Hoje, dia 30 de Agosto, comemora-se o 35º aniversário da criação do Parque Natural de Montesinho. A Quercus, à semelhança do que tem feito para outras Áreas Protegidas faz uma retrospetiva do que foi feito de positivo e negativo neste Parque Natural e cria cenários com base na identificação de ameaças e de oportunidades.
O Parque Natural de Montesinho (PNM) foi criado em 1979, tendo em vista a preservação e conservação da riqueza natural e paisagística do maciço montanhoso de Montesinho – Coroa e dos terrenos adjacentes, abrangendo parte dos concelhos de Bragança e Vinhais. A posição geográfica do sistema montanhoso, a amplitude das altitudes atingidas, a variedade geológica e geomorfológica e a atividade humana desenvolvida ao longo de séculos, são fatores que promoveram uma extraordinária diversidade de comunidades vegetais e espécies da flora e da fauna. O bom estado de conservação dos ecossistemas e a extensão do Parque dão garantias de manutenção de populações viáveis de algumas espécies ameaçadas da flora e da fauna. O Lobo-ibérico possui aqui algumas alcateias, albergando cerca de 15% do efectivo populacional.
Devido às suas características, o Parque Natural de Montesinho foi inserido na Rede Natura 2000 através da criação do Sítio de Importância Comunitária e da Zona de Proteção Especial para Aves Selvagens “Montesinho – Nogueira”.
Contudo, nesta área protegida são diversos os factores que colocam em causa os objectivos propostos aquando da sua criação, sendo exemplo disso os impactes provocados pelas actividades humanas, nomeadamente, a implementação injustificada de infraestruturas como barragens – sendo o exemplo de Veiguinhas algo que não poderá repetir-se – e vias de comunicação, a exploração descontrolada e ilegal das massas minerais (rochas ornamentais e rocha rústicas) e a exploração inadequada dos recursos florestais com o corte e destruição dos bosques autóctones e da vegetação ribeirinha. Verifica-se ainda o abandono de práticas agro-pecuárias tradicionais que beneficiam a manutenção de espécies/habitats relevantes, a recorrência de incêndios, a instalação de monoculturas de espécies de crescimento rápido, lixeiras clandestinas e construções de edifícios visualmente dissonantes das habitações tradicionais e a ausência de gestão e monitorização dos cursos de água e das comunidades naturais associadas. O PNM é ainda afectado por vários factores de ameaça como a florestação de áreas naturais com resinosas e espécies exóticas em detrimento da promoção da regeneração natural, a introdução de espécies aquícolas exóticas, a elevada pressão cinegética e turística e também a crescente procura por este local para a prática de deportos motorizados.
Neste contexto, a Quercus volta a reiterar a necessidade de se aplicar medidas de gestão direccionadas para a preservação e recuperação dos valores naturais, tendo em conta a conservação dos habitats e espécies que ocorrem neste espaço natural. Posto isto, é urgente condicionar a construção de infraestruturas como barragens, parques eólicos e a expansão dos aglomerados urbanos, a introdução de espécies exóticas e a exploração de recursos mineiros. É importante criar um programa de conservação de recursos hídricos que inclua a recuperação da vegetação ripícola e o ordenamento e gestão dos recursos aquícolas, bem como um programa dirigido de incentivos às práticas agrícolas e silvícolas tradicionais que promovam a recuperação dos bosques autóctones e a pecuária extensiva. Por fim, a Quercus considera indispensável que, para além da monitorização e vigilância das serras de Montesinho e Coroa em períodos de elevado risco de incêndio, deverão ser estruturadas e bem definidas acções de controle selectivo mecânico da vegetação arbustiva complementado por pastoreio.
Para avaliar a Área Protegida foi elaborado um quadro, que é colocado em baixo, com base numa análise que apresenta o diagnóstico (Forças e Fraquezas) e o prognóstico (Oportunidades e Ameaças).
Forças |
Fraquezas |
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Diagnóstico | · Integra a Rede Natura 2000 – Zona de Protecção Especial “Montesinho – Nogueira”;
· Integra a Rede Natura 2000 – Sítio de Importância Comunitária “Montesinho – Nogueira”; · Apresenta elevada diversidade florística, possuído cerca de 35% da flora Portuguesa; · Destaca-se a presença de espécies da flora rara como Viola hirta, a Arabis glabra, a Corydalis cava ssp.cava, a Centaurea triumfetti ssp. lingulata, a Lathyrus pratensis ou Lilium martagon; · Elevado interesse faunístico, com a presença de espécies com elevado valor para a conservação como o Lobo-ibérico, o mexilhão-de-rio-do-Norte, o Pisco-de-peito-azul, O Melro-de-água e a Petinha-dos-campos. · |
· Construção de barragens;
· Implantação de parques eólicos e de vias de comunicação; · Exploração descontrolada e ilegal das massas minerais; · Abandono de práticas agrícolas, pecuárias e silvícolas tradicionais; · Incremento da utilização de substâncias químicas na agricultura; · Introdução de espécies aquícolas e florísticas exóticas; · Plantação de monoculturas de espécies exóticas de crescimento rápido; · Florestação com resinosas; · Corte de bosques autóctones; · Destruição da vegetação ribeirinha; · Verifica-se a construção de edifícios em dissonância visual com as habitações tradicionais; · Abandono ilegal de resíduos; · Ausência de gestão e monitorização dos cursos de água e comunidades naturais associadas. |
Prognóstico | · Promoção activa do Turismo de natureza, com dinamização do alojamento e da prática de desportos de natureza;
· Criação de novas rotas e trilhos pedestres devidamente sinalizados e delimitados; · Aposta na agricultura biológica; · Criação de um programa de recuperação da floresta autóctone assente na promoção da regeneração natural; · Condicionamento da plantação de espécies exóticas; · Criação de um programa de recuperação de vegetação ribeirinha autóctone e de manutenção dos lameiros de montanha; · Condicionamento à aconstrução de infraestruturas; · Aposta na valorização e promoção de todo património natural nas vertentes lúdica, cultural e científica; · Adopção de medidas preventivas contra incêndios florestais associadas à promoção do pastoreio extensivo dirigido; · Aposta na certificação de produtos de qualidade. |
· Pressão cinegética;
· Utilização de métodos ilegais de pesca; · Expansão dos aglomerados urbanos; · Construção de infra-estruturas; · Pressão turística; · Prática desordenada de desportos motorizados; · Abandono de atividades tradicionais; · Elevado risco de incêndio; · Contaminação de águas superficiais e subterrâneas com agro-químicos usados na agricultura; · Florestação de áreas naturais com resinosas e espécies exóticas em detrimento da regeneração natural; · Exploração de minérios; · Construção de mais barragens e implantação de mais parques eólicos.
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Oportunidades |
Ameaças |
Lisboa, 30 de Agosto de 2014
A Direcção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
A Direcção do Núcleo Regional de Bragança da Quercus