{"id":11127,"date":"2021-03-03T19:29:06","date_gmt":"2021-03-03T19:29:06","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=11127"},"modified":"2021-03-03T19:29:06","modified_gmt":"2021-03-03T19:29:06","slug":"preservemos-a-serra-da-malcata-ja-que-nao-salvamos-o-lince-iberico","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/03\/preservemos-a-serra-da-malcata-ja-que-nao-salvamos-o-lince-iberico\/","title":{"rendered":"Preservemos a Serra da Malcata, j\u00e1 que n\u00e3o salv\u00e1mos o Lince-ib\u00e9rico"},"content":{"rendered":"

Comemorou-se, a 16 de Outubro, o 31\u00ba anivers\u00e1rio da cria\u00e7\u00e3o da Reserva Natural da Serra da Malcata (RNSM). \u00c0 semelhan\u00e7a do tem vindo a ser feito, a Quercus faz uma retrospetiva do que foi feito de positivo e negativo nesta \u00c1rea Protegida e tra\u00e7a cen\u00e1rios para o futuro com base na defini\u00e7\u00e3o de amea\u00e7as e na identifica\u00e7\u00e3o de oportunidades.<\/strong><\/p>\n

A serra da Malcata localiza-se na regi\u00e3o Centro, precisamente na conflu\u00eancia das Beiras Baixa e \u00e9 delimitada a leste pela serra da Gata na vizinha Espanha, com 16 348 hectares de \u00e1rea e altura m\u00e9dia de 800 m, forma um conjunto de cimos arredondados, com orienta\u00e7\u00e3o preferencial nordeste-sudoeste, vertentes bastante \u00edngremes e linhas de \u00e1gua encaixadas no fundo de barrancos apertados e pedregosos, a principal linha de cumeada separa as bacias hidrogr\u00e1ficas do Tejo e Douro, dividindo a Reserva em duas \u00e1reas de topografia diferente.\u00a0No cerne da cria\u00e7\u00e3o da Reserva Natural da Serra da Malcata esteve como objetivo principal a necessidade de proteger o Lince-ib\u00e9rico, esp\u00e9cie que nos anos 80 se encontrava em elevado risco de extin\u00e7\u00e3o e hoje possui um plano com vista \u00e0 sua reintrodu\u00e7\u00e3o que n\u00e3o contempla a Malcata no curto\/m\u00e9dio prazo.<\/strong><\/p>\n

Esta serra constitui um dos \u00faltimos ref\u00fagios naturais no territ\u00f3rio portugu\u00eas que, embora intervencionada, guarda no seu interior valores bot\u00e2nicos e faun\u00edsticos de relevo, onde ainda \u00e9 poss\u00edvel identificar uma diversidade de habitats bem conservados, dois dos quais priorit\u00e1rios. Os matos s\u00e3o as forma\u00e7\u00f5es mais representativas pela \u00e1rea que ocupa e a floresta aut\u00f3ctone est\u00e1 representada pelo Carvalho-negral, a Azinheira e o Medronheiro. A RNSM apresenta ainda corredores de vegeta\u00e7\u00e3o rip\u00edcola bem preservados, sobretudo ao longo do rio Coa e ribeiras da Baz\u00e1gueda e da Meimoa, onde s\u00e3o esp\u00e9cies dominantes o Freixo-de-folhas-estreitas, o Amieiro e diversas esp\u00e9cies de Salgueiros. Deve ser ainda assinalada a ocorr\u00eancia de charcos tempor\u00e1rios mediterr\u00e2nicos, de lameiros e de comunidades de Caldoneira, um endemismo ib\u00e9rico. Relativamente, \u00e0 fauna selvagem est\u00e3o identificadas cerca de 218 esp\u00e9cies de vertebrados, destaca-se a presen\u00e7a do Gato-bravo, da Fuinha, o Abutre-preto, a Cegonha-preta, Truta-de-rio e a V\u00edbora-cornuda.<\/p>\n

Devido \u00e0s suas caracter\u00edsticas, a Reserva Natural da Serra da Malcata est\u00e1 inserida na sua totalidade na Rede Natura 2000 atrav\u00e9s da cria\u00e7\u00e3o da Zona de Prote\u00e7\u00e3o Especial para Aves Selvagens \u201cSerra da Malcata\u201d e do S\u00edtio \u201cMalcata\u201d e, integra ainda a Reserva Biogen\u00e9tica pelo Conselho da Europa. Para aumentar o valor de conserva\u00e7\u00e3o do patrim\u00f3nio natural da reserva procedeu-se \u00e0 interdi\u00e7\u00e3o do exerc\u00edcio da ca\u00e7a no munic\u00edpio de Penamacor e, implementaram-se diversos projectos de promo\u00e7\u00e3o da diversidade do coberto vegetal aut\u00f3ctone e das popula\u00e7\u00f5es de Coelho-bravo. A Serra da Malcata \u00e9 ainda um local com grande potencial para a produ\u00e7\u00e3o de mel de qualidade.<\/p>\n

