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Impacte das barragens do Tâmega e do Tua no desaparecimento do areal nas praias não foi avaliado

A erosão costeira que se faz sentir atualmente no litoral português tem inúmeras causas e, embora algumas sejam naturais, a maioria é de origem antropogénica. O aumento do nível médio do mar devido às alterações do clima, a diminuição do abastecimento de sedimentos e a degradação de estruturas naturais junto às zonas costeiras contribuem para os efeitos de erosão costeira que se tem feito sentir nas últimas décadas.

 

A diminuição do abastecimento de sedimentos está exclusivamente relacionada com as atividades que o Homem tem vindo a desenvolver a montante do litoral do país. Pode-se dizer que, à medida que os efeitos no ambiente aumentam, diminui inversamente a quantidade de areias que por via fluvial deveriam deslocar-se para a costa litoral.

 

Segundo estudos elaborados desde o século passado [p. ex. Alveirinho Dias (1993)], são muitas as atividades humanas localizadas, quer no interior quer em zonas ribeirinhas, que contribuem para esta diminuição no abastecimento de sedimentos ao litoral. A título exemplificativo, referem-se os aproveitamentos hidroelétricos, as obras de regularização dos cursos de água, as explorações de inertes nos rios e nas zonas estuarinas, nos sistemas dunares e nas praias, as dragagens, as obras portuárias e muitas das obras de engenharia costeira. Estas atividades iniciam-se e desenvolvem-se sistematicamente sem se efetuarem avaliações dos impactes que induzem no litoral e, obviamente, sem preocupações de monitorização e contenção desses mesmos impactes.

 

Da mesma forma, a construção das barragens previstas no Plano Nacional de Barragens não previu nos seus estudos o impacto no transporte de sedimentos para o litoral.

 

As principais praias onde o risco de erosão tem vindo a aumentar situam-se a Norte, da zona do Porto ao Cabo do Mondego; e no Algarve, do Ancão a Vila Real de Santo António (Ria Formosa), segundo avaliação feita por Filipe Duarte Santos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. [1]

 

A título de exemplo, a praia do Furadouro, em Ovar, perde por ano nove metros de areal; a praia de Cortegaça, também em Ovar, perde três metros por ano e a praia da Costa Nova, em Aveiro, perde igualmente oito metros de areal todos os anos. [2]

 

Com a aproximação da presente época balnear, a resposta dada pelo Governo – tanto o atual, como os anteriores – limitou-se à reposição de areias nas praias, gastando milhões de euros numa solução que por si só é efémera, ao invés de enfrentar o problema de fundo. Só este ano, os responsáveis políticos da área do ambiente já anunciaram uma despesa de 106 milhões de euros para a proteção do litoral.

 

Se o problema não for atacado pela raiz, e se não forem travadas as construções das barragens como a do Tua e a do Tâmega, em apenas uma década o valor gasto na minimização da erosão do litoral ultrapassará de longe os valores das indemnizações a pagar pela não construção das mesmas barragens.

 

Mais grave ainda, o Governo não está a contabilizar as perdas no turismo e comércio das economias locais de certos municípios como por exemplo Ovar, Mira, Figueira da Foz e Cascais.

 

A QUERCUS apela aos autarcas e cidadãos dos municípios afetados pelo desaparecimento da areia nas praias que façam pressão sobre o Governo de Portugal e exijam o cancelamento imediato da construção das barragens dos Rios Tua e Tâmega, já que o turismo balnear é gerador de um incremento económico anual de grande relevância local que não pode ser destruído ao sabor dos interesses das empresas produtoras de energia como a EDP e a IBERDROLA.

 

Em recentes declarações à Lusa o professor Adriano Bordalo e Sá, do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, referiu que “o rio Douro tem na sua bacia hidrográfica em Portugal e em Espanha mais de 50 barragens. Há 60 anos estima-se que a quantidade de areia transportada era na ordem dos dois milhões de toneladas por ano e agora, 60 anos depois, com mais de 50 grandes barragens, o caudal sólido está reduzido a 250 mil toneladas. Falta-nos areia vinda de terra para o mar“, acrescentou, explicando que que as barragens “interrompem o caudal natural da água, mas também dos sedimentos” e que, “ao contrário do que tentam vender, a hidroeletricidade não é verde“. [3]

 

Lisboa, 1 de agosto de 2013

 

A Direção Nacional da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza

 

 


Fontes:
Dias, A. (1993). Estudo de Avaliação da Situação Ambiental e Proposta de Medidas de Salvaguarda para a Faixa Costeira Portuguesa (Geologia Costeira).

 

 

[1] http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=D0ACF7BE-6A43-4A87-A1AE-5DDAA8B424C0&channelid=00000010-0000-0000-0000-000000000010

[2] http://www.publico.pt/sociedade/noticia/praias-tem-cada-vez-menos-areia-e-a-culpa-e-das-barragens-diz-especialista-1594185

[3] http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3214992&page=-1