Linhas de alta tensão – Quercus https://quercus.pt Thu, 11 Mar 2021 18:27:43 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.2 https://quercus.pt/wp-content/uploads/2021/03/cropped-logotipo-quercus-svg-32x32.png Linhas de alta tensão – Quercus https://quercus.pt 32 32 Perigo de Morte? https://quercus.pt/2021/03/11/perigo-de-morte/ Thu, 11 Mar 2021 18:11:01 +0000 https://quercus.pt/?p=15225 De Norte a Sul do país muita tensão tem havido por causa das linhas de alta tensão. Na periferia ocidental de Lisboa protestos populares levaram ao fecho de uma nova linha da Rede Eléctrica Nacional (REN). O Tribunal Constitucional negou provimento a um recurso interposto pela REN.

Esta empresa chegou entretanto a acordo com a Câmara Municipal de Sintra para enterramento dessa linha, com os custos, que não são pequenos, suportados pela autarquia, isto é, pelos locais. Noutros sítios do país – nomeadamente Guimarães, Batalha, Almada e Silves – tem havido lutas semelhantes contra linhas existentes ou a existir.

Já houve greves de fome junto à Assembleia da República. Há aproveitamento por parte de forças políticas, com destaque para o Bloco de Esquerda, cujo líder chegou a afirmar que este seria “o primeiro grande movimento popular do século XXI”. Se o comunismo era os sovietes mais a electricidade, o pós-comunismo há-de ser os sovietes contra a electricidade.

Afirmam os cidadãos em protesto que há uma relação de causalidade entre as radiações electromagnéticas emitida por instalações eléctricas, em particular as linhas de alta tensão, e alguns cancros. Terão razão? Tornando curta uma história que pode ser alongada, a resposta é não. O melhor conhecimento proporcionado pela ciência até à data diz que não existe essa relação. Mais, nem sequer está provada qualquer relação entre a exposição à radiação electromagnética e os males cancerosos que infelizmente afligem a humanidade.

O facto de uma pessoa sofrer, por exemplo, de leucemia não significa que a causa da doença se encontre no poste de alta tensão mais próximo. Claro que também não está provado que uma causalidade desse tipo não exista de todo, mas essa prova é impossível. A ciência, neste como em muitos outros casos, dá probabilidades e não certezas. Por isso, não se podem construir linhas por cima das casas ou casas por baixo das linhas: há regras.

A Sociedade Americana de Física, a maior associação de físicos do mundo, divulgou em 1995 um parecer sobre o assunto, que voltou a divulgar em 2005, por não terem surgido alterações de monta. Diz lá claramente: “A literatura científica e os relatórios de revisão de outros painéis mostram que não há nenhuma ligação consistente e significativa entre cancro e linhas eléctricas. A literatura inclui estudos epidemiológicos, pesquisa de sistemas biológicos e análise de mecanismos teóricos de interacção.” E mais adiante: “Os custos da mitigação e litigação relacionados com a ligação entre linhas eléctricas e cancro subiram a milhares de milhões de dólares e ameaçam subir mais. O desvio de recursos para eliminar uma ameaça para a qual não há uma base científica convincente é perturbador. Problemas ambientais mais graves são negligenciados por falta de fundos e da atenção do público e o peso dos custos que recai nas pessoas não é comensurável ao risco, se é que este existe”. Eu, que também sou sócio, assino por baixo.

Não tenho interesses na REN nem conheço quem tenha. Nem sequer tenho qualquer simpatia por essa empresa, que bem podia ser mais selectiva no mecenato científico. Para dizer a verdade, até fiquei a antipatizar com ela depois de saber que vai dar 37 milhões de euros a um centro em formação na Faculdade de Farmácia de Lisboa para fazer um estudo “pioneiro” sobre o assunto (informação do último “Expresso”). A REN? É parte interessada, quer certas conclusões. Estudo pioneiro? A questão foi há muitos anos levantada em vários países e as conclusões são, em suma, as que estão em cima. Suspeito que essa verba não será subtraída aos lucros da REN, mas sim acrescentada nas despesas, o que significa que será paga por nós, com o agravamento dos custos da electricidade. Ora eu não quero pagar para isso, não quero pagar para saber o que já sei. Na Faculdade de Farmácia? Pode-se sempre saber mais do assunto, mas não deve ser na Farmácia. Já alguém, com humor, sugeriu que fosse na Faculdade de Letras, porque assim as conclusões viriam mais bem escritas.

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Lignes haute tension suspectées de provoquer des leucémies infantiles https://quercus.pt/2021/03/11/lignes-haute-tension-suspectees-de-provoquer-des-leucemies-infantiles/ Thu, 11 Mar 2021 18:10:52 +0000 https://quercus.pt/?p=15224 Publiée le 6 avril dernier, une expertise de l’Afsset (1) a fait le point sur les connaissances relatives aux effets sanitaires des champs électromagnétiques d’extrêmement basses fréquences, tels que ceux émis par les lignes électriques ou tout appareil électrique.

A l’heure actuelle, des études scientifiques ont établi « une association statistique entre l’exposition aux champs électromagnétiques produits par les lignes de très haute tension et des leucémies infantiles ». Ce constat a conduit le Centre international de recherche sur le cancer (CIRC) à classer les champs d’extrêmement basses fréquences comme cancérogènes possibles pour l’homme en 2002. 
Toutefois, comme le souligne l’agence, aucune étude biologique n’a encore été en mesure de démontrer un mécanisme d’action explicitant la survenue de ces leucémies, le risque potentiel faisant encore débat, y compris dans les milieux scientifiques.

Faisant de ce « paradoxe scientifique » une priorité, l’Afsset a posé une série de recommandations dont la poursuite des études épidémiologiques, basées sur une description précise de l’exposition aux champs électromagnétiques d’extrêmement basses fréquences, notamment via les nouvelles techniques de mesure des expositions individuelles. Elle suggère également de renforcer la recherche sur les causes possibles des leucémies infantiles. Si les travailleurs soumis de par leur activité à de forts niveaux d’exposition devront faire l’objet d’une attention particulière, il est conseillé d’associer aux études conduites les populations locales, notamment en les impliquant dans la définition des objectifs et en tenant à leur disposition les résultats obtenus.

En revanche, les experts de l’Afsset se rangent aux conclusions du consensus international (OMS, 2007), considérant que les preuves scientifiques d’un possible effet sanitaire à long terme sont insuffisantes pour justifier une modification des valeurs limites d’exposition actuelles. 

Néanmoins, dans l’état actuel des connaissances, l’Afsset appelle à la prudence et recommande de ne pas installer ou aménager de nouveaux établissements accueillant des enfants (écoles, crèches…) à proximité immédiate des lignes à très haute tension, et de ne pas implanter de nouvelles lignes au-dessus de tels établissements.

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Uma linha de alta tensão sobre sua cabeça https://quercus.pt/2021/03/11/uma-linha-de-alta-tensao-sobre-sua-cabeca/ Thu, 11 Mar 2021 18:10:41 +0000 https://quercus.pt/?p=15226 Hoje aprendemos a temer as radiações ionizantes emitidas por radionuclídeos naturais e artificiais, aparelhos de raios-X e outras fontes. Essas radiações estão entre as mais energéticas do espectro eletromagnético e são assim chamadas por possuírem energia suficiente para provocar ionização, o que afeta a ligação entre átomos e resulta em uma série de efeitos físicos, químicos e biológicos, como quebra de moléculas. Pensou no seu precioso DNA? Acertou.

Essas radiações podem atuar como uma espécie de kryptonita verde (mas infelizmente incolor e invisível) que pode enfraquecer o homem comum. É complicado, tecnológico, meio secreto. Está associado tanto a pesquisa e saúde quanto a destruição em massa. É traiçoeiro por não ter cor ou odor e por não manifestar seus efeitos no momento da exposição. E ainda produz Godzillas e outros monstros de filme B! Hiroshima, Chernobyl, Goiânia… Brrrr! Eis aí todos os ingredientes para uma forte percepção de risco.

Assim, ao contemplarmos uma central eletronuclear como as usinas de Angra 1 ou 2, pensamos nos apagões que não tivemos graças a elas, no problema dos rejeitos radioativos, no risco de acidente com vazamento radioativo. Mas nem nos passa pela cabeça temer a linha de alta tensão sob a qual paramos o carro para tirar a foto de nossas únicas centrais nucleares.

Afinal, linhas de transmissão fazem parte da paisagem, assim como as antenas de rádio, televisão e celular. A paisagem domestica é também repleta de emissores de radiações não ionizantes, como os eletrodomésticos em geral, incluindo o computador e o monitor no qual você esta lendo esta coluna, sem falar em nosso inseparável amigo e algoz, o celular.

Todos os seres vivos evoluíram em um mundo com campos elétricos e magnéticos naturais de baixa intensidade e frequência, mas o tecnoambiente que criamos multiplicou as fontes emissoras, bem como sua potência. Hoje estamos todos expostos a uma mistura complexa de campos elétricos e magnéticos em muitas frequências diferentes em casa, no trabalho, no trajeto entre um e outro e na viagem de férias também.

Se é fato que essas radiações eletromagnéticas – produzidas em todos os aparelhos em que há passagem de corrente elétrica – não são ionizantes, o campo eletromagnético criado por elas gera um fluxo de corrente elétrica no corpo que pode interferir nas correntes elétricas que existem naturalmente no organismo e que são parte essencial das funções corporais normais. Todos os nervos, por exemplo, enviam sinais por meio da transmissão de impulsos elétricos. A maioria das reações bioquímicas também envolve processos elétricos.

Não é absurdo, portanto, imaginarmos a possibilidade de efeitos biológicos indesejáveis decorrentes da exposição às radiações. Porém, como não houve um Chernobyl eletromagnetico não ionizante, esse fantasma não tirou o sono de quase ninguém. Estávamos todos ocupados demais usufruindo dos inegáveis confortos trazidos por toda a eletroparaferná lia em constante evolução.

Os eventuais riscos só começaram a ser levados a sério cerca de 30 anos atrás, quando passaram a ser objeto de estudos, inclusive sob patrocínio da Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa entidade publicou em 2002 o livro Estabelecendo um diálogo sobre riscos de campos eletromagnéticos, originalmente publicado em Inglês e traduzido para o português pelo Centro de Pesquisas em Energia Elétrica (Cepel).

Nesse documento, podemos ler o seguinte:

“Em 2001, um grupo de trabalho integrado por peritos, constituído pela Iarc (International Agency for Research on Cancer) da OMS, reviu estudos relacionados com a carcinogenicidade de campos elétricos e magnéticos estáticos e de frequências extremamente baixas (ELF) Nota: isto inclui as linhas de transmissão.

Usando a classificação padrão da Iarc que pondera as evidências humanas, animais e de laboratório, campos magnéticos ELF foram classificados como possivelmente carcinogênicos para humanos com base em estudos epidemiológicos de leucemia infantil.

Evidências para todos os outros tipos de câncer em crianças e adultos […] foram consideradas inadequadas para a mesma classificação devido a informações científicas insuficientes ou inconsistentes.” E em relação ao popular celular, emissor móvel de campos de altas frequências? “Diversos estudos epidemiológicos recentes com usuários de telefones móveis não encontraram evidência convincente de um aumento no risco de câncer do cérebro. No entanto, a tecnologia ainda é muito recente para que seja possível desconsiderar efeitos de longo prazo.”

Bem-vindo ao complexo mundo da epidemiologia e da comunicação de risco! E agora, atendo ou não atendo?

No caso das linhas de alta tensão, seus opositores argumentam que, face às incertezas, deveríamos usar o principio de precaução. Mas não é necessário optar entre banho frio e leucemia infantil. Há soluções que reduzem drasticamente a exposição aos campos eletromagnéticos, tal como enterrar as linhas de transmissão. De quebra, melhoraríamos a paisagem, que se veria livre dessas estruturas de alto valor pratico e de valor estético… hum, como dizer? … deixa pra lá.

Naturalmente, essa solução custa mais caro, mas é exatamente a opção que está sendo reivindicada à Eletropaulo por um bairro paulistano de classe média alta cruzado por uma importante linha de transmissão.

Uma pesquisa realizada em 2003 na França pelo Observatoire de l’Énergie concluiu que 62% da população estaria disposta a aceitar um ligeiro aumento do custo da energia elétrica para financiar a instalação de linhas subterrâneas, em substituição às familiares torres de metal que os temporais e os aviões fora de rumo teimam em derrubar, deixando milhões de pessoas sem energia, inclusive as vítimas da “possível carcinogenicidade” . Como num filme B.

Mas o tema foi objeto de debate público no senado francês em 2003 e, em 27 de junho de 2008, durante a Cúpula de Zaragoza, os governos de Espanha e França decidiram realizar uma conexão elétrica subterrânea em corrente contínua entre os dois países. Segundo as autoridades locais, a negociação relativa ao projeto “dará amplo espaço à expressão da população” e “se deterá sobre as opções de traçado e os aspectos ambientais e de saúde”.

No Brasil, o Projeto Internacional de Campos Eletromagnéticos, da OMS, tem como atores principais a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Telecomunicaçõ es (Anatel).

Pode apostar: você ainda vai ouvir sobre esse assunto. No celular, na TV, no rádio.

Fonte: http://ceticismo.net/2009/03/20/uma-linha-de-alta-tensao-sobre-sua-cabeca/

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