{"id":10422,"date":"2021-03-03T18:06:14","date_gmt":"2021-03-03T18:06:14","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=10422"},"modified":"2021-03-03T18:06:14","modified_gmt":"2021-03-03T18:06:14","slug":"botulismo-de-aves-aquaticas-na-moita-tem-provavelmente-causas-ambientais","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/03\/botulismo-de-aves-aquaticas-na-moita-tem-provavelmente-causas-ambientais\/","title":{"rendered":"Botulismo de Aves Aqu\u00e1ticas na Moita tem provavelmente causas ambientais"},"content":{"rendered":"

Quercus\u00a0adverte\u00a0que a mortandade em massa pode voltar a suceder<\/h2>\n

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\"aveOntem, em comunicado do Munic\u00edpio da Moita veiculado pela ag\u00eancia LUSA, lia-se que\u00a0“O botulismo poder\u00e1 ser a causa de morte de v\u00e1rios exemplares de aves que ocorreram na conflu\u00eancia do Rio da Moita com a Caldeira da Moita em julho”\u00a0conforme anunciou a autarquia.\u00a0“A C\u00e2mara Municipal da Moita procurou conhecer as causas deste incidente junto das entidades competentes e a informa\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica do Instituto da Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza e das Florestas indica tratar-se de botulismo, uma doen\u00e7a de natureza t\u00f3xica que decorre da ingest\u00e3o de uma toxina e que \u00e9 agravada pelas condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas, como o calor e seca, que se arrastam h\u00e1 v\u00e1rios meses”, referia ainda a autarquia, liderada pela CDU, em comunicado. A C\u00e2mara da Moita acrescentava ainda que a “toxina em causa afeta somente as aves, n\u00e3o constituindo risco para as pessoas”.<\/p>\n

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Botulismo em aves aqu\u00e1ticas – causas ambientais\u00a0<\/strong><\/p>\n

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A mortalidade de avifauna selvagem por botulismo \u00e9 um assunto h\u00e1 muito conhecido. J\u00e1 nos anos 80 se reportavam grandes mortalidades de aves (mergulh\u00f5es) e peixes no Lago Michigan, nos EUA (1). Nas zonas h\u00famidas, verificou-se que a bact\u00e9ria\u00a0C. botulinum<\/em>,\u00a0causadora da doen\u00e7a,\u00a0pode associar-se com organismos n\u00e3o afetados por toxinas – incluindo algas, plantas e invertebrados – em que parece germinar e permanecer na forma vegetativa por longos per\u00edodos de tempo (2). J\u00e1 foram relatados casos de botulismo de aves associados a zonas aqu\u00e1ticas que recebem efluentes (2) e tamb\u00e9m est\u00e1 comprovado que a bact\u00e9ria se pode alojar e crescer em algas, nomeadamente do g\u00e9nero\u00a0Cladophora<\/em>\u00a0sp. (conhecida como “Cabelo de Sereia”) (4).<\/p>\n

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Depois da mortalidade de aves ocorrida em julho na caldeira da Moita, cuja causa – pelas an\u00e1lises agora reveladas pelo Munic\u00edpio da Moita – aponta para botulismo, outros patos reais selvagens e gaivotas j\u00e1 regressaram \u00e0 Caldeira da Moita. Por\u00e9m, nos \u00faltimos dias t\u00eam-se observado manchas de algas superficiais. O crescimento de algas em \u00e1guas paradas \u00e9 t\u00edpico de condi\u00e7\u00f5es de eutrofiza\u00e7\u00e3o (excesso de nutrientes normalmente associados a efluentes urbanos e agro-pecu\u00e1rios).\u00a0\u00a0<\/strong><\/p>\n

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Mortandade de aves selvagens pode voltar a acontecer a qualquer momento<\/strong><\/p>\n

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As algas em si n\u00e3o s\u00e3o perigosas, mas se a bact\u00e9ria\u00a0C.\u00a0botulinum\u00a0<\/em>se associar a essas algas, ou mesmo se permanecer no solo ou em plantas das margens, a Moita poder\u00e1 assistir novamente a um surto de botulismo que atinja mortalmente a fauna selvagem. Um artigo cient\u00edfico recente de investigadores que se t\u00eam dedicado bastante a este assunto na regi\u00e3o dos Grandes Lagos nos EUA (5) mostra a rela\u00e7\u00e3o direta entre massas algais e o aparecimento de botulismo em aves selvagens. Inclusive refere que\u00a0C. botulinum<\/em>\u00a0se chega a encontrar em concentra\u00e7\u00f5es 100 vezes maiores nas algas\u00a0Cladophora<\/em>\u00a0do que areia ou \u00e1gua.<\/p>\n

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Botulismo das aves n\u00e3o \u00e9 totalmente inofensivo para as pessoas<\/strong><\/p>\n

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Embora a toxina produzida pela bact\u00e9ria\u00a0Clostridium botulinum\u00a0<\/em>que ataca as aves (Tipo C e tipo E) n\u00e3o seja do mesmo tipo que a toxina que causa botulismo nas pessoas (A ou B), \u00e9 necess\u00e1ria precau\u00e7\u00e3o. As pessoas n\u00e3o devem tocar nas aves mortas (6).<\/p>\n

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O que fazer para prevenir e remediar<\/strong><\/p>\n

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Em primeiro lugar o Munic\u00edpio e as restantes entidades deveriam ser mais proativas a questionar-se sobre poss\u00edveis rela\u00e7\u00f5es causa-efeito, tal como fez a Quercus no presente caso. Na opini\u00e3o da Quercus os munic\u00edpios\u00a0em geral deveriam preocupar-se mais com a ecologia dos seus territ\u00f3rios e manter n\u00e3o s\u00f3 o ambiente urbano, mas tamb\u00e9m os ambientes naturais sob observa\u00e7\u00e3o permanente, com apoio de parceiros no terreno, que neste caso poderiam ser as associa\u00e7\u00f5es de atividades n\u00e1uticas ou simples cidad\u00e3os. Neste caso em particular, e de imediato, a Quercus recomenda a identifica\u00e7\u00e3o das algas e a averigua\u00e7\u00e3o da eventual presen\u00e7a de\u00a0C. botulinum\u00a0<\/em>nas mesmas\u00a0e caso se comprove, a retirada imediata desse material algal. Sendo um espa\u00e7o gerido por uma comporta, durante o tempo quente dever\u00e1 renovar-se o mais poss\u00edvel as suas \u00e1guas, para as manter com a maior oxigena\u00e7\u00e3o poss\u00edvel. A m\u00e9dio prazo, o Munic\u00edpio dever\u00e1 estudar formas de evitar a eutrofiza\u00e7\u00e3o na caldeira e efetuar an\u00e1lises frequentes \u00e0s \u00e1guas do rio\/vala da Moita; a longo prazo \u00e9 essencial que\u00a0exista\u00a0o devido tratamento de \u00e1guas residuais de efluentes urbanos e sobretudo agro-pecu\u00e1rios na regi\u00e3o.<\/p>\n

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Lisboa, 31 de agosto de 2017<\/p>\n

A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus \u2013 Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n

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BIBLIOGRAFIA:<\/strong><\/p>\n

(1) An outbreak of type E botulism among common loons (Gavia immer) in Michigan’s upper peninsula (1988)<\/strong><\/p>\n

https:\/\/www.researchgate.net\/publication\/19744038_An_outbreak_of_type_E_botulism_among_common_loons_Gavia_immer_in_Michigan’s_upper_peninsula<\/a><\/p>\n

 <\/p>\n

(2) Botulism outbreaks in natural environments \u2013 an update (2014)<\/strong><\/p>\n

https:\/\/www.ncbi.nlm.nih.gov\/pmc\/articles\/PMC4052663\/<\/a><\/p>\n

\u00a0<\/strong><\/p>\n

(3) Eutrophication and bacterial pathogens as risk factors for avian botulism outbreaks in wetlands receiving effluents from urban wastewater treatment plants (2014)<\/strong><\/p>\n

https:\/\/www.ncbi.nlm.nih.gov\/pubmed\/24795377<\/a><\/p>\n

 <\/p>\n

(4) Association of toxin-producing Clostridium botulinum with the macroalga Cladophora in the Great Lakes (2013)<\/strong><\/p>\n

https:\/\/www.ncbi.nlm.nih.gov\/pubmed\/23421373<\/a><\/p>\n

\u00a0<\/strong><\/p>\n

(5) Prevalence of toxin-producing Clostridium botulinum associated with the macroalga Cladophora in three Great Lakes: Growth and management (2015)<\/strong><\/p>\n

https:\/\/experts.umn.edu\/en\/publications\/prevalence-of-toxin-producing-clostridium-botulinum-associated-wi<\/a><\/p>\n

 <\/p>\n

(6) Botulismo avi\u00e1rio; sa\u00fade p\u00fablica<\/strong><\/p>\n

https:\/\/www.nwhc.usgs.gov\/disease_information\/avian_botulism\/index.jsp<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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