Foi recentemente introduzida uma nova espécie de inseto exótico com origem na Tasmânia (Austrália) para tentar combater uma praga dos eucaliptais – o Gorgulho do eucalipto. Devido ao facto desta espécie de vespa ser nova no continente europeu, o conhecimento científico sobre a mesma é escasso e não se conhecem estudos nem relatórios de monitorização divulgados publicamente, que comprovem não existir risco para outros organismos e ecossistemas.
O Gorgulho do eucalipto (Gonipterus platensis) é um inseto desfolhador que constitui uma praga e afeta todas as espécies do género Eucalyptus em Portugal.
No Plano Nacional de Ação para Controlo das populações do gorgulho do eucalipto (ICNF), estão previstas várias ações, incluindo o estudo e avaliação de métodos de luta biológica, em alternativa à utilização de métodos químicos, que permitam um controlo das densidades populacionais deste inseto, nomeadamente pelo uso de parasitóides.
A Quercus tem informação de que a Direção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV) deu autorização para libertação de um novo inseto, parasitóide do gorgulho do eucalipto – a pequena vespa (Anaphes inexpectatus) – a empresas de celulose do grupo Portucel Soporcel e Altri Florestal.
Segundo a DGAV, estas autorizações foram concedidas para uso confinado e largadas em pequena escala, e tiveram como base recomendações e normas (OEPP), assim como pareceres favoráveis sobre os estudos apresentados. Contudo, a DGAV não esclarece o teor dos pareceres favoráveis, nem os estudos apresentados pelas próprias empresas, mesmo após solicitação da Quercus relativa à avaliação de impactes e à monitorização científica.
Existe informação de que foram já efetuadas pelo menos 3 largadas dos insetos parasitóides em 2012 e 2013 em dois locais nos concelhos de Penela e Arouca.
O instituto RAIZ do grupo Portucel Soporcel e a Altri Florestal assumem ter testado vários parasitóides provenientes da Tasmânia (Austrália) entre 2009 e 2012, mas apenas foi selecionado para estudos de eficácia e especificidade o inseto Anaphes inexpectatus.
A Quercus considera inaceitável a introdução de espécies exóticas em território nacional, tanto mais que grande parte das experiências de introdução de espécies exóticas tem corrido mal por todo o mundo, sendo vulgar as espécies introduzidas adquirirem um caráter invasor, com consequências negativas do ponto de vista económico e ambiental.
A propagação das Espécies Exóticas e Invasoras é uma das principais causas da perda de biodiversidade e de degradação dos serviços de ecossistemas em toda a UE e no mundo. Só na União Europeia, o custo económico das Espécies Exóticas e Invasoras é estimado em pelo menos doze mil milhões de euros por ano (12.000.000.000 € / ano).
Em Portugal, os prejuízos causados por espécies exóticas são bem conhecidos, como por exemplo os causados pela vespa asiática que afeta o sector da apicultura.
A Quercus considera que os estudos efetuados pelas empresas de celulose não foram suficientemente escrutinados pela comunidade cientifica, pelo que considera que a informação recolhida e os resultados da monitorização devem ser divulgados publicamente e com brevidade.
Deste modo, a Quercus apela ao Governo, através do Ministério da Agricultura, e ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas – organismo com a tutela da Conservação da Natureza – que ordene a suspensão imediata da introdução em Portugal do inseto exótico Anaphes inexpectatus.
Lisboa, 20 de junho de 2014
A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza