e3o t\u00e3o cedo quanto poss\u00edvel\u2026<\/b><\/p>\n

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A Comiss\u00e3o prop\u00f4s uma ac\u00e7\u00e3o em v\u00e1rias frentes, destacando a necessidade de actuar t\u00e3o cedo quanto poss\u00edvel. Isso inclui um esfor\u00e7o de entrosamento no sentido de integrar a adapta\u00e7\u00e3o quer na cria\u00e7\u00e3o quer na altera\u00e7\u00e3o da legisla\u00e7\u00e3o e pol\u00edticas diversas; integrar a adapta\u00e7\u00e3o em programas de financiamento comunit\u00e1rio; desenvolver novas respostas pol\u00edticas.<\/p>\n

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\u2026Mas n\u00e3o numa \u00f3ptica de \u201cconserto r\u00e1pido\u201d<\/b><\/p>\n

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Na opini\u00e3o da Confedera\u00e7\u00e3o Europeia das ONGs de Ambiente (EEB), apesar de acolher como muito positivo este Greenpaper, alertou que \u00e9 necess\u00e1rio cuidado para n\u00e3o enveredar por solu\u00e7\u00f5es do g\u00e9nero \u201cconserto r\u00e1pido\u201d. \u00c9 necess\u00e1ria uma abordagem hol\u00edstica para proteger os mecanismos naturais que sustentam os nossos ecossistemas. As solu\u00e7\u00f5es t\u00e9cnicas que podem resolver problemas a curto prazo num sector, podem aumentar os danos noutras \u00e1reas. Por exemplo, os rios que se recarregam pela \u00e1gua da chuva est\u00e3o a tornar-se menos adequados para a navega\u00e7\u00e3o em per\u00edodos cada mais longos todos os anos. Uma reac\u00e7\u00e3o que j\u00e1 sucedeu foi fazer altera\u00e7\u00f5es de fundo a leitos de rio para assegurar n\u00edveis de \u00e1gua suficientes. O efeito colateral \u00e9 que as fun\u00e7\u00f5es ecol\u00f3gicas do rio poder\u00e3o ser destru\u00eddas e se vier a haver precipita\u00e7\u00e3o em excesso, isso pode significar cheias muito mais severas.<\/p>\n

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Portugal: \u00e9 preciso andar mais depressa<\/b><\/p>\n

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Neste contexto, e considerando que Portugal ser\u00e1 um dos pa\u00edses mais afectados da Europa, a Quercus prop\u00f5e que sejam alocados todos os recursos necess\u00e1rios \u00e0 investiga\u00e7\u00e3o e elabora\u00e7\u00e3o de modelos, que sejam revistos todos os planos de constru\u00e7\u00e3o de grandes barragens, que seja incentivada a cria\u00e7\u00e3o de planos de \u00e2mbito regional e local \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e que as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas sejam ponderadas nos planos dos sectores mais vulner\u00e1veis, com destaque ao fornecimento de \u00e1gua, agricultura, conserva\u00e7\u00e3o da Natureza e sa\u00fade. A Estrat\u00e9gia Nacional para as Altera\u00e7\u00f5es Clim\u00e1ticas refere que \u00e9 \u201cimperioso concentrar esfor\u00e7os de investiga\u00e7\u00e3o (\u2026) para o planeamento adequado das medidas de adapta\u00e7\u00e3o\u201d. Outros pa\u00edses da Europa j\u00e1 est\u00e3o a elaborar estrat\u00e9gias nacionais de Adapta\u00e7\u00e3o para v\u00e1rias \u00e1reas sectoriais, incluindo a protec\u00e7\u00e3o da biodiversidade, contendo inclusive recomenda\u00e7\u00f5es \u00e0 escala local. Portanto, conv\u00e9m que Portugal – que ser\u00e1 mais afectado \u2013 ande depressa para evitar custos e perdas agravados no futuro.<\/p>\n

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Lisboa, 5 de Julho de 2007<\/p>\n

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Fontes:<\/p>\n

– Brussels, 29.6.2007, COM(2007) 354 final. Green Paper From the Commission to the Council, the European Parliament, the European Economic and Social Committee and the Committee of the Regions: Adapting to climate change in Europe \u2013 options for EU action. {SEC(2007) 849}<\/p>\n

– Comunicadod e Imprensa do EEB de 29\/06\/07:\u00a0Big picture politics: Adapting to climate change means holistic thinking<\/a><\/p>\n

– England Biodiversity Strategy- Towards adaptation to climate change. Final Report to Defra for contract CR0327. May 2007 (www.defra.gov.uk<\/a>)<\/p>\n