A Quercus juntou-se a milhares de outras organizações para, em 2012, assinalar, pela quadragésima segunda vez, o Dia da Terra. Infelizmente, mais de quatro décadas passadas desde o momento em que se designou internacionalmente um dia para celebrar o Planeta Terra, o caminho percorrido não tem ido no bom sentido e a nossa capacidade de conhecer e respeitar os limites da sustentabilidade do Planeta não tem progredido.
Casos de más práticas nacionais e opções de futuro
Em Portugal, muitos dos projetos desenvolvidos nos últimos anos são insustentáveis tanto do ponto de vista financeiro como, sobretudo, ambiental: entre inúmeros maus exemplos, avultam a construção de estradas atravessando áreas ecológicas sensíveis e que estimulam o uso do automóvel com a consequente poluição; a construção de barragens com um rendimento muito limitado mas que destruíram património natural único; ou, ainda, a implantação de urbanizações e empreendimentos em zonas de solos produtivos ou ecologicamente relevantes, como áreas da Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional ou Rede Natura 2000.
Num cenário de crise económica nacional e internacional, que tem acabado por relegar as questões ambientais para segundo plano, é importante não esquecer que continuamos a viver uma crise ambiental, com problemas tão graves como o aquecimento global, a perda de biodiversidade, o crescimento exponencial da população humana ou a massificação dos padrões de consumo. Ignorar estes problemas que têm reflexos diretos do ponto de vista ambiental, mas também do ponto de vista social e económico, e adiar decisões que necessitam de ser tomadas urgentemente, não irá resolver as questões, mas agravá-las futuramente, com as inerentes consequências nocivas para todo o planeta e, naturalmente, para a espécie humana também.
À escala nacional e planetária, o paradigma dominante tem sido o de estimular a produção e o consumo descontrolados, escamoteando que os recursos naturais, que estão na base de toda a economia, são finitos e escassos, e os consumos energéticos devem ser necessariamente limitados. De modo a que se caminhe para uma economia mais sustentável, o futuro deverá passar pela atribuição do valor real às externalidades associadas (como os impactes ambientais dos seus produtos e serviços e o benefício dos serviços prestados pelos ecossistemas naturais), a valorização das boas práticas ambientais pelas empresas e a preferência dos consumidores por bens e serviços com menores impactes ambientais e maior valor acrescentado.
O contributo de cada um de nós
No dia dedicado ao Planeta Terra, não será de mais recordar que todos podemos e devemos ser agentes de mudança e promotores de um desenvolvimento sustentável, nos diversos contextos da nossa vida. Abdicar desse papel equivalerá a contribuir diretamente para a manutenção da atual situação de desequilíbrio. E este é um cenário em que todos perdem, logo, a evitar a todo o custo.
Aqui deixamos algumas propostas:
– Reduzir o consumo de carne proveniente da produção intensiva e preferir alimentos de origem vegetal (frutas, legumes, cereais e leguminosas);
– Preferir alimentos produzidos em modo de produção biológico;
– Não adquirir animais ou produtos de animais em vias de extinção;
– Plantar espécies autóctones;
– Poupar água;
– Reduzir o consumo de energia;
– Pensar bem antes de comprar um qualquer bem ou serviço (refletir sobre a sua necessidade, utilidade e impacto em termos de sustentabilidade/gasto de recursos, poluição e impacto no fim da vida, condições sociais em que foi produzido);
– Preferir produtos nacionais;
– Andar a pé, de bicicleta e de transportes colectivos;
– Respeitar os mesmos princípios em qualquer contexto: trabalho, escola, férias, etc.
– Exigir que os nossos representantes políticos assumam políticas que promovam a sustentabilidade;
– Exigir que as empresas disponibilizem produtos e serviços mais sustentáveis e que o comprovem através de certificações independentes.
A caminho da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20
Vinte anos após a primeira Cimeira da Terra – Rio 92, Governos, instituições internacionais, ONG e sociedade civil de todo o Mundo irão participar na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS ou “Rio+20”), em que o foco central será a transição para uma economia verde global, no contexto da erradicação da pobreza, e a governança para um desenvolvimento sustentável.
Na semana em que se comemora o Dia da Terra, a Quercus e a Rede Lusófona para o RIO +20, em parceria com a C.M. Gaia, apresentaram a campanha internacional intitulada “O que nos une a todos”, enquadrada no âmbito da realização da Conferência Rio+ 20, que decorre no Rio de Janeiro, Brasil, de 20 a 22 de junho deste ano. A campanha “O que nos une a todos” vai consistir numa série de ações a realizar ao longo dos próximos dois meses, como o lançamento de uma música com o mesmo título, de um videoclip, a organização de conferências e o lançamento da iniciativa “5 Saídas Para a Crise”.
Lisboa, 21 de abril de 2012
A Direção Nacional da
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza