{"id":11555,"date":"2021-03-04T14:42:41","date_gmt":"2021-03-04T14:42:41","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=11555"},"modified":"2021-03-04T14:42:41","modified_gmt":"2021-03-04T14:42:41","slug":"caso-foz-tua-alto-douro-unesco-exige-medidas-dificeis-e-governo-divulga-informacao-errada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/04\/caso-foz-tua-alto-douro-unesco-exige-medidas-dificeis-e-governo-divulga-informacao-errada\/","title":{"rendered":"Caso Foz Tua \/ Alto Douro: UNESCO exige medidas dif\u00edceis e Governo divulga informa\u00e7\u00e3o errada"},"content":{"rendered":"

As principais cr\u00edticas e exig\u00eancias da UNESCO no relat\u00f3rio da miss\u00e3o de Agosto 2012:<\/p>\n

1. A UNESCO critica duramente o Estado Portugu\u00eas pelo incumprimento de medidas de gest\u00e3o, salvaguarda e reporte sobre o Alto Douro Vinhateiro ao longo dos \u00faltimos onze anos, em particular os procedimentos que levaram \u00e0 aprova\u00e7\u00e3o da barragem de Foz Tua;<\/p>\n

2. A UNESCO considera que o Alto Douro Vinhateiro \u00e9 altamente vulner\u00e1vel a agress\u00f5es, tanto pelos impactes cumulativos de infra-estruturas como barragens, linhas el\u00e9ctricas e estradas, como por impactes incrementais resultante da aus\u00eancia de pol\u00edticas de gest\u00e3o consistentes. Considera ainda que se trata de uma regi\u00e3o com rela\u00e7\u00f5es estreitas entre o patrim\u00f3nio cultural e natural, que n\u00e3o t\u00eam sido devidamente acauteladas. A UNESCO exige por isso a cria\u00e7\u00e3o de um Plano de Gest\u00e3o da zona, com for\u00e7a de lei, que garanta a salvaguarda de todos estes valores, o qual ter\u00e1 de ser\u00a0 discutido com as partes interessadas e submetido \u00e0 UNESCO at\u00e9 1 Fevereiro 2013;<\/p>\n

3. A UNESCO considera que os impactes microclim\u00e1ticos e suas consequ\u00eancias na produ\u00e7\u00e3o vitivin\u00edcola n\u00e3o foram devidamente estudados e constituem um risco para a integridade do Alto Douro Vinhateiro;<\/p>\n

4. A UNESCO concorda com o enterramento da central el\u00e9ctrica, mas exige conhecer e pr\u00e9-aprovar solu\u00e7\u00f5es para a subesta\u00e7\u00e3o e para a linha de muito alta tens\u00e3o. Ainda n\u00e3o existem projectos para nenhuma destas componentes, algo que \u00e9 duramente criticado no relat\u00f3rio;<\/p>\n

5. A UNESCO reconhece o papel da ferrovia na paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro, e critica fortemente o processo que levou \u00e0 inutiliza\u00e7\u00e3o da Linha do Tua. Diz expressamente que a solu\u00e7\u00e3o de mobilidade proposta pela EDP e pelo Governo (com telef\u00e9rico e barco) n\u00e3o satisfaz minimamente as necessidades, quer das popula\u00e7\u00f5es locais quer do turismo, e exige uma solu\u00e7\u00e3o alternativa (leia-se nas entrelinhas: a reposi\u00e7\u00e3o do servi\u00e7o da linha do Tua). Exige ainda a reposi\u00e7\u00e3o da navegabilidade do Douro, posta em causa pelas obras da barragem;<\/p>\n

6. A UNESCO critica e pede explica\u00e7\u00f5es sobre as condi\u00e7\u00f5es de seguran\u00e7a na obra, que j\u00e1 vitimou v\u00e1rios trabalhadores;<\/p>\n

7. A UNESCO reconhece e lamenta os impactes severos e permanentes sobre o ecossistema e a paisagem do rio e vale do Tua, incluindo a inevit\u00e1vel degrada\u00e7\u00e3o da qualidade da \u00e1gua, causados pela barragem. Critica ainda o incumprimento de medidas obrigat\u00f3rias de mitiga\u00e7\u00e3o de impactes, e a aus\u00eancia de estudo dos impactes cumulativos de v\u00e1rias barragens, novas e antigas, no Douro e seus afluentes. Estes problemas s\u00e3o reconhecidos como amea\u00e7as s\u00e9rias \u00e0 integridade do Alto Douro Vinhateiro;<\/p>\n

8. Com as novas exig\u00eancias da UNESCO, o custo de Foz Tua vai ser fortemente multiplicado.<\/p>\n

9. Esta decis\u00e3o \u00e9 condicional. At\u00e9 que todas estas quest\u00f5es estejam cabalmente resolvidas (o que poder\u00e1 demorar anos), a UNESCO exige que as obras se mantenham a ritmo lento.<\/strong><\/p>\n

\u00c9 certo que neste relat\u00f3rio da UNESCO h\u00e1 algum recuo em rela\u00e7\u00e3o ao relat\u00f3rio de Junho 2011 do Conselho Internacional dos Monumentos e S\u00edtios (ICOMOS) e \u00e0s propostas de Maio 2012 do World Heritage Centre (WHC, \u00f3rg\u00e3o executivo da UNESCO para o Patrim\u00f3nio Mundial). No entanto, este recuo tem um car\u00e1cter pol\u00edtico e n\u00e3o t\u00e9cnico. Tr\u00eas discrep\u00e2ncias a destacar:<\/p>\n

1. Os documentos da ICOMOS e WHC referem, de forma bem fundamentada, que \u201ca constru\u00e7\u00e3o da barragem de Foz Tua teria um s\u00e9rio impacte no Alto Douro Vinhateiro, que implicaria uma perda no seu valor e \u00a0\u00a0\u00a0 s\u00e9rias amea\u00e7as \u00e0 sua integridade e autenticidade\u201d. O \u00faltimo relat\u00f3rio da UNESCO reitera que h\u00e1 um \u201cdano severo e permanente da barragem e albufeira sobre o vale do Tua localizado na zona tamp\u00e3o\u201d e uma \u201cperda f\u00edsica de parte da propriedade, alterando o padr\u00e3o e contexto da paisagem Patrim\u00f3nio da Humanidade\u201d; apesar disto, o relat\u00f3rio diz que \u201ca barragem tem pequeno impacte visual\u201d. Esta \u00faltima alega\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 de todo fundamentada \u2014 \u00e9 simplesmente uma op\u00e7\u00e3o pol\u00edtica de fechar os olhos perante as evid\u00eancias.<\/p>\n

2. Os documentos da ICOMOS e WHC declaram inequivocamente que a zona tamp\u00e3o, onde se localiza a barragem e albufeira de Foz Tua, tem fun\u00e7\u00f5es importantes e faz parte integrante da propriedade a proteger. Ao tolerar que os danos no vale do Tua n\u00e3o sejam tidos em conta na decis\u00e3o, o novo relat\u00f3rio contraria frontalmente as Directrizes Operacionais para Implementa\u00e7\u00e3o da Conven\u00e7\u00e3o do Patrim\u00f3nio Mundial, estabelecidas pela pr\u00f3pria UNESCO.<\/p>\n

3. Os documentos da ICOMOS e WHC dizem expressamente que o programa nacional de barragens deve ser revisto e procuradas alternativas. Esta posi\u00e7\u00e3o decorre das Directrizes Operacionais, que exigem uma gest\u00e3o baseada nos princ\u00edpios da sustentabilidade social, ecol\u00f3gica e econ\u00f3mica. O novo relat\u00f3rio da UNESCO despreza liminarmente estes princ\u00edpios, dizendo que \u201cn\u00e3o est\u00e1 no \u00e2mbito da miss\u00e3o analisar o Programa Nacional de Barragens\u201d. Estamos de novo perante uma op\u00e7\u00e3o pol\u00edtica de fechar os olhos \u00e0s evid\u00eancias, uma vez que foram fornecidas \u00e0 miss\u00e3o todas as informa\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para proceder \u00e0 an\u00e1lise do Programa de Barragens e do projecto de Foz Tua, quer em termos da sua inutilidade, quer da equa\u00e7\u00e3o econ\u00f3mica e social.<\/p>\n

Em s\u00edntese, este relat\u00f3rio da UNESCO, embora admita a barragem de Foz Tua, imp\u00f5e a Portugal uma s\u00e9rie de exig\u00eancias que:<\/strong><\/p>\n

a)\u00a0\u00a0\u00a0 S\u00e3o dif\u00edceis de cumprir, e se n\u00e3o forem cumpridos acarretam o risco de desclassifica\u00e7\u00e3o do Alto Douro Vinhateiro como Patrim\u00f3nio da Humanidade;<\/strong>
\nb)\u00a0\u00a0\u00a0 N\u00e3o mitigam de forma eficaz os graves impactes da barragem;<\/strong>
\nc)\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Sair\u00e3o muito mais caros aos consumidores de electricidade e ao Estado (leia-se aos contribuintes), do que parar a barragem j\u00e1.\u00a0<\/strong>S\u00f3 o custo de enterramento da central el\u00e9ctrica, altera\u00e7\u00e3o da subesta\u00e7\u00e3o e linha custar\u00e1 mais que o resgate da concess\u00e3o da barragem; a que h\u00e1 que acrescentar grandes custos acess\u00f3rios como a reposi\u00e7\u00e3o da mobilidade. Podemos estimar que os custos para os consumidores-contribuintes de a barragem avan\u00e7ar ser\u00e3o 20 a 30 vezes superiores ao custo da paragem imediata da barragem. Estamos perante mais uma das PPP, onde todo o risco fica do lado dos cidad\u00e3os.<\/p>\n

O Governo tem alegado que n\u00e3o tinha dinheiro para parar a barragem de Foz Tua. Este argumento caiu no rid\u00edculo com a aprova\u00e7\u00e3o da Portaria 251\/202, que prev\u00ea a atribui\u00e7\u00e3o de 300 milh\u00f5es de euros de subs\u00eddios a fundo perdido \u00e0s empresas el\u00e9ctricas, para construir novas barragens in\u00fateis.<\/p>\n

As nossas exig\u00eancias, que defendem os interesses do Alto Douro, do Pa\u00eds e dos contribuintes:<\/strong>
\n–\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Suspender imediatamente as obras da barragem de Foz Tua;<\/strong>
\n–\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Revogar a Portaria 251\/2012, o que dar\u00e1 folga or\u00e7amental para resgatar a concess\u00e3o.<\/strong><\/p>\n

\u00a0<\/strong><\/p>\n

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\"logos<\/p>\n

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GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Territ\u00f3rio e Ambiente,\u00a0 LPN – Liga para a Protec\u00e7\u00e3o da Natureza, Quercus – Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza, FAPAS – Fundo para a Protec\u00e7\u00e3o dos Animais Selvagens, GAIA – Grupo de Ac\u00e7\u00e3o e Interven\u00e7\u00e3o Ambiental, COAGRET – Coordenadora de Afectados pelas Grandes Barragens e Transvases, MCLT – Movimento C\u00edvico pela Linha do Tua, AAVRT – Associa\u00e7\u00e3o dos Amigos do Vale do Rio Tua, MCDLT – Movimento de Cidad\u00e3os em Defesa da Linha do Tua, Quinta do Crasto, Quinta dos Mur\u00e7as (Espor\u00e3o SA).<\/p>\n

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