{"id":10000,"date":"2021-03-03T17:14:06","date_gmt":"2021-03-03T17:14:06","guid":{"rendered":"https:\/\/quercus.pt\/?p=10000"},"modified":"2021-03-03T17:14:06","modified_gmt":"2021-03-03T17:14:06","slug":"incendio-na-serra-de-monchique","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/quercus.pt\/2021\/03\/03\/incendio-na-serra-de-monchique\/","title":{"rendered":"Inc\u00eandio na Serra de Monchique"},"content":{"rendered":"

Perigosidade elevada do fogo que decorre nesta \u00e1rea deve-se sobretudo aos eucaliptais existentes<\/h2>\n

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A Quercus considera preocupante a falta de controlo do fogo na Serra de Monchique e \u00e1reas envolventes, manifestando-se solid\u00e1ria com os feridos e popula\u00e7\u00f5es residentes nesta \u00e1rea. A perigosidade elevada deste inc\u00eandio, em parte deve-se ao acumular de manta morta e ao comportamento do fogo nos povoamentos de eucalipto existentes, com proje\u00e7\u00f5es de part\u00edculas incandescentes a v\u00e1rios quil\u00f3metros, provocando focos secund\u00e1rios que dispersam os meios de combate e reduzem a sua efic\u00e1cia.<\/p>\n

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S\u00edtio de Import\u00e2ncia Comunit\u00e1ria de Monchique severamente afetado<\/strong><\/p>\n

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Uma grande parte da \u00e1rea afetada pelo fogo na Serra de Monchique integra o S\u00edtio de Import\u00e2ncia Comunit\u00e1ria \u2013 Monchique, da Rede Natura 2000, pelo que dever\u00e1 existir uma aten\u00e7\u00e3o especial na conten\u00e7\u00e3o do fogo, com vigil\u00e2ncia no per\u00edmetro para evitar reacendimentos.<\/p>\n

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Destaca-se neste S\u00edtio da Rede Natura 2000, a ocorr\u00eancia do habitat priorit\u00e1rio de adelfeirais (Rhododendron ponticum subsp. baeticum), no fundo dos vales, e tamb\u00e9m os medronhais e sobreirais nas encostas. Monchique \u00e9 o \u00fanico s\u00edtio em Portugal, onde ocorrem os carvalhais ib\u00e9ricos de Quercus faginea e Quercus canariensis. O carvalho-de-monchique Quercus canariensis \u00e9 uma \u00e1rvore muito rara, pelo que \u00e9 considerada uma rel\u00edquia da nossa floresta aut\u00f3ctone, existindo apenas alguns exemplares em Monchique.<\/p>\n

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Monchique tamb\u00e9m integra uma Zona de Prote\u00e7\u00e3o Especial da Rede Natura 2000 para as aves selvagens, sendo que as serras algarvias abrigam parte importante da popula\u00e7\u00e3o da \u00e1guia-perdigueira, tamb\u00e9m conhecida por \u00e1guia-de-Bonelli Aquila fasciata, a qual est\u00e1 classificada Em Perigo, de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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O Plano Setorial da Rede Natura 2000, para o S\u00edtio de Monchique destaca como fatores da amea\u00e7a \u201cFloresta\u00e7\u00e3o intensiva com esp\u00e9cies ex\u00f3ticas; inc\u00eandios florestais; destrui\u00e7\u00e3o de vegeta\u00e7\u00e3o aut\u00f3ctone (matos, bosques mediterr\u00e2nicos e vegeta\u00e7\u00e3o ribeirinha)\u201d. As orienta\u00e7\u00f5es de gest\u00e3o s\u00e3o dirigidas prioritariamente para a reconvers\u00e3o de povoamentos florestais de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, de modo a restabelecer povoamentos de folhosas aut\u00f3ctones ou povoamentos mistos, mais favor\u00e1veis \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o dos valores naturais.<\/p>\n

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Quercus exige reordenamento e gest\u00e3o florestal<\/strong><\/p>\n

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Com base nos dados do Invent\u00e1rio Florestal Nacional, em 2010, a \u00e1rea de eucalipto no Algarve estava pr\u00f3xima dos 30.000 hectares, a grande maioria na Serra de Monchique e envolventes, tendo esta monocultura aumentado nos \u00faltimos anos nesta regi\u00e3o, \u00e0 semelhan\u00e7a do restante territ\u00f3rio nacional. Em Monchique, o eucalipto \u00e9 a \u00e1rvore dominante, com 13.888 ha (72,4%) da \u00e1rea florestal do concelho, seguido pelo medronheiro com 4.679 hectares e pelo do sobreiro com 2.210 hectares.<\/p>\n

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A proposta de revis\u00e3o do Programa Regional de Ordenamento Florestal do Algarve, propunha a manuten\u00e7\u00e3o\/redu\u00e7\u00e3o de 1% da \u00e1rea de eucaliptal na regi\u00e3o no ano de 2050, situa\u00e7\u00e3o que a Quercus considera muito pouco ambiciosa, ao contrariar a legisla\u00e7\u00e3o aprovada pela Assembleia da Rep\u00fablica. A Quercus entende que que esta redu\u00e7\u00e3o \u00a0deveria ser no m\u00ednimo de 10% ou superior, no sentido de promover o ordenamento florestal com descontinuidades e povoamentos mais resilientes ao fogo. O Programa Regional de Ordenamento Florestal do Algarve esteve recentemente em consulta p\u00fablica, mas aguarda publica\u00e7\u00e3o, esperando-se que tenham existido altera\u00e7\u00f5es significativas com vista ao ordenamento da floresta e do territ\u00f3rio.<\/p>\n

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Considerando os cen\u00e1rios para as altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, as simula\u00e7\u00f5es do projeto SIAMII indicam uma perda de produtividade potencial do eucalipto de cerca entre 25% – 50%, na \u00e1rea do PROF Algarve.<\/p>\n

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Os estudos referem que os grandes inc\u00eandios do ver\u00e3o de 2003 alteraram drasticamente a paisagem da serra de Monchique e envolventes e \u201cse no futuro pr\u00f3ximo n\u00e3o forem desenvolvidas a\u00e7\u00f5es de vulto, o padr\u00e3o da paisagem permanecer\u00e1 (as manchas de matos e os eucaliptais voltar\u00e3o a cobrir totalmente os terrenos passados tr\u00eas ou quatro anos).\u201d As pol\u00edticas p\u00fablicas n\u00e3o t\u00eam apostado na floresta aut\u00f3ctone, mantendo o problema da falta de ordenamento e gest\u00e3o florestal.<\/p>\n

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\u00c9 importante recordar que o ciclo de inc\u00eandios \u00e9 recorrente na serra de Monchique. Em agosto de 2003, arderam 41 mil hectares e atualmente j\u00e1 arderam mais de 20 mil hectares, sem que o inc\u00eandio tenha ainda sido extinto.<\/p>\n

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Atualmente, o paradigma faz recair no Estado, ou seja, em todos n\u00f3s, a responsabilidade e a fatura a pagar com estas trag\u00e9dias, para alguns poucos lucrarem com um neg\u00f3cio que \u00e9 insustent\u00e1vel para a sociedade. De acordo com uma avalia\u00e7\u00e3o estritamente econ\u00f3mica, realizada em 2012 por um grupo de 21 personalidades, entre os quais um ex-Presidente da Rep\u00fablica, ex-Ministros e ex-Secret\u00e1rios de Estado, bem como por economistas e agr\u00f3nomos conceituados, o pa\u00eds assume um custo anual com os inc\u00eandios florestais avaliado em mil milh\u00f5es de euros.<\/p>\n

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A Quercus considera que depois desta fase de combate e do necess\u00e1rio apoio \u00e0s v\u00edtimas, o Pa\u00eds e os respons\u00e1veis pol\u00edticos t\u00eam que optar pelo melhor modelo de desenvolvimento para o Algarve – ou querem uma ind\u00fastria extrativa e transformadora do territ\u00f3rio, ou apostam num turismo sustent\u00e1vel no interior do Algarve, com paisagens mediterr\u00e2nicas dominadas pelo sobreiro, medronheiro e outras folhosas aut\u00f3ctones, mais resilientes ao fogo e promotoras de biodiversidade e da conserva\u00e7\u00e3o do solo, da \u00e1gua e da paisagem.<\/p>\n

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Lisboa, 7 de agosto de 2018<\/p>\n

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A Dire\u00e7\u00e3o Nacional da Quercus – Associa\u00e7\u00e3o Nacional de Conserva\u00e7\u00e3o da Natureza<\/p>\n

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