{"id":11356,"date":"2021-03-03T19:57:00","date_gmt":"2021-03-03T19:57:00","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=11356"},"modified":"2021-03-03T19:57:00","modified_gmt":"2021-03-03T19:57:00","slug":"impacte-das-barragens-do-tamega-e-do-tua-no-desaparecimento-do-areal-nas-praias-nao-foi-avaliado","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/03\/impacte-das-barragens-do-tamega-e-do-tua-no-desaparecimento-do-areal-nas-praias-nao-foi-avaliado\/","title":{"rendered":"Impacte das barragens do T\u00e2mega e do Tua no desaparecimento do areal nas praias n\u00e3o foi avaliado"},"content":{"rendered":"

A eros\u00e3o costeira que se faz sentir atualmente no litoral portugu\u00eas tem in\u00fameras causas e, embora algumas sejam naturais, a maioria \u00e9 de origem antropog\u00e9nica. O aumento do n\u00edvel m\u00e9dio do mar devido \u00e0s altera\u00e7\u00f5es do clima, a diminui\u00e7\u00e3o do abastecimento de sedimentos e a degrada\u00e7\u00e3o de estruturas naturais junto \u00e0s zonas costeiras contribuem para os efeitos de eros\u00e3o costeira que se tem feito sentir nas \u00faltimas d\u00e9cadas.<\/strong><\/p>\n

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A diminui\u00e7\u00e3o do abastecimento de sedimentos est\u00e1 exclusivamente relacionada com as atividades que o Homem tem vindo a desenvolver a montante do litoral do pa\u00eds. Pode-se dizer que, \u00e0 medida que os efeitos no ambiente aumentam, diminui inversamente a quantidade de areias que por via fluvial deveriam deslocar-se para a costa litoral.<\/p>\n

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Segundo estudos elaborados desde o s\u00e9culo passado [p. ex. Alveirinho Dias (1993)], s\u00e3o muitas as atividades humanas localizadas, quer no interior quer em zonas ribeirinhas, que contribuem para esta diminui\u00e7\u00e3o no abastecimento de sedimentos ao litoral. A t\u00edtulo exemplificativo, referem-se os aproveitamentos hidroel\u00e9tricos, as obras de regulariza\u00e7\u00e3o dos cursos de \u00e1gua, as explora\u00e7\u00f5es de inertes nos rios e nas zonas estuarinas, nos sistemas dunares e nas praias, as dragagens, as obras portu\u00e1rias e muitas das obras de engenharia costeira. Estas atividades iniciam-se e desenvolvem-se sistematicamente sem se efetuarem avalia\u00e7\u00f5es dos impactes que induzem no litoral e, obviamente, sem preocupa\u00e7\u00f5es de monitoriza\u00e7\u00e3o e conten\u00e7\u00e3o desses mesmos impactes.<\/p>\n

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Da mesma forma,\u00a0a constru\u00e7\u00e3o das barragens previstas no Plano Nacional de Barragens n\u00e3o previu nos seus estudos o impacto no transporte de sedimentos para o litoral.<\/strong><\/p>\n

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As principais praias onde o risco de eros\u00e3o tem vindo a aumentar situam-se a Norte, da zona do Porto ao Cabo do Mondego; e no Algarve, do Anc\u00e3o a Vila Real de Santo Ant\u00f3nio (Ria Formosa), segundo avalia\u00e7\u00e3o feita por Filipe Duarte Santos da Faculdade de Ci\u00eancias da Universidade de Lisboa. [1]<\/p>\n

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A t\u00edtulo de exemplo, a praia do Furadouro, em Ovar, perde por ano nove metros de areal; a praia de Cortega\u00e7a, tamb\u00e9m em Ovar, perde tr\u00eas metros por ano e a praia da Costa Nova, em Aveiro, perde igualmente oito metros de areal todos os anos. [2]<\/p>\n

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Com a aproxima\u00e7\u00e3o da presente \u00e9poca balnear, a resposta dada pelo Governo \u2013 tanto o atual, como os anteriores – limitou-se \u00e0 reposi\u00e7\u00e3o de areias nas praias, gastando milh\u00f5es de euros numa solu\u00e7\u00e3o que por si s\u00f3 \u00e9 ef\u00e9mera, ao inv\u00e9s de enfrentar o problema de fundo. S\u00f3 este ano, os respons\u00e1veis pol\u00edticos da \u00e1rea do ambiente j\u00e1 anunciaram uma despesa de 106 milh\u00f5es de euros para a prote\u00e7\u00e3o do litoral.<\/p>\n

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Se o problema n\u00e3o for atacado pela raiz, e se n\u00e3o forem travadas as constru\u00e7\u00f5es das barragens como a do Tua e a do T\u00e2mega, em apenas uma d\u00e9cada o valor gasto na minimiza\u00e7\u00e3o da eros\u00e3o do litoral ultrapassar\u00e1 de longe os valores das indemniza\u00e7\u00f5es a pagar pela n\u00e3o constru\u00e7\u00e3o das mesmas barragens.<\/strong><\/p>\n

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Mais grave ainda, o Governo n\u00e3o est\u00e1 a contabilizar as perdas no turismo e com\u00e9rcio das economias locais de certos munic\u00edpios como por exemplo Ovar, Mira, Figueira da Foz e Cascais.<\/p>\n

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A QUERCUS apela aos autarcas e cidad\u00e3os dos munic\u00edpios afetados pelo desaparecimento da areia nas praias que fa\u00e7am press\u00e3o sobre o Governo de Portugal e exijam o cancelamento imediato da constru\u00e7\u00e3o das barragens dos Rios Tua e T\u00e2mega, j\u00e1 que o turismo balnear \u00e9 gerador de um incremento econ\u00f3mico anual de grande relev\u00e2ncia local que n\u00e3o pode ser destru\u00eddo ao sabor dos interesses das empresas produtoras de energia como a EDP e a IBERDROLA.<\/p>\n

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Em recentes declara\u00e7\u00f5es \u00e0 Lusa o professor Adriano Bordalo e S\u00e1, do Instituto de Ci\u00eancias Biom\u00e9dicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, referiu que “o rio Douro tem na sua bacia hidrogr\u00e1fica em Portugal e em Espanha mais de 50 barragens. H\u00e1 60 anos estima-se que a quantidade de areia transportada era na ordem dos dois milh\u00f5es de toneladas por ano e agora, 60 anos depois, com mais de 50 grandes barragens, o caudal s\u00f3lido est\u00e1 reduzido a 250 mil toneladas. Falta-nos areia vinda de terra para o mar<\/em>“, acrescentou, explicando que que as barragens “interrompem o caudal natural da \u00e1gua, mas tamb\u00e9m dos sedimentos<\/em>” e que, “ao contr\u00e1rio do que tentam vender, a hidroeletricidade n\u00e3o \u00e9 verde<\/em>“. [3]<\/p>\n

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Lisboa, 1 de agosto de 2013<\/p>\n

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A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n

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Fontes:<\/strong>
\nDias, A. (1993). Estudo de Avalia\u00e7\u00e3o da Situa\u00e7\u00e3o Ambiental e Proposta de Medidas de Salvaguarda para a Faixa Costeira Portuguesa (Geologia Costeira).<\/p>\n

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[1]\u00a0http:\/\/www.cmjornal.xl.pt\/noticia.aspx?contentid=D0ACF7BE-6A43-4A87-A1AE-5DDAA8B424C0&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010<\/a><\/p>\n

[2]\u00a0http:\/\/www.publico.pt\/sociedade\/noticia\/praias-tem-cada-vez-menos-areia-e-a-culpa-e-das-barragens-diz-especialista-1594185<\/a><\/p>\n

[3]\u00a0http:\/\/www.dn.pt\/inicio\/portugal\/interior.aspx?content_id=3214992&page=-1<\/a><\/p>\n

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