Ruído e Qualidade do Ar – Quercus https://quercus.pt Mon, 08 Mar 2021 16:07:55 +0000 pt-PT hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.5.2 https://quercus.pt/wp-content/uploads/2021/03/cropped-logotipo-quercus-svg-32x32.png Ruído e Qualidade do Ar – Quercus https://quercus.pt 32 32 https://quercus.pt/2021/03/08/14246/ Mon, 08 Mar 2021 16:07:55 +0000 https://quercus.pt/?p=14246 carropoluiçãoO estudo “The cost of air pollution: health impacts of road transport” foi recentemente publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), e dá a conhecer a dimensão dos custos associados com os efeitos sobre a saúde causados pela poluição atmosférica.

 

 

A poluição do ar exterior mata cerca de 3,5 milhões de pessoas por ano, ao nível global, e tornou-se um dos fatores ambientais que podem contribuir para o aumento das mortes prematuras, ultrapassando outros fatores como a falta de condições de salubridade e a carência de água potável. Na maioria dos 34 países da OCDE, as mortes causadas por doenças cardiorrespiratórias são muito superiores às mortes causadas pelos acidentes nas estradas.

 

Entre as principais conclusões deste estudo, destacam-se as seguintes:

 

– O número de mortes prematuras associadas com a poluição atmosférica (ar exterior) desceu 4% nos países da OCDE, entre 2005 e 2010. Cerca de 20 dos 34 países da OCDE realizaram progressos para baixar as estatísticas, enquanto 14 países não fizeram quaisquer progressos.

 

– O número de mortes prematuras causadas pela poluição do ar exterior na China aumentou 5% e na Índia cerca de 12% durante o mesmo período.

 

– Os custos para os sistemas nacionais de saúde associados com a poluição atmosférica nos países da OCDE (incluindo os custos associados com mortes prematuras e doenças) estimam-se em 1.7 biliões de dólares em 2010.

 

– Existem evidências que sugerem que o transporte rodoviário contribui cerca de 50% para os custos totais associados com a poluição atmosférica nos países da OCDE, ou seja, perto de 1 bilião de dólares em 2010.

 

– Na China, os custos associados com os impactes na saúde da poluição atmosférica rondam os 1,4 biliões de dólares em 2010, enquanto na Índia ascendem aos 0,5 biliões de dólares. Não existem dados suficientes para estimar a percentagem associada ao transporte rodoviário, mas este representa custos muitos elevados para estes países.

 

– Em Portugal, um dos países da OCDE analisados, ocorreram 3.842 mortes prematuras em 2010 devido à poluição atmosférica, com um custo associado de 9.603 milhões de dólares (um aumento face a 2005, quando se verificaram 3.645 mortes e custos da ordem dos 8.273 milhões de dólares). Em 2010, 50% dos custos estavam associados com a poluição atmosférica causada pelo transporte rodoviário.

 

O estudo da OCDE aponta algumas recomendações futuras:

 

– Fim dos incentivos para a aquisição de veículos automóveis movidos a gasóleo, em relação à gasolina.

 

– Manter e apertar os limites da legislação em vigor, em particular, dos regulamentos sobre as emissões dos veículos rodoviários existentes na UE. Tornar os ciclos de ensaios de emissões dos veículos mais próximos com as condições reais de funcionamento do veículo.

 

– Investir em programas mais ambiciosos para a mitigação da poluição atmosférica, incluindo o incentivo e a melhoria dos transportes públicos.

 

– Continuar a realizar investigação sobre o valor económico da mortalidade associada com a  poluição atmosférica e a correlação baseada em evidências científicas com o transporte rodoviário.

 

– Mitigar o impacto da poluição atmosférica sobre os grupos vulneráveis da população, como os jovens e os idosos.

 

O estudo está disponível aqui: www.oecd.org/environment/cost-of-air-pollution.htm

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Guia de boas práticas para zonas tranquilas menos expostas ao ruído | Abril 2014 https://quercus.pt/2021/03/08/guia-de-boas-praticas-para-zonas-tranquilas-menos-expostas-ao-ruido-abril-2014/ Mon, 08 Mar 2021 16:07:48 +0000 https://quercus.pt/?p=14245 ruidoA Agência Europeia do Ambiente publicou em abril de 2014 o seu quarto relatório técnico intitulado “Good practice guide on quiet areas”, um guia que evidencia boas práticas para a identificação e manutenção de zonas tranquilas e menos expostas ao ruído na Europa.