Apesar de todas as particularidades que tornam a RNSM um dos \u00faltimos ref\u00fagios naturais portugueses, a instala\u00e7\u00e3o de povoamentos florestais com esp\u00e9cies ex\u00f3ticas nas \u00faltimas d\u00e9cadas levou\u00a0 \u00e0 perda de habitat essencial, situa\u00e7\u00e3o que conduz \u00e0 perda de habitat essencial para a sobreviv\u00eancia de muitas esp\u00e9cies da fauna selvagem. A implanta\u00e7\u00e3o de infraestruturas, como as albufeiras da Ribeira da Meimoa e do Sabugal e a futura transfer\u00eancia de \u00e1guas entre elas, que corresponde a um transvase entre as duas principais bacias hidrogr\u00e1ficas portuguesas \u2013 rio Douro e Tejo, o aproveitamento hidroagr\u00edcola da Cova da Beira e as linhas de transporte de energia. O envelhecimento da popula\u00e7\u00e3o e a emigra\u00e7\u00e3o levaram a uma redu\u00e7\u00e3o dr\u00e1stica do sector prim\u00e1rio, com o consequente abandono de terrenos agr\u00edcolas que se converteram para o cultivo de monoculturas de esp\u00e9cies de crescimento r\u00e1pido, como algumas resinosas e Eucaliptos. Em vastas \u00e1reas desta Reserva Natural a gest\u00e3o florestal \u00e9 incompat\u00edvel com as exig\u00eancias de conserva\u00e7\u00e3o da natureza, provocando uma fragmenta\u00e7\u00e3o indiscriminada da floresta aut\u00f3ctone e da vegeta\u00e7\u00e3o ribeirinha. As altera\u00e7\u00f5es ao uso do solo verificadas nas \u00faltimas d\u00e9cadas originaram a uniformiza\u00e7\u00e3o da paisagem\u00a0 e consequentemente, a diminui\u00e7\u00e3o da biodiversidade geral, situa\u00e7\u00e3o que na RNSM comprometeu o principal objetivo aquando da sua cria\u00e7\u00e3o – a prote\u00e7\u00e3o do Lince-ib\u00e9rico – levando \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o dos matos mediterr\u00e2nicos, utilizados para ref\u00fagio e reprodu\u00e7\u00e3o, das zonas de pastagem, utilizadas como zonas de ca\u00e7a, e \u00e0 falta de alimento, com a diminui\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o de coelho-bravo. Por fim, esta \u00e1rea protegida \u00e9 ainda afetada por v\u00e1rios factores de amea\u00e7a como, a instala\u00e7\u00e3o de parques e\u00f3licos, o elevado risco de inc\u00eandio potenciado pela planta\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies resinosas, o furtivismo e a perturba\u00e7\u00e3o causada pela forte press\u00e3o de ca\u00e7a, utiliza\u00e7\u00e3o tur\u00edstica descontrolada particularmente nas \u00e1reas de influ\u00eancia das albufeiras, abertura de caminhos dentro da reserva e, introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas.<\/p>\n

Neste contexto,\u00a0a Quercus volta a reiterar a necessidade de se adotar medidas de gest\u00e3o apropriadas, focando a gest\u00e3o florestal, de modo a alcan\u00e7ar os objetivos presentes no Plano de Ordenamento da Reserva Natural da Serra da Malcata<\/strong>, que compreende a preserva\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies, dos habitats naturais e semi-naturais, a recupera\u00e7\u00e3o do equil\u00edbrio ecol\u00f3gico, a investiga\u00e7\u00e3o cient\u00edfica e a monitoriza\u00e7\u00e3o ambiental. Entre os aspetos que carecem de aten\u00e7\u00e3o contam-se os seguintes:<\/p>\n

\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Implementa\u00e7\u00e3o de medidas que visem a recupera\u00e7\u00e3o dos matos mediterr\u00e2nicos, das florestas aut\u00f3ctones e dos ecossistemas ribeirinhos;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Implementa\u00e7\u00e3o de um programa de erradica\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, com subsequente recupera\u00e7\u00e3o de habitats com a instala\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies aut\u00f3ctones, que permita resultados duradouros;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Desenvolver boas pr\u00e1ticas de gest\u00e3o florestal, incentivando substitui\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas por aut\u00f3ctones;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Promover e apoiar as atividades econ\u00f3micas tradicionais que possam ter um contributo relevante para a conserva\u00e7\u00e3o da Natureza;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Desenvolver a\u00e7\u00f5es espec\u00edficas de conserva\u00e7\u00e3o e gest\u00e3o de esp\u00e9cies e habitas priorit\u00e1rios;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Promover a investiga\u00e7\u00e3o cient\u00edfica e o conhecimento sobre o patrim\u00f3nio natural, bem como a monitoriza\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies, habitats e ecossistemas;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Continuar a desenvolver esfor\u00e7os para garantir as condi\u00e7\u00f5es adequadas \u00e0 reintrodu\u00e7\u00e3o do Lince-ib\u00e9rico e assegurar a longo-prazo a presen\u00e7a de uma popula\u00e7\u00e3o vi\u00e1vel da esp\u00e9cie;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Promover a educa\u00e7\u00e3o e a forma\u00e7\u00e3o em mat\u00e9ria de conserva\u00e7\u00e3o da Natureza e da Biodiversidade;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Melhorar a fiscaliza\u00e7\u00e3o e vigil\u00e2ncia na \u00e1rea da reserva, permitindo um maior controlo sobre as atividades de ca\u00e7a e pesca, atividades tur\u00edsticas, abate de esp\u00e9cies protegidas e recolha ilegal de esp\u00e9cies da flora e preven\u00e7\u00e3o de inc\u00eandios;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Proibir a implementa\u00e7\u00e3o de novas infraestruturas que condicionem o bom desempenho dos ecossistemas;
\n\u2022\u00a0\u00a0 \u00a0Assegurar o correto ordenamento da ocupa\u00e7\u00e3o humana tur\u00edstica e dos usos recreativos, promovendo ativamente o turismo de natureza, de forma a conciliar o seu usufruto com a conserva\u00e7\u00e3o dos valores naturais em presen\u00e7a.<\/p>\n

\u0003\u0003<\/p>\n

Lisboa, 17 de outubro de 2014<\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus – Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n

 <\/p>\n

 <\/p>\n

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\"malcata1\"<\/p>\n

\"malcata2\"<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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