{"id":11474,"date":"2021-03-03T20:17:10","date_gmt":"2021-03-03T20:17:10","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=11474"},"modified":"2021-03-03T20:17:10","modified_gmt":"2021-03-03T20:17:10","slug":"quercus-defende-ostra-portuguesa-crassostrea-angulata","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/03\/quercus-defende-ostra-portuguesa-crassostrea-angulata\/","title":{"rendered":"Quercus defende Ostra-portuguesa, Crassostrea angulata"},"content":{"rendered":"

A Quercus organizou no passado s\u00e1bado, 2 de Fevereiro, Dia Mundial das Zonas H\u00famidas, uma palestra-debate que contou com a presen\u00e7a de importantes especialistas na biologia desta esp\u00e9cie, entre outros oradores convidados. O programa incluiu apresenta\u00e7\u00f5es sobre escava\u00e7\u00f5es arqueol\u00f3gicas no Tejo e uma apresenta\u00e7\u00e3o sobre a Ostra-portuguesa e sua explora\u00e7\u00e3o e ecologia, sobretudo nos estu\u00e1rios do Sado e Tejo, seguindo-se uma mesa redonda com seis intervenientes e um debate. O encontro decorreu nas emblem\u00e1ticas instala\u00e7\u00f5es do antigo Posto de Depura\u00e7\u00e3o de Ostras do Tejo, situado \u00e0 beira do estu\u00e1rio, na localidade do Ros\u00e1rio, Concelho da Moita, tendo reunido cerca de 40 pessoas, incluindo algumas presen\u00e7as do sector da aquacultura.<\/strong><\/p>\n

 <\/p>\n

A explora\u00e7\u00e3o comercial de ostra no pa\u00eds<\/strong><\/p>\n

A Ostra-portuguesa j\u00e1 teve uma explora\u00e7\u00e3o intensiva no pa\u00eds, chegando o sector a denominar-se mesmo de “ind\u00fastria ostre\u00edcola”, com uma produ\u00e7\u00e3o anual que chegou a atingir as 9 mil toneladas, no ano de 1964, em todo o pa\u00eds. No Tejo, nos melhores tempos, antes da polui\u00e7\u00e3o que provocou a extin\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica da Ostra-portuguesa, a produ\u00e7\u00e3o de ostra atingiu as 2000 toneladas\/ano. Atualmente, a n\u00edvel nacional, produz-se cerca de 900 toneladas\/ano de ostras, sendo a maior parte da produ\u00e7\u00e3o a de Ostra-japonesa, ou\u00a0Crassostrea gigas<\/em>.<\/p>\n

 <\/p>\n

A pol\u00e9mica angulata versus gigas<\/strong><\/p>\n

O debate girou sobretudo em torno de um aspeto importante e tamb\u00e9m pol\u00e9mico: a explora\u00e7\u00e3o difundida de uma esp\u00e9cie de ostra que n\u00e3o \u00e9 aut\u00f3ctone, a Crassostrea gigas, que contabiliza 90% da produ\u00e7\u00e3o de ostra no pa\u00eds. O estatuto taxon\u00f3mico da Ostra-portuguesa Crassostrea angulata (Lamarck, 1819) e da Ostra-japonesa\u00a0C. gigas<\/em>\u00a0(Thunberg, 1793) tem sido alvo de controv\u00e9rsia.<\/p>\n

 <\/p>\n

Estudos moleculares recentes de ADN mitocondrial demonstraram que estes dois\u00a0taxa<\/em>, apesar de muito pr\u00f3ximos, eram geneticamente distintos. Adicionalmente, foram observadas diferen\u00e7as em termos de desempenho aqu\u00edcola (taxa de crescimento e sobreviv\u00eancia), susceptibilidade a agentes patog\u00e9nicos, caracter\u00edsticas ecofisiol\u00f3gicas (taxa de filtra\u00e7\u00e3o, consumo de oxig\u00e9nio e tempo de alimenta\u00e7\u00e3o) e estrat\u00e9gia reprodutiva. Foram igualmente observadas diferen\u00e7as na morfologia da concha em adultos de ambos os\u00a0taxa<\/em>, produzidos em condi\u00e7\u00f5es controladas, diferen\u00e7as estas geneticamente determinadas.<\/p>\n

 <\/p>\n

A Ostra-japonesa tem por\u00e9m conquistado muito mercado, por ter maiores dimens\u00f5es e ter mais produtividade que a Ostra-portuguesa, sendo esta de melhores e distintivas caracter\u00edsticas organol\u00e9pticas para muitos. Por outro lado, a Ostra-japonesa, assume domin\u00e2ncia nos territ\u00f3rios onde se instala, criando competi\u00e7\u00e3o at\u00e9 com outras esp\u00e9cies de bivalves. A sua proximidade com a C. angulata permite a reprodu\u00e7\u00e3o entre as duas, com o risco de perda do vigor gen\u00e9tico da C. angulata. Atualmente, apenas no Sado e Mira subsistem popula\u00e7\u00f5es de C. angulata ainda em estado relativamente puro. Foi referido que algumas explora\u00e7\u00f5es de C. gigas t\u00eam sofrido inclusive problemas graves do foro sanit\u00e1rio noutros pa\u00edses europeus, havendo o receio de que possam alastrar com a introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cimes contaminados em Portugal.<\/p>\n

 <\/p>\n

A cria\u00e7\u00e3o e promo\u00e7\u00e3o da marca “Ostra-portuguesa”<\/strong>
\nA salvaguarda da C. angulata passa sem d\u00favida pela sua explora\u00e7\u00e3o comercial, estimulando as empresas nacionais a produzirem a Ostra-portuguesa e os chefes de cozinha a utilizarem-na, fazendo regressar o seu consumo aos h\u00e1bitos alimentares. A certifica\u00e7\u00e3o e subsequente cria\u00e7\u00e3o de uma marca “Ostra-portuguesa”, direcionada para a sua internacionaliza\u00e7\u00e3o, exigem tamb\u00e9m um plano de promo\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gico e bem direcionado, mas tamb\u00e9m, segundo os aquacultores presentes, a garantia de condi\u00e7\u00f5es para a expans\u00e3o das culturas, e respetivos licenciamentos. Para investidores interessados na cria\u00e7\u00e3o de maternidades de ostra, equipamentos onerosos e de meios t\u00e9cnicos avan\u00e7ados, ser\u00e1 fundamental proteger de alguma forma o mercado da C. angulata, incentivando a prefer\u00eancia por esta esp\u00e9cie junto dos criadores, evitando assim a inviabiliza\u00e7\u00e3o dos investimentos, face \u00e0s press\u00f5es que existem para a expans\u00e3o da\u00a0C. gigas<\/em>.<\/p>\n

 <\/p>\n

Comercializa\u00e7\u00e3o e outros valores, a recupera\u00e7\u00e3o de bancos naturais<\/strong>
\nUma estimativa do valor comercial feita por um investigador da FCT refere que se poderia facturar entre 35 a 60 milh\u00f5es de euros por ano s\u00f3 no Tejo com a produ\u00e7\u00e3o e comercializa\u00e7\u00e3o de ostras. A Quercus, referindo esses valores, alertou por\u00e9m que as ostras n\u00e3o t\u00eam apenas valor comercial proveniente da venda dos esp\u00e9cimes para alimenta\u00e7\u00e3o. Os bancos naturais de ostra atuam como recifes, atraindo a fixa\u00e7\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 de novas ostras, como tamb\u00e9m de outros bivalves e organismos que promovem mais cadeias tr\u00f3ficas e produtividade no estu\u00e1rio. As ostras s\u00e3o tamb\u00e9m filtradores de mat\u00e9ria org\u00e2nica e fixam azoto, servi\u00e7os ecol\u00f3gicos que j\u00e1 s\u00e3o valorados, por exemplo, nos Estados Unidos, e que podem vir a ser valorizados em futuros mercados de servi\u00e7os de ecossistema nas bacias hidrogr\u00e1ficas.<\/p>\n

