Quercus contra supressão de transportes nocturnos em Lisboa

Decorrente da recente apresentação do Plano Estratégico de Transportes (PET) têm vindo a ser divulgadas medidas relativas aos transportes publicos que, a concretizar-se, terão graves implicações na qualidade de vida de milhares de pessoas e no ambiente, na região de Lisboa.

Das medidas apresentadas salientam-se: a possibilidade do encerramento do Metropolitano de Lisboa mais cedo à noite – nomeadamente a Linha Azul, entre o Colégio Militar e a Amadora e a Linha Amarela, entre o Campo Grande e Odivelas, neste caso podendo mesmo ser efectuado às 21h; no que concerne à Carris, a supressão das carreiras nocturnas e das carreiras que têm sobreposição ao Metropolitano de Lisboa, no eixo composto pela Avenida da Liberdade e Avenida Fontes Pereira de Melo; e nova redução dos horários nocturnos dos comboios das linhas de Cascais, Sintra e Azambuja.

Estas medidas constituem um claro incentivo à utilização do transporte privado, com todas as consequências ambientais negativas associadas – poluição atmosférica, sonora, degradação do espaço público, redução da eficiência energética e aumento dos problemas associados à mobilidade, para além da nítida diminuição da qualidade de vida da população.

A Quercus contesta e alerta

A Quercus vem deste modo reforçar a onda de contestação a estas medidas – já repudiadas por diversas entidades ligadas aos transportes na capital, nomeadamente Comissões de Utentes, bem como a própria Câmara Municipal de Lisboa – vendo-a como um retrocesso na política metropolitana de transportes, especialmente quando já haviam sido anunciadas medidas de reforço do serviço nocturno da Transtejo/Soflusa, Carris e CP, em iniciativa do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Ministério da Administração Interna e Câmara Municipal de Lisboa, com vista a proporcionar uma melhor solução de mobilidade em horários nocturnos carenciados.

A Quercus vê como necessário que as autarquias afectadas por estas medidas sejam ouvidas, no âmbito da Autoridade Metropolitana de Transportes (AMT), sendo que estas deverão ter, no geral, uma maior capacidade de envolvimento nos processos de planeamento e sobretudo de decisão, junto das operadoras, neste que é um sector estratégico para o Desenvolvimento Sustentável das cidades. Esperamos que a AMT tenha um papel activo nesta questão, com uma política de maior promoção da utilização do transporte público e promovendo a intermodalidade.

De um ponto de vista económico, a supressão de uma larga maioria dos transportes nocturnos em Lisboa vai contra todo o bom senso numa cidade que se pretende faça parte do turismo de excelência na Europa. Os efeitos negativos globais ao nível económico podem ultrapassar largamente os efeitos de poupança imediata que estas medidas pretendem alcançar.

A conjugação da aplicação destas medidas de supressão de transportes e do aumento do preço dos mesmos, vai contra o que a Quercus tem vindo a defender, nomeadamente uma política eficaz de mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa, que previlegie os transportes colectivos e o direito à mobilidade dos cidadãos. Os transportes colectivos devem constituir uma opção viável e preferencial para toda a população e devem ter prioridade no interior das cidades, Lisboa em particular, e entre as principais localidades da sua Área Metropolitana.

Lisboa, 31 de Outubro de 2011

A Direcção do Núcleo Regional de Lisboa da
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza