A Quercus, Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza, vem por este meio manifestar a sua discord\u00e2ncia em rela\u00e7\u00e3o ao abate de um conjunto de 18 pl\u00e1tanos de grande porte na Estrada da Circunvala\u00e7\u00e3o (EN 12 \u2013 Porto), realizado no passado dia 9 de Junho pela empresa Estradas de Portugal (EP). Esta discord\u00e2ncia releva do interesse p\u00fablico e ambiental das \u00e1rvores em quest\u00e3o, considerados os seguintes aspectos:<\/b><\/p>\n
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1. FALTA DE DIAGN\u00d3STICO ADEQUADO<\/b><\/p>\n
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Uma interven\u00e7\u00e3o em \u00e1rvores no espa\u00e7o p\u00fablico deve fundamentar-se num diagn\u00f3stico t\u00e9cnico adequado mas, ao contr\u00e1rio do que seria de esperar, n\u00e3o \u00e9 conhecido um Relat\u00f3rio especializado de diagn\u00f3stico dos exemplares em causa. Um Parecer emitido pela EP em 14-04-2010 apenas cont\u00e9m uma indica\u00e7\u00e3o gen\u00e9rica dos danos aparentes, acompanhado de algumas fotos ilustrativas. Da informa\u00e7\u00e3o contida neste Parecer deduz-se que:<\/p>\n
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– N\u00e3o ter\u00e1 sido aplicada uma metodologia de diagn\u00f3stico fitossanit\u00e1rio e an\u00e1lise da estabilidade biomec\u00e2nica de cada \u00e1rvore afectada.<\/p>\n
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– N\u00e3o ter\u00e3o sido adequadamente prospectados problemas radiculares e do tronco, dado n\u00e3o ser referida a medi\u00e7\u00e3o de eventuais podrid\u00f5es internas nem a colheita de amostras para an\u00e1lise laboratorial.<\/p>\n
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– N\u00e3o ter\u00e1 sido realizada a caracteriza\u00e7\u00e3o dendrom\u00e9trica das \u00e1rvores em causa, nem indicada a sua localiza\u00e7\u00e3o em planta topogr\u00e1fica.<\/p>\n
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2. UM ABATE SEM JUSTIFICA\u00c7\u00c3O<\/b><\/p>\n
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Faltando um relat\u00f3rio de avalia\u00e7\u00e3o da sanidade e seguran\u00e7a dos 18 pl\u00e1tanos em quest\u00e3o, e n\u00e3o tendo sido apresentadas medidas alternativas para o tratamento dos danos que afectam estas \u00e1rvores, como t\u00e9cnicas de cirurgia de \u00e1rvores, n\u00e3o existe uma fundamenta\u00e7\u00e3o aceit\u00e1vel que justifique o abate de todas as \u00e1rvores em causa.<\/p>\n
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Por outro lado, a informa\u00e7\u00e3o disponibilizada publicamente \u00e0 data do abate cingiu-se a uma breve nota no site da EP, referindo a necessidade de proceder ao abate de \u201ctr\u00eas Carvalhos\u201d na Estrada da Circunvala\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
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3. UM LAMENT\u00c1VEL RELAT\u00d3RIO DE ABATE<\/b><\/p>\n
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Ap\u00f3s o abate, a EP emitiu em 14-06-2010 um Relat\u00f3rio sucinto, no qual o \u201cestado muito debilitado\u201d dos pl\u00e1tanos abatidos e o seu \u201cperigo de queda eminente\u201d\u00e9 exemplificado com a imagem de uma das \u00e1rvores cortadas. Por\u00e9m, a imagem escolhida leva a crer que se tratava de uma \u00e1rvore com cerne em bom estado de conserva\u00e7\u00e3o, apenas com uma pequena zona de podrid\u00e3o perif\u00e9rica, n\u00e3o se podendo deduzir que o tronco \u201cn\u00e3o assegura a capacidade de suporte do exemplar\u201d. Igualmente se estranha que este Relat\u00f3rio considere que o cerne da \u00e1rvore – uma zona de deposi\u00e7\u00e3o interna cuja madeira est\u00e1 geralmente inactiva – seja a \u00fanica parte do tronco constitu\u00edda por \u201cmadeira viva\u201d.<\/p>\n
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O Relat\u00f3rio de abate da EP indicia assim que as \u00e1rvores ter\u00e3o sido insuficientemente avaliadas, encontrando-se em estado fisiol\u00f3gico e fitossanit\u00e1rio que n\u00e3o justifica o abate realizado. Al\u00e9m disso, n\u00e3o \u00e9 feita qualquer refer\u00eancia ao volume da madeira abatida nem ao seu destino e o relat\u00f3rio limita-se a referir que est\u00e1 programada uma planta\u00e7\u00e3o de novos exemplares \u201cpara a pr\u00f3xima \u00e9poca\u201d.<\/p>\n
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CONCLUS\u00d5ES E RECOMENDA\u00c7\u00d5ES<\/b><\/p>\n
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A Quercus lamenta profundamente a decis\u00e3o de abate de 18 pl\u00e1tanos de grande porte na Estrada da Circunvala\u00e7\u00e3o tomada pela EP, sem que tenha sido apresentada uma adequada fundamenta\u00e7\u00e3o. O efeito regulador destas \u00e1rvores no ambiente urbano, a sua capacidade para absorver os impactes da circula\u00e7\u00e3o rodovi\u00e1ria (ru\u00eddo e poeiras, p. ex.) e ainda o seu efeito c\u00e9nico e est\u00e9tico, foram implacavelmente aniquilados, sem que tenham sido consideradas alternativas para a conserva\u00e7\u00e3o deste patrim\u00f3nio arb\u00f3reo.<\/p>\n
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A Quercus considera que o estado fitossanit\u00e1rio e a estabilidade biomec\u00e2nica das \u00e1rvores existentes no espa\u00e7o p\u00fablico urbano devem ser periodicamente avaliados, de modo a garantir os efeitos ben\u00e9ficos da sua presen\u00e7a a longo prazo. A exist\u00eancia de danos na copa, no tronco ou nas ra\u00edzes deve ser tratada com t\u00e9cnicas de arboricultura que restabele\u00e7am a vitalidade das \u00e1rvores afectadas. O abate de uma \u00e1rvore, enquanto bem p\u00fablico, dever\u00e1 ser um \u00faltimo recurso, ponderado de forma fundamentada e criteriosa.<\/p>\n
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A Quercus considera ainda que \u00e9 urgente melhorar as pr\u00e1ticas de gest\u00e3o das \u00e1rvores no espa\u00e7o p\u00fablico e, sempre que o abate de uma \u00e1rvore seja inevit\u00e1vel, deve ser efectuada a sua substitui\u00e7\u00e3o e implementadas medidas de compensa\u00e7\u00e3o adequadas. \u00c9 este perfil de actua\u00e7\u00e3o que se espera das Estradas de Portugal e de outras entidades, como as Autarquias Locais, com compet\u00eancias de conserva\u00e7\u00e3o do patrim\u00f3nio arb\u00f3reo p\u00fablico.<\/p>\n
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Porto, 17 de Junho de 2010<\/p>\n
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Fotos fornecidas pelo T\u00e9cnico de Arboricultura Paulo Moura<\/b><\/p>\n