 <\/p>\n

Medidas concretas de repovoamento a par da explora\u00e7\u00e3o comercial<\/strong>
\nPara a Quercus, \u00e9 fundamental que, a par da promo\u00e7\u00e3o comercial e prote\u00e7\u00e3o da marca e esp\u00e9cie “Ostra-portuguesa”, se incentivem tamb\u00e9m junto dos criadores boas pr\u00e1ticas para a recupera\u00e7\u00e3o dos bancos de ostra no meio natural. O Dr. Antunes Dias referiu uma pr\u00e1tica simples para o efeito – a coloca\u00e7\u00e3o de “coletores” ou seja fiadas ou “ros\u00e1rios” de cascas de ostra enfiadas num cabo que s\u00e3o depois estendidas no leito do estu\u00e1rio, as quais permitem diminuir a velocidade das correntes e oferecem um substrato para as pequenas larvas de ostra assentarem e crescerem. O antigo diretor da Reserva Natural do Estu\u00e1rio do Tejo alertou ainda para o facto de que essa pr\u00e1tica, muito comum h\u00e1 d\u00e9cadas atr\u00e1s, praticamente se perdeu.<\/p>\n

 <\/p>\n

Investimento e estrat\u00e9gia a n\u00edvel nacional s\u00e3o necess\u00e1rios<\/strong>
\nSe o Governo de Portugal quer realmente relan\u00e7ar a ind\u00fastria nacional, deveria pensar a s\u00e9rio no sector ostre\u00edcola, de elevado valor acrescentado e de exporta\u00e7\u00f5es garantidas. A diferencia\u00e7\u00e3o de uma marca Ostra-portuguesa, com prote\u00e7\u00e3o e destaque \u00e0 C. angulata em detrimento da C. gigas ser\u00e1 fundamental nesse contexto, e os incentivos fiscais tamb\u00e9m, posto que atualmente sobre a venda de ostra recai 23% de IVA. Igualmente deveriam equacionar-se medidas dirigidas ao incremento da produ\u00e7\u00e3o de Ostra-portuguesa no pr\u00f3ximo quadro comunit\u00e1rio de apoio ao sector das pescas. Para a Quercus, esse esfor\u00e7o poderia ser tamb\u00e9m um motor para o repovoamento deliberado dos estu\u00e1rios com a esp\u00e9cie principal de ostra que aqui viveu durante muitos s\u00e9culos e que ser\u00e1 a mais apropriada para repor a biodiversidade natural estuarina e os servi\u00e7os ecol\u00f3gicos a ela associados.<\/p>\n

 <\/p>\n

Lisboa, 8 de Fevereiro de 2013<\/p>\n

 <\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus – Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A Quercus organizou no passado s\u00e1bado, 2 de Fevereiro, Dia Mundial das Zonas H\u00famidas, uma palestra-debate que contou com a presen\u00e7a de importantes especialistas na biologia desta esp\u00e9cie, entre outros oradores convidados. O programa incluiu apresenta\u00e7\u00f5es sobre escava\u00e7\u00f5es arqueol\u00f3gicas no Tejo e uma apresenta\u00e7\u00e3o sobre a Ostra-portuguesa e sua explora\u00e7\u00e3o e ecologia, sobretudo nos estu\u00e1rios […]<\/p>\n","protected":false},"author":5,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"inline_featured_image":false,"footnotes":""},"categories":[103,269],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11474"}],"collection":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/users\/5"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=11474"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11474\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":11484,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/11474\/revisions\/11484"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=11474"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=11474"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/quercus.pt\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=11474"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}