 

A poluição acústica é um problema cada vez mais preocupante na Europa. Os transportes e a indústria são as principais fontes de emissão de ruído, e a exposição a longo prazo pelas populações pode prejudicar a saúde humana e afetar os ecossistemas naturais. A legislação europeia tem como objetivo reduzir a poluição acústica e também destaca a necessidade de preservar as zonas mais tranquilas e menos afetadas pelo ruído. Estas zonas podem ser encontradas, não só em áreas rurais, mas também dentro das cidades mais movimentadas.

 

As zonas tranquilas não estão associadas apenas ao lazer, mas também podem  ser locais onde as pessoas vivem e trabalham. Como podem ser identificadas e preservadas as zonas tranquilas, a fim de proteger o ambiente, mas também a saúde e qualidade de vida das populações? Este relatório apresenta algumas das melhores práticas em toda a Europa para identificar e proteger ambientes urbanos com uma boa qualidade acústica.

 

 

O guia da AEA pode ser encontrado aqui:

http://www.eea.europa.eu/publications/good-practice-guide-on-quiet-areas

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Níveis de ruído no Metropolitano de Lisboa podem afetar saúde dos utentes https://quercus.pt/2021/03/08/niveis-de-ruido-no-metropolitano-de-lisboa-podem-afetar-saude-dos-utentes-2/ Mon, 08 Mar 2021 16:07:42 +0000 https://quercus.pt/?p=14244 Medições feitas pela Quercus com métodos expeditos revelamx



metroUm estudo realizado pela Quercus durante o segundo semestre de 2014, a partir da análise de um conjunto de medições feitas nas quatro linhas do Metropolitano de Lisboa, concluiu que a exposição ao ruído neste meio de transporte coletivo de elevada utilização pode trazer consequências para a saúde dos utentes.

Entre agosto e setembro de 2014, a Quercus procedeu a uma avaliação limitada do ruído no Metropolitano de Lisboa, de modo a averiguar os valores a que estão expostos diariamente os passageiros nos percursos das quatro linhas (Verde, Amarela, Vermelha e Azul).

Tendo por base os tempos de exposição recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela agência americana Environmental Protection Agency (EPA), verificou-se, para todos os percursos um nível médio de ruído superior a 80 dB(A). Este facto pode representar um fator de risco para a saúde dos passageiros (com particular incidência em alguns grupos de risco, como crianças e idosos), e também dos operadores do metropolitano. Fatores como o volume de tráfego, a manutenção e a qualidade acústica das infraestruturas e das carruagens ou ainda a amplificação do ruído por ser um canal confinado aumentam os impactes associados à exposição.

Metodologia utilizada

As medições foram realizadas através da aplicação NoiseTube para smartphones Android. De forma a garantir a fiabilidade da monitorização, foram feitas em alguns troços medições complementares com recurso a um sonómetro Brüel & Kjær 2260 Investigator calibrado e certificado, o que permitiu o controlo da qualidade dos valores medidos através do telemóvel, em linha com trabalhos científicos semelhantes realizados anteriormente. Foi feito um trabalho preliminar de medições em alguns troços, concluindo-se que não havia diferenças significativas entre valores de medições repetidas em iguais condições.

Neste sentido, pode-se afirmar que a metodologia utilizada foi rigorosa, havendo apenas um fator diferenciador que poderia ser relevante: a ocupação das carruagens. Assim, considerou-se que duas viagens em cada sentido e por cada linha do metropolitano, abrangendo um período de acalmia (10:00-12:00 e 14:30-16:30) e um período de hora de ponta (8:00-9:00 e 17:00-19:00) seriam suficientemente representativas. As medições foram efetuadas em contínuo ao longo de cada trajeto, tendo sido possível, através do registo dos tempos de paragem nas estações, analisar os resultados quer em termos globais, quer de forma detalhada.

Os troços mais ruidosos

A metodologia utilizada permitiu concluir que os troços mais sujeitos a elevados níveis sonoros foram Cais do Sodré–Rossio, Cidade Universitária–Entrecampos, Senhor Roubado–Ameixoeira, Chelas–Oriente, e Pontinha–Carnide, nos quais o valor ultrapassou na maioria dos casos os 85 dB(A). No troço mais recente da rede – entre as estações do Oriente e do Aeroporto – foram registados níveis sonoros médios superiores a 84 dB(A) em todas as medições.

A relação entre os níveis de ruído e o tempo de exposição foi estudado pelas agências americanas National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) e Occupational Safety and Health Administration (OSHA). A OMS e a EPA determinaram igualmente os tempos de exposição máximos de forma a salvaguardar a maioria dos indivíduos de qualquer perda auditiva.

tabela ruido metro lx
A ausência de legislação nacional e comunitária sobre os limites de ruído a que os utentes dos transportes coletivos deveriam estar expostos, nomeadamente no caso do metropolitano, confere uma falha relevante em termos de saúde pública e ocupacional.

Os efeitos na saúde

A partir dos 70-75 dB(A), o corpo humano começa a ter reações físicas ao ruído – sejam físicas, mentais ou emocionais. Uma exposição de média-longa duração a um ruído intenso pode potenciar problemas como zumbidos nos ouvidos, aumento da produção de adrenalina, contração dos vasos sanguíneos, aumento da pressão sanguínea e do ritmo cardíaco. As consequências imediatas traduzem-se em dificuldades na comunicação, concentração, fadiga e desconforto. No ruído ocupacional, os prejuízos para a audição aumentam em função da idade e do tempo de exposição. Verifica-se um risco ligeiramente maior para trabalhadores expostos a ruído entre os 80-84 dB do que abaixo dos 80 dB. No campo das alterações comportamentais, pode ocorrer cansaço, desejo de isolamento, redução do comportamento de ajuda e altruísmo, aumento da agressividade, irritabilidade e baixa tolerância à frustração.

Conclusões

•    Os níveis de ruído a que os passageiros do Metropolitano de Lisboa se encontram expostos não ultrapassam os limites recomendados pela NIOSH e OSHA.
•    Porém, em nenhuma das medições efetuadas o ruído no interior das carruagens cumpre o nível médio estabelecido de Leq. (1) de 75 dB(A) por percurso do New York City Noise Code.
•    A conjugação da exposição ao ruído dentro das carruagens de metro com a exposição ao ruído ambiente poderá representar um risco para a saúde numa cidade como Lisboa. Entre estações contínuas foram verificados vários troços em que os valores de ruído médio são superiores a 85 dB(A), refletindo um maior risco para quem circula com frequência nesses troços.
•    Na maioria dos troços das quatro linhas, os níveis de ruído são muito próximos, independentemente do sentido em que a carruagem circula. Este fator poderá indiciar uma elevada influência da infraestrutura do túnel nos níveis de ruído registados.
•    A idade das composições é um fator a não menosprezar, sendo que as mais recentes datam já do ano de 2000.

Recomendações – Medidas de controlo de ruído

•    Correta insonorização do habitáculo da carruagem;
•    Introdução de rodas com melhor capacidade de amortecimento (redução do ruído de circulação até 2 dB e do ruído de squeal em curvas apertadas entre 10 e 20 dB);
•    Adoção de sistemas de ventilação mais silenciosos;
•    Em futuras extensões da rede, minimizar o impacte da infraestrutura do túnel na propagação do ruído, pela variação da forma e a escolha de materiais que permitam uma maior absorção do ruído.
•    Acompanhamento e monitorização mais detalhados do ruído nesta infraestrutura de transporte coletivo, que, do ponto de vista ambiental, é das que merece maior prioridade face ao elevado número de passageiros transportados, rapidez e reduzidas emissões indiretas de poluentes associadas, questões a que devem também ser associadas garantias de saúde para os seus utentes.

Lisboa, 30 abril de 2015

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
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