A Central de Almaraz continua a revelar-se como um potencial perigo em especial para toda a região transfronteiriça dado que já ultrapassou o seu período normal de funcionamento e, não obstante, viu prolongado em 2010 o seu funcionamento por 10 anos e a seguir por mais 8 anos.A Quercus tem lutado há muitos anos com o Movimento Ibérico Antinuclear pelo encerramento desta central que constitui um perigo para Espanha e também para Portugal.
A Quercus acolhe com satisfação a notícia de que a empresa pública ENRESA, responsável pela gestão de resíduos radioativos, iniciou a 27 de Junho o processo de concurso para serviços de engenharia destinados ao desmantelamento da central nuclear de Almaraz, na província de Cáceres, junto ao Tejo, a cerca de 100 km da fronteira com Portugal. Verificou-se a contaminação radioativa dos sedimentos do rio Tejo em Portugal provenientes da central de Almaraz.
De acordo com o programa de operação e desmantelamento de instalações nucleares em Espanha, inserido no VII Plano Geral de Resíduos Radioativos, a data de cessação da exploração das Unidades I e II de Almaraz está fixada para novembro de 2027 e outubro de 2028, respetivamente.
Foram realizados pela União Europeia “stress tests” (testes de resistência) às centrais nucleares europeias, na sequência do acidente de Fukushima em 2011.
Nas provas de resistência realizadas às centrais nucleares espanholas não está contemplado o risco de agressões externas (atentado, queda de avião, …).
O risco sísmico está subavaliado pois:
- Só se analisou a resistência sísmica para sismos equivalentes aos que ocorreram entre 1970 e a atualidade. Assim não foi analisada a possibilidade de ocorrerem sismos com uma grande magnitude que atinjam com uma intensidade significativa a central, como foi o caso de sismo de 1755, ou o que teve o epicentro em Espanha em 1954, com magnitude de 7,9.
- Há a preocupação que ocorra um sismo que afete a barragem que contém a água de arrefecimento da central. A barragem de Alcântara, a jusante, de cuja albufeira se capta a água para arrefecimento, também pode ser afetada, e essa situação não foi contemplada.
Em relação aos trabalhadores das centrais nucleares espanholas têm sido feito queixas de que há subempreitadas de diversos trabalhos, para redução de custos mas isso tem implicações na segurança das instalações.
As autoridades regionais e locais convocaram uma sessão de esclarecimento em Campo Arañuelo, na noite de 29 de Junho, a favor da continuação do funcionamento da central, que contou com cerca de cinco centenas de pessoas.
A Quercus espera que seja feito um plano social para a reconversão profissional dos trabalhadores da central e que possam ser criados empregos verdes e dignos para todos.
Manifestação a 13 de Setembro de 2008, junto à central nuclear de Almaraz (foto: Nuno Sequeira)
O triste historial do Nuclear
Já em 1979 tinha existido um acidente grave na Central Nuclear de Three Miles Island, nos Estados Unidos da América, e mais recentemente, em 2011, outro grave acidente ocorreu, desta vez na Central Nuclear de Fukushima no Japão, tendo este sido também um dos mais severos da história do nuclear. Temos assim os três maiores acidentes nucleares da história (estes dois e o de Chernobil) em três dos países mais avançados nas tecnologias da indústria nuclear e é pois importante refletir sobre os problemas de segurança inerentes a este tipo de centrais. Para culminar toda esta história trágica que é a do nuclear, o Japão lançou em 2023 no Oceano Pacífico mais de um milhão de litros de água contaminada, oriunda do arrefecimento dos reactores acidentados. A China retaliou, proibindo a importação dos produtos marinhos oriundos do Japão.
A opção pela fissão nuclear é contrária ao princípio da precaução e põe em causa a norma ética da equidade transgeracional e da segurança nacional e transnacional, sendo que à luz dos atuais conhecimentos, esta opção não é uma solução energética aceitável devido aos seus gravíssimos impactes no ambiente e na saúde humana. É pois importante continuar a alertar para os riscos que esta forma de energia comporta, e para a urgência de nos indignarmos contra esta estranha forma de loucura que atingiu o ser humano. Para que Portugal e o mundo fiquem menos expostos aos perigos do nuclear.
De Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura em 2015 (“As vozes de Chernobyl” – Ed. Elsinore) transcrevemos: “A mesma terra, a mesma água, as mesmas árvores…no entanto…ao entardecer, vi os pastores a tentarem encaminhar o rebanho cansado para o rio, mas as vacas voltavam para trás, mal se abeiravam. De alguma forma apercebiam-se do perigo. Disseram-me também que os gatos deixaram de comer ratos mortos. A morte escondia-se em todo o lado, mas era uma morte diferente. Sob novas máscaras. Com um disfarce desconhecido.”
4 de julho de 